MÍDIA & MST
Paula Cambraia Grassini (*)
Luiz Garcia declara em sua coluna do Globo (sexta-feira, 4/7): "É claro que, se a idéia é censurar, sempre se pode fazê-lo em massa: jornais, revistas, TVs, noveleiros. A indignidade é a mesma". Fosse outro o colunista, qualquer leitor poderia pensar que tais palavras se referem à repercussão na mídia do badalado encontro entre representantes do MST e o presidente da República.
Realizada na véspera, a reunião com líderes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra causou indignação na mídia pelo tom de cordialidade e intimidade entre os protagonistas: "Presidente dá biscoito na boca dos líderes, usa boné do movimento e promete ?reforma agrária massiva?", título de uma das muitas matérias acerca do evento publicadas pelo jornal O Globo, todas escritas no mesmo tom.
"Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebia dirigentes do Movimento dos Sem-Terra (MST), as invasões e os protestos contra a morosidade do governo continuaram. Cerca de 150 integrantes do Movimento Para a Terra, uma dissidência do MST, bloquearam as entradas de Buritis, no noroeste de Minas."
Ou,
"No dia em que o MST invadiu uma prefeitura no Rio Grande do Norte, a sede do Incra em Cuiabá e uma empresa de distribuição de energia em Alagoas, além de fechar acessos à cidade de Buritis (MG), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem sua primeira reunião com líderes do movimento."
E ainda,
"Os ruralistas ficaram indignados com o fato de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter recebido ontem os dirigentes do MST. O presidente da UDR disse que a demonstração de proximidade do presidente com os sem-terra foi uma grande decepção."quot;
Trechos de diferentes matérias que dizem o mesmo. No dia seguinte, o que era pura informação imparcial e objetiva transformou-se em opinião do editorial. Mais do mesmo:
"O mesmo movimento que, nos últimos dias, promoveu saques no Nordeste, acendeu o rastilho de um conflito armado no Sul e amplificou as tensões no interior de São Paulo, foi recebido no Palácio do Planalto com pompa e gentilezas, dessas que se fazem só a grandes amigos. No momento em que Lula adoçava a boca de companheiros do MST com biscoitos caseiros, o mesmo MST incorria em capítulos do Código Penal e atropelava a Constituição."
Incoerente.
Parece até que um presidente, de algum partido notadamente de esquerda, resolveu aprovar medidas conservadoras, como a taxação de inativos, a manutenção dos altos juros, ou sorrisos ao FMI (enquanto todo o movimento estudantil grita "Fora FMI" e gritaria "Fora Serra", fossem diferentes as voltas que o mundo deu…)
Satisfeito com a "forcinha" da imprensa em reformas outras, o deputado Aluízio Mercadante diagnosticou em artigo na Folha de S.Paulo do dia 4: "A audiência que o presidente Lula concedeu ao MST gerou uma onda de intolerância conservadora."
Mar revolto o brasileiro, em que ondas (conservadoras) são maré constante.
Em tempo: Luiz Garcia protestava contra a "censura" à novela de Manoel Carlos, em que uma personagem morrerá vítima de bala perdida.
(*) Estudante de Jornalismo da UFF