TT CATALÃO DEMITIDO
“Saída de TT do Correio provoca revolta”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 14/03/03
“A demissão de TT Catalão do Correio Braziliense tem provocado manifestações de jornalistas, fotógrafos, políticos e leitores do Brasil e exterior. Leia abaixo alguns depoimentos enviados ao jornalista e publicados neste Comunique-se com as devidas autorizações.
Chico Sant?Anna (França)
?Fiquei sabendo aqui na França, onde faço um doutorado, da sua saída do CB. Sua carta, redistribuída pelo Luis Martins, é uma provocação à reflexão de todos nos, principalmente dos recém-chegados e dos que são professores, da necessidade de não nos deixar sucumbir à este jornalismo marketeiro e alienador. É uma denúncia da contínua existência daqueles que acham que podem tirar da informação o proveito que desejam, várias vezes inescrupuloso, e não o de servir para a construção de uma cidadania, tão necessária a nos, principalmente nestes momentos de iraques, bushs, rorizes e tanto manipuladores da opinião pública. TT, pouco nos comunicamos ao longo de todo este tempo, a Internet e sua página de Imprensa nos aproximou um pouco, embora de forma virtual, mas como um leitor assíduo dos dois espaços que estiveram sob sua edição, aprendi a apreciar um excelente trabalho. Sei que sua próxima parada será novamente uma trincheira de defesa da ética e do bom jornalismo. Receba o abraço amigo e nosso apoio moral.?
Leonísio José David Ribeiro (Brasília)
?Foi com imensa dor que li seu mensagem comunicando sua demissão do Correio Braziliense. Sinto muito lhe dizer, mas já esperava por isso… Você, um sujeito de caráter, de fibra, cônscio da sua cidadania, não poderia agüentar muito tempo a atual linha editorial do Correio Braziliense. Veja só uns exemplos: Cadê as reportagens sobre os crimes de Pedro Passos, Tartuci, Roriz, Odilo(te)n etc? E acerca dos projetos de desvios de destinação de lotes na Câmara D(etrital)istrital? Não se fala mais em grilagem de terras… No desvio de verbas da saúde para a ponte dos desvios… etc. Nos desmandos e inépcia na Câmara D(etrital)istrital… A linha editorial está morna demais… Fala-se muito em política nacional e internacional e pouco nos problemas da cidade.Penso que está havendo um conluio entre o Jornal de Brasília e o Correio. Atualmente, quem está falando mais das agruras do DF é o Jornal de Brasília,que antigamente só dizia amenidades positivas do GDF.Hoje, não, quem tem feito denúncias sobre grilagem de terras no DF é o Jornal de Brasília. O Correio está falando pouco ou quase nada. Penso que o Jornal de Brasília está querendo ser arvorar do papel de defensor da cidade… Papel esse que era exercido pelo Correio