Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Luís Nassif

MÍDIA & ELEIÇÕES

"Os presidenciáveis e a mídia", copyright Folha de S. Paulo, 31/10/01

"Não se trata bem de desafio do próximo governo porque, no fundo, é desafio do país. Nas modernas sociedades de massa, a mídia adquiriu um poder superior ao de muitos poderes formais constituídos. Ao definir a manchete, a chamada, o enfoque, a mídia determina aquilo que ela considera relevante. A disputa pela audiência, ou mesmo o embricamento com outros interesses econômicos de grupos de mídia, acaba lhes conferindo um poder extraordinário. Típica dessa situação é a ditadura da primeira versão, que tem seguidamente vitimado pessoas e a própria notícia em coberturas de maior impacto.

A única maneira de conter esse poder absoluto é estimular o pluralismo. E pluralismo significa competição, não apenas em nível nacional como no regional.

A concentração da mídia tem levado a inúmeros desequilíbrios no país, o principal dos quais é o abandono dos temas regionais. Além disso, a falta de um ambiente competitivo adequado distorceu amplamente o conceito de relevância na mídia. A competição entre os diversos veículos da chamada grande imprensa e limitada.

No plano maior, existe o poder massacrante das Organizações Globo -entrando pesadamente em todas as mídias e regiões, escudada no formidável poder da sua televisão.
Depois existem os grupos que atuam em outras mídias nacionais, com posição relevante em seu segmento, mas sem poder de fogo para contrabalançar o poder da Globo. Com a ameaça da Globo, e sem espaço para traçar estratégias mais ousadas, cada veículo quer preservar o espaço que conquistou -de liderança ou vice-liderança em seu segmento-, o que induz a um ambiente que inibe qualquer ousadia e tentativa de inovação.

No âmbito regional existe uma mídia bem mais fraca, com poucos exemplos de sucesso local. Os canais de televisão dependem basicamente das redes nacionais, os jornais dependem dos anunciantes locais e, especialmente, dos governos locais, e as rádios ainda são ferramentas eleitorais.

Os desafios a ser removidos são enormes. Um deles -que tem sido amplamente discutido nas últimas semanas- é a questão do monopólio do conteúdo e do poder conferido a grupos que detêm várias mídias. Caso típico é o monopólio das transmissões esportivas. Com seu poder de fogo, a TV Globo adquiriu todas as transmissões e rateia os custos entre a TV aberta e as TVs por assinatura. É evidente que mata qualquer possibilidade de competição nesse campo.

Outro exemplo recente foi a contratação das principais atrações de seus concorrentes -que acabaram ficando meses e meses na geladeira simplesmente porque não cabiam na grade de programação.

TV e rede Globo

Como se contorna esse poder? Uma maneira seria proibir o acúmulo de mídias nas mãos de um único grupo. Mas o modelo Globo se finca em uma ampla rede de emissoras afiliadas -uma estratégia brilhante, copiada anos atrás dos Associados. Nesse momento, todos os afiliados estão sendo estimulados a adquirir rádios e jornais em suas respectivas áreas de atuação. Não há espaço para nenhum grupo independente porque as afiliadas já recebem uma programação nacional de graça. Com recursos locais, que grupo regional conseguiria enfrentar um concorrente que vem em cima dos tanques de guerra de uma das melhores programações do planeta? Portanto, para efeito de análise de concentração, há que ver a Globo como rede.

Mas não é o único problema. Na TV, as emissoras concorrentes não possuem estrutura de gestão, capital e abrangência para competir com a Globo. Inibir a Globo de um lado, sem abrir possibilidades de renovação do outro, poderá significar perda de qualidade e premiação da ineficiência.

Aí entra a questão do capital estrangeiro, as maneiras como deverá ingressar no Brasil. Se não forem removidas outras barreiras de entrada, ele entrará exclusivamente pelas mãos dos atuais grupos de mídia, com flagrante prejuízo da capacidade de inovação e renovação do setor. Há que privilegiar a produção nacional independente, levar a sério a questão do conteúdo regional entre outros temas e repensar o papel das agências de publicidade.

Em geral, elas são ?bonificadas? pela quantidade de verbas que despejam nos principais veículos. A bonificação é da agência, não do cliente, fazendo com que as campanhas de mídia privilegiem exclusivamente a grande mídia -em detrimento da mídia regional e de novas formas de mídia.

Enfim, há um quadro complexo pela frente, a ser enfrentado pelo país. Trata-se de peça central para a construção de um país mais democrático e federativo."

 

"PSDB em pé de guerra por causa da TV", copyright O Globo, 3/11/01

"O comando nacional do PSDB está em pé de guerra. A ala serrista não aceitar a decisão do presidente do partido, José Aníbal (SP), de concentrar as inserções do programa eleitoral na aparição de três pré-candidatos à Presidência: os ministros José Serra (Saúde), Paulo Renato Souza (Educação) e o governador Tasso Jereissati. O próprio Serra se recusa a participar do programa nesses termos.

Já o secretário-geral do PSDB, Márcio Fortes (RJ), oficialmente responsável pela produção dos programas, garante que os três estão fora da propaganda eleitoral.

? Eles não vão participar. Não sou eu nem Zé Aníbal quem manda no partido, mas a executiva. Não vamos personalizar essa rodada de programas. É decisão da executiva, referendada numa reunião no Alvorada ? reagiu Fortes, um dia depois de Tasso ter dito que Aníbal manda no PSDB.

Assunto não foi discutido formalmente, diz Aníbal

José Aníbal respondeu no mesmo tom:

? Márcio Fortes não tem autoridade para falar sobre isso pois o assunto sequer foi discutido formalmente na executiva.

Aníbal criticou os que espalharam a informação de que ele decidiu exibir os três no programa a pedido de Tasso. Segundo ele, a idéia nasceu domingo passado, em Paris, de onde telefonou para Serra, Tasso e Paulo Renato. Os três teriam concordado. Mas a equipe de Serra tem se negado a conversar com o roteirista encarregado de sua participação nos programas.

Márcio Fortes e o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Magalhães Júnior (BA), dizem que a decisão de Aníbal contraria uma orientação do partido de não expor prematuramente seus candidatos e de centrar a propaganda eleitoral na valorização dos programas sociais do PSDB no governo.

? Participei da reunião com os líderes e a avaliação consensual era de que nenhum pré-candidato entraria no programa ? disse Jutahy.

? Como vamos mostrar candidatos se as candidaturas nem estão postas? ? pergunta Fortes.

Aníbal alega, porém, que na reunião foi apenas discutido o programa de 20 minutos a ser exibido no dia 15 e totalmente dedicado às ações do governo federal. Nele, os candidatos não estarão. Fernando Henrique gravou ontem sua participação no programa.

O governador tem se queixado da superexposição de Serra, como ministro, em detrimento dos demais candidatos. Um dos argumentos de Tasso é a projeção da governadora Roseana Sarney (PFL-MA) depois de sua apresentação no programa eleitoral do PFL.

Embora elogie o desempenho de Roseana, o presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), alerta:

? Nem sempre o que é bom para o PFL é bom para o PSDB. Cada um tem que ter a sua receita. Não sei se é bom ficar precipitando as coisas. O ideal é seguir o que já foi decidido: encontrar o nome que mais fortalece o partido e agrega aliados. Mas isso só em fevereiro."

    
    
                     
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