Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Marcelo Migliaccio e Carla Meneghini

BIG BROTHER BRASIL

"Cadela do ?Big Brother? vive drama", copyright Folha de S. Paulo, 10/02/02

"A dupla mais coesa do programa ?Big Brother Brasil?, da TV Globo, foi separada bruscamente na última terça-feira, quando o modelo Caetano deixou a casa após ser eliminado pela votação dos telespectadores. Foi visível a tristeza da cadelinha Mole, a quem o participante tinha se apegado desde o momento em que se afastou do convívio com os outros concorrentes. A cena da cadela tentando acompanhar Caetano em sua saída sensibilizou o diretor do programa, J.B. de Oliveira, o Boninho, que, no dia seguinte, cogitou da hipótese de retirar o animal do ?reality show?. Ele telefonou para a consultora In-Coelum Perdigão, que cedeu Mole ao programa, deixando-a à vontade para tirá-la da casa. Segundo In-Coelum, a cadela, encontrada por ela numa rua do Rio em novembro do ano passado, vai continuar. ?Seria muita novidade para ela absorver se saísse de lá agora. Coloquei todos os empecilhos possíveis para ceder a Mole porque sei que geralmente é o ibope que prevalece sobre o bem-estar dos animais?, diz a consultora, que tem permissão para entrar numa área reservada da casa duas vezes por semana para ver como está o animal. Além disso, um veterinário examina Mole semanalmente. Especialistas ouvidos pelo TV Folha acham que a inclusão de uma cadela no ambiente aflitivo de um ?reality show? não foi uma boa idéia. ?Toda aquela tensão vai passar para o animal, que é envolvido pelos campos de animosidade. Isso vai gerar ainda mais insegurança nela, que já sofreu uma perda logo no início?, diz a veterinária e PhD em psicologia animal Hanelore Fuchs. ?Se as outras pessoas não derem carinho a ela, a tendência é que fique sem referência na casa, podendo se isolar e até recusar comida?, diz Eufrate Almeida, diretor da ONG Quintal de São Francisco, que há 40 anos cuida de animais abandonados em São Paulo. O diretor da Central Globo de Comunicação, Luís Erlanger afirmou que a cadela está muito melhor agora, na casa, do que antes, pois foi achada na rua.

Lamentos

Não foi só Mole que sentiu a saída do modelo Caetano. Os âncoras Pedro Bial e Marisa Orth não esconderam a decepção com a primeira eliminação. ?Ele é um lorde?, disse Bial. ?Parabéns!?, derrapou Marisa. Um dos produtores fez uma comparação com ?Casa dos Artistas?, do SBT. Para ele, foi como se Supla, o concorrente mais simpático e inteligente, tivesse sido eliminado na primeira semana do ?reality show?."

 

"Monopólio do ?Grande Irmão?: Rede Globo quer cercear noticiário do iG sobre ?Big Brother?", copyright Último Segundo (www.ultimosegundo.com.br), 6/02/02

"A empresa Globo.com enviou uma notificação ao iG com intuito de cercear a cobertura realizada pelo portal sobre o reality show ?Big Brother Brasil?, da TV Globo. No documento, a Globo.com alega que a ampla divulgação de informações sobre o programa de TV pelo site Babado, do iG, invade seus direitos (uma vez que o portal global tem um site sobre o assunto).

Na correspondência, a Globo.com refere-se à lei de Direitos Autorais (9.610, de 1998), citando o artigo 29: ?Depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização da obra (…)?. A carta sugere que a cobertura jornalística do iG usa elementos gráficos e personagens cujos direitos autorais são da Globo.com. Assim, sugere que a veiculação dessas informações e imagens de ?Big Brother Brasil? dependeria de autorização prévia da mesma.

Os sites de jornalismo do iG – Último Segundo e Babado, líderes na internet brasileira em suas respectivas categorias, fato que irrita as Organizações Globo em sua ânsia de ter o monopólio das comunicações no Brasil – vêm dedicando parte de seu noticiário à atração, assim como fez antes com o ?reality show? do SBT, ?Casa dos Artistas?.

Na página especial do iG sobre ?Big Brother Brasil?, o usuário tem acesso a informações atualizadas a todo o momento, pois este é o espírito da Internet, sobre o que acontece na casa construída nos estúdios da Globo, no Rio, em que 12 pessoas têm de conviver durante dois meses.

Com a cobertura noticiosa do reality show, os sites alcançaram uma audiência ainda maior. O Último

Segundo registrou cerca de 90% de aumento em sua audiência na estréia de ?Big Brother Brasil?, sobre o mesmo dia da semana anterior. O Babado obteve aumento em torno de 85% no mesmo dia.

Na notificação enviada, cujo texto se refere ao noticiário do Babado, a Globo.com inclui imagens de páginas publicadas no Blig que usuários de internet criaram sobre ?Big Brother Brasil?. O Blig é o blog do iG, ferramenta que permite a usuários ou grupos de usuários de internet postarem mensagens e discutirem entre si assuntos de seu interesse, semelhante às ferramentas mais antigas como ?fórum? ou aos mecanismos de construção de páginas pessoais.

Coincidentemente, no Blig pessoal que faz sobre o ?reality show?, a autora Rosana Hermann revelou com exclusividade, e antes da mídia especializada, que o nome de alguns dos participantes do programa não consta na lista dos candidatos ao programa, que fizeram inscrição pela Internet.

