MONITOR DA IMPRENSA
SUN-SENTINEL
Sabe-se quando o jornal está num dia ruim quando as correções aparecem na primeira página e ocupam 400 palavras ? mais de um terço do tamanho da matéria que está sendo corrigida. E o desastre é ainda maior quando o editor é forçado a pedir desculpas ao personagem da matéria ? o principal promotor público do condado.
Foi o que ocorreu ao South Florida Sun-Sentinel, que lamentou "profundamente" a publicação de uma reportagem dizendo que os promotores públicos locais dão continuidade a casos de assassinato prejudicados por provas ruins. Randy Dotinga [Editor & Publisher, 16/3/01] diz que a matéria, publicada no dia 3 de março, apoiava investigações independentes de casos de assassinato ocorridos no condado de Broward nas últimas duas décadas, promovidas pelo procurador Barry Scheck e advogados do chamado "corredor da morte".
O jornal, cuja sede fica em Fort Lauderdale, Flórida, disse que encontrou nove casos de pessoas libertadas devido a "provas e confissões prejudicadas". Uma semana depois, o Sun-Sentinel pediu desculpas e publicou uma lista de erros e omissões. Numa barra lateral, sobre a reação do procurador do estado Mike Satz à matéria original, o editor Earl Maucker disse que "não há dúvida de que muito do que foi publicado estava fora de contexto e apresentava erros factuais".
Mesmo assim, "alguns procuradores querem ir além, legal e eticamente", disse Ron Ishoy, porta-voz do escritório de Satz.
CUBA
Em setembro, o Observatório da Imprensa publicou comentários sobre a licença que alguns jornais americanos obtiveram do governo cubano para abrir sucursais em Havana [veja remissões abaixo]. Um deles, de acordo com artigo de Bob Whitby [New Times, 22/3/01] foi o South Florida Sun-Sentinel. A permissão para atuar em Cuba é uma grande conquista reservada a poucos jornais americanos. E o gostinho da vitória é ainda maior para o Sun-Sentinel, pois seu maior concorrente, o Miami Herald, não tem a menor chance de chegar lá.
Em janeiro, o Sun-Sentinel instalou em Havana Vanessa Bauza, uma repórter jovem, sem experiência e formada em Yale. Earl Maucker, editor do jornal, deu longa aula de jornalismo num editorial para marcar a ocasião. O discurso defendia honestidade e equilíbrio. "Nossa proposta em Cuba não será fazer amigos ou inimigos, mas exercitar nosso julgamento como imprensa livre e independente", disse.
Até agora, apenas 11 matérias foram publicadas. Todas muito comportadas, sem sangue, lisas. As mais ousadas incluem uma denúncia sobre a falta de acesso à internet em Cuba, um relato da tristeza nos centros habitacionais e uma reportagem sobre poetas aprovados pelo governo, que aparecem aqui e ali em Havana. "Não acho que repórteres do Sun-Sentinel deveriam estar lá, a não ser que tivessem a coragem de mostrar os dissidentes", afirma Jaime Suchlicki, diretor do Instituto para Estudos Cubanos e Cubano-Americanos da Universidade de Miami.
Alina Lambiet, editora de internacional, nacional e governo do Sun-Sentinel, diz que é muito cedo para um julgamento. "Estamos apenas começando, ainda não pegamos no tranco." Isto porque o governo cubano oferece pouca informação relevante, boas fontes são sagradas em Cuba e, segundo Lambiet, isso leva tempo para formar. Ela garante que haverá cobertura da dissidência.
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