PESQUISAS ELEITORAIS
Luiz Naue (*)
Há poucas semanas, ao avaliar a queda/estagnação da candidatura Lula à Presidência da República, identificada por pesquisas de opinião, a cúpula do Partido dos Trabalhadores considerou o índice de intenções de voto "dentro do esperado". A aposta no crescimento ? sugerem os dirigentes do Partido ? deve ocorrer a partir do momento em que entrar o horário eleitoral gratuito em rede nacional de rádio e televisão. Aparentemente, normal e até aceitável. Desde que não se pense mais no assunto.
A estratégia petista indica bem algumas opções da direção partidária, cada vez mais visível e contraditória em termos políticos: a busca (por vezes, desesperada) em formalizar alianças eleitorais, independentemente de princípios e compromissos históricos assumidos pelos setores envolvidos, e o olhar indiferente a situações estranhas praticadas por dirigentes do partido (prefeitos "promovendo" parentes em cargos comissionados, parlamentares votando pela abertura da mídia brasileira ao capital privado internacional, entre outros exemplos).
O indício mais crítico, entretanto, parece estar na aposta que a direção nacional do PT estaria fazendo na ação da mídia. A sugestão de que a candidatura petista deve crescer tão logo entre em cena o horário oficial de propaganda política indica que o Partido já não aposta tanto naquela militância que, ao longo de 20 anos, deu o sangue, o trabalho e, em alguns casos, a própria vida na defesa de um projeto que mudaria o Brasil. Agora, ao que tudo indica, pela carta branca dada aos publicitários que gostam de eleições porque ganham dinheiro, o PT prefere acreditar no marketing eleitoreiro.
Era da mesmoce
Já não se questionam nem mesmo os critérios técnicos e metodológicos das pesquisas de opinião pública. Ao contrário, buscam-se, quando muito, as velhas explicações estruturais de jogos discursivos para tentar manter as expectativas com as intenções de voto.
Em vez de uma análise crítica dos métodos políticos, a velha esquerda (quase direita, por determinados comportamentos) prefere "correr por fora" em busca de alianças, esquecendo que alguns desses virtuais aliados já foram co-responsáveis por campanhas antipetistas lançadas em emergentes palcos de uma certa religiosidade oportunista. Mas fatos como esses ? quem diria ? não parece ser bom lembrar! Dizem, até, que posturas de oposição em nada contribuem para a tão esperada era da "governabilidade".
Tenham mais cuidado, senhores! Como se observa na história humana, o desencanto, a frustração e o esvaziamento de um projeto político, geralmente, tem um preço… que não tem data e nem mesmo previsão certa para ser pago. A dificuldade em envolver a militância nos momentos estratégicos de uma campanha política, colocando em risco negociatas de bastidores ajustadas por burocratas, vendilhões de templo e aliados similares pode ser apenas uma pequena conseqüência dessa opção. A fatura pode ainda vir depois das eleições de outubro.
Aliás, é bem possível que as sondagens eleitorais já não estejam mais tão distantes dessa realidade que, de fato, representa a política partidária brasileira. A era da mesmice, enfim, lança o desafio de alternativas, que já não passam pelos partidos em cena. Não por acaso, alguns parlamentares de esquerda ? que ainda "sobrevivem" dos votos de movimentos sociais ? expressam um certo desconforto em ir às ruas, participar de passeatas ou mesmo defender a sociedade civil livre e democraticamente organizada.
(*) Artista plástico e poeta catarinense