Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Lula é pop

SUPERCOBERTURA

Sérgio Salustiano (*)

Quem poderia imaginar que chegaria o dia em que um presidente eleito se tornaria um ídolo pop do povo? Principalmente sendo de esquerda, ex-retirante e sem diploma universitário. São fatos que, pelo grande destaque dado pela mídia, mostraram-se fatores primordiais para a massificante cobertura do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.

Ainda é cedo para concluir quando a transformação de Lula em ídolo pop teve início, pois é prudente esperar os estudos científicos que com certeza serão sacralizados. O mais provável é que tenha sido no decorrer do domingo, 27/10, durante a cobertura da votação, quando ele já era apontado como o grande vencedor do pleito.

Interessante é que ao longo da apuração Lula foi várias vezes comparado ao ex-presidente americano Ronald Reagan (ator que se tornou presidente com uma das maiores votações da história americana), o que provavelmente estabelece um marco nessa transformação de Lula em ídolo pop. Não que o petista tivesse sido ator: a analogia é que ambos vinham de mundos até então atípicos na esfera de poder.

Ao acordar, beliscões

Desta forma, a ufanização de Lula pela mídia abusou do carisma do novo presidente como homem público, retirante de infância e vida difícil ? mostrando o que o próprio presidente eleito fez durante toda a campanha: a construção e a exploração da imagem de homem do povo eleito para salvar o povo. Esta exposição maciça incluiu entrevista ao vivo ao Fantástico no domingo. No dia seguinte, todas as emissoras, em busca de audiência, exibiram especiais sobre sua vida. Culminou com sua participação, ao vivo, no Jornal Nacional, fato inédito na televisão brasileira. Durante uma hora e 15 minutos, Lula, presidente eleito do Brasil, viu-se no melhor estilo Esta é a sua vida.

Muitos dirão que a imprensa buscou apenas mostrar quem é o presidente eleito. Mas, se tivermos um pouco de senso crítico e analisarmos como tem sido a construção dos ídolos populares, veremos que não elegemos apenas um presidente, e sim elevamos mais um homem do povo ao patamar de astro pop.

Em 28/10, revistas, jornais, emissoras de rádio e televisão e, especialmente os programas dedicados àqueles que procuram seus 15 minutos de fama, deram destaque ao ex-retirante que chegou ao Planalto. Apareceram inclusive reportagens especiais com as tendências da moda com a chegada da esquerda e de um homem do povo ao poder. E essa exposição não se limitou aos primeiros dias. Durante toda a semana Lula foi acompanhado incessantemente por fotógrafos e cinegrafistas, ávidos por um novo ângulo ou uma situação inusitada do novo presidente.

Agora, a vida de Lula é um reality show: onde ele aparece as câmeras estão lá. Sob o ponto de vista teórico, poderíamos citar Edgar Morin: mais um olimpiano foi criado pela indústria cultural. Na quinta-feira, 31/10, em nova aparição ao vivo, Lula confessou ao apresentador Luís Datena, do Cidade Alerta, que todos os dias se belisca ao acordar, e só acredita que é o novo presidente quando ouve as crianças da escola em frente a seu prédio cantando "Lula! Cadê você! Eu vim aqui só para te ver!". Confissão que torna qualquer comentário sobre sua ascensão a astro pop irrelevante.

(*) Jornalista