ELEIÇÕES 2002
Chico Bruno (*)
O Ibope divulgou mais uma pesquisa, encomendada pelo Bank of America, sobre a sucessão presidencial. Informa o instituto que o campo da pesquisa foi realizado entre os dias 10 e 14 de abril, sendo os resultados divulgados no dia seguinte, 15 de abril ? portanto, 48 horas após a desistência de Roseana Sarney Murad em concorrer à presidência da República. Foram entrevistados 2.000 eleitores, e a margem de erro é de 2,2%. Isso posto, são necessários alguns esclarecimentos, em vista do açodamento da mídia em analisar os números.
É importante lembrar que pesquisa, para ser divulgada, precisa ser registrada na Justiça Eleitoral com cinco dias de antecedência. Essa última do Ibope foi registrada no dia 10, e divulgada logo após sua tabulação no dia 15. Tudo conforme a lei.
Mas a pesquisa estava em campo desde a quarta-feira, dia 10 de abril, e a desistência de Roseana aconteceu apenas no cair da tarde do dia 13 de abril, sábado. Portanto, ao Ibope restou apenas o domingo para pesquisar um cenário sem Roseana. O Ibope poderia já estar auscultando o novo cenário sem Roseana desde a quarta-feira, 10 de abril. Essa é a hipótese mais viável.
Feitos esses esclarecimentos preliminares, para o bom entendimento dos leitores, vamos ao que interessa, o açodamento da mídia. O Ibope divulgou dois resultados, um com Roseana e outro sem Roseana. Infelizmente, a imprensa, no afã de produzir fatos relevantes, anunciou que Lula subiu 11 pontos entre março e abril, saindo de 24% para 35%, e que Ciro Gomes saiu de 6% para 11%, um crescimento de 5 pontos. José Serra, que tinha 16% em março, amealhou apenas 2 pontos entre os eleitores de Roseana, e Garotinho, que tinha 14% no mês passado, subiu 3 pontos, indo para 17%. Uma empulhação aos leitores, haja vista que é falsa a premissa. Não se pode comparar um cenário de março com Roseana a um em abril sem Roseana.
O correto é comparar os cenários de abril, com ou sem Roseana.
O quadro vai demonstrar aos leitores corretamente o que aconteceu:
Abril com Roseana | Abril sem Roseana | Diferença | |
Lula |
31% | 35% | 4% |
Serra |
14% | 18% | 4% |
Garotinho |
15% | 17% | 2% |
Roseana |
12% | – | – |
Ciro |
9% | 11% | 2% |
O quadro demonstra com clareza que Lula e Serra foram os beneficiados com a desistência de Roseana, cada um amealhando 4 pontos do eleitorado da maranhense. Ciro e Garotinho ficaram com 2 pontos, o que comprovaria que estão errados ao querer atrair o apoio dos pefelistas ? isso serviria apenas ao PFL, para aumentar seu cacife numa barganha com o PSDB, e às oligarquias rebeldes (ACM e Sarney), para infernizar a candidatura Serra. Outro dado é que os 12% da candidata pefelista migraram para os demais candidatos, e não para brancos, nulos ou indecisos. Isso serve para uma reflexão: é muito estranho que todos os entrevistados já se tenham decidido por este ou aquele candidato, não restando uma parcela em dúvida.
Está posto por A mais B que a mídia, mais uma vez, pisou no tomate, no que tange à análise de pesquisas eleitorais. É preferível apostar no açodamento da leitura das pesquisas do que na manipulação em favor da tese de ACM/Sarney, de que os votos de Roseana iriam em sua maioria para os candidatos de oposição ? que, no raciocínio caolho da mídia somam 18% para Lula, Garotinho e Ciro, contra apenas 2% para Serra.
É preciso que os analistas políticos tenham muito cuidado em suas análises, para que não acabem vendendo gato por lebre aos leitores dos grandes jornais brasileiros, como ocorreu no primeiro turno francês.
(*) Jornalista