No Blig que os internautas criaram sobre ?Big Brother Brasil? também foi veiculada em primeira mão a informação de que o site da Globo.com sobre o ?reality show? ficou fora do ar por oito horas no dia da estréia do programa de tevê. Para revelar a falha, o Blig reproduzia a imagem da página da Globo.com fora do ar.

Em sua carta a guisa de reclamar sobre direitos autorais, a Globo.com reproduz exatamente essas páginas que trouxeram notícias incômodas sobre a organização do ?Big Brother Brasil?, nos dois casos alegando que foi usada naquelas páginas ?a marca de propriedade da TV Globo?.

A cobertura que o Último Segundo e o Babado fazem são exclusivamente jornalísticas e têm o objetivo de informar a maioria dos internautas brasileiros sobre o que está ocorrendo na televisão. Por suas características, o jornalismo na Internet impõe que as coberturas sejam feitas em seqüência, minuto a minuto.

É esta fórmula que os internautas procuram ao se atualizarem por meio do jornalismo online.

A pretensão das Organizações Globo de cercear a cobertura do Babado tem o indisfarçável objetivo de favorecer os seus próprios sites que, apesar das centenas de milhões de dólares investidos e da imensa divulgação que recebem do ?Grande Irmão? Rede Globo, não conseguem bater os sites do iG em qualidade, prestígio e audiência.

Como tentou fazer com o SBT, o monopólio da Globo agora quer calar o iG que só tem para se defender a liberdade de imprensa e o imenso apoio de seus internautas, que não querem o oligopólio da informação no Brasil.

A Globo quer inclusive tirar do ar uma ferramenta de blog, o Blig, fingindo não saber que a atualização deste recurso é feita por internautas em um processo verdadeiramente democrático de circulação de idéias e informação."

 

"Globo reclama de cobertura do Big Brother Brasil e entra em terreno de risco", copyright Cidade Biz. (www.cidadebiz.com.br), 7/02/02

"Que a Globo é a maior rede de TV e a parte mais visível e robusta do maior grupo de comunicações do país é notícia velha. O fato novo é que, além de dominar a audiência, a TV da família Marinho agora quer o estender o copyright do que produz até para a cobertura jornalística de suas atrações levada a cabo por outras empresas de mídia. É o que se deduz a partir da leitura do comunicado enviado pela Globo.com, braço de internet do grupo, ao portal iG, reclamando da ampla cobertura que vem dando por meio de seu site Babado ao programa Big Brother Brasil.

A Globo se vale da Lei de Direitos Autorais para afirmar que ?depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização da obra? para a forma como o Babado vem desempenhando sua cobertura do reality show. Se o replicasse por inteiro no site, vá lá. Mas contar o que se passa na casa-cenário em que confinaram os personagens do show está longe de configurar apropriação indébita de roteiro e personagens protegidos pelo direito de autor.

A bronca da Globo equivale a tentar impedir que jornais e revistas cubram o cotidiano de suas novelas, inclusive com a publicação antecipada de resumos diários de cada capítulo. Outra coisa é um site fazer uma gambiarra e passar a transmitir na íntegra capítulo a capítulo.

A discussão é importante porque está em jogo um dos direitos fundamentais da liberdade de imprensa que é o acesso a tudo o que é público e atinge a percepção dos indivíduos, mesmo em se tratando de produções assinadas por uma empresa de comunicação.

O caso do Big Brother Brasil é ainda mais notório, nesta categoria de acesso à informação, por envolver uma gincana aberta à participação do telespectador. Que interage com os participantes e decide sobre o andamento da história podando um personagem a cada semana.

Imaginava-se que não passasse pela cabeça de ninguém que estivesse aí um evento fechado, liberado apenas a telespectadores cadastrados e possuidores de uma chave de acesso. Já não se deve imaginar mais. É fato.

De tempos em tempos pendengas bizarras como esta levantada pela Globo acometem a imprensa. Tempos atrás, por exemplo, uma empresa quis impedir que revistas e jornais usassem a expressão ?spa? em seus materiais jornalísticos, alegando uma suposta propriedade sobre a palavra como se ela fosse uma marca registrada. A Veja chegou a ser notificada para que suspendesse a publicação da palavra, mas o querelante não encontrou nenhum tribunal que acatasse o ridículo e lhe desse razão.

Se o reclamo da Globo for parte desta categoria de queixa, não há problema nenhum. Pode até ser justificado, diante da rasteira que levou do SBT, que saiu à frente e lançou o Casa dos Artistas de forma tal que os donos do formato do reality show – a produtora holandesa Endemol, da qual a Globo é sócia e licenciada no Brasil – não encontram como processar a rede rival na Justiça.

Acometidos de excesso de zelo, os executivos da Globo que investem contra o iG estariam apenas exorbitando em seus papéis. Grave, mesmo, é se a alta cúpula do grupo acreditar que está legitimamente protegendo supostos direitos. Aí se pode estar diante de uma deformação. Se o uso do cachimbo faz a boca torta, é a sociedade, não o iG, que se encontrará frente ao uso abusivo do poder de audiência – um poder político perigoso tanto para quem o aciona como para quem é por ele acionado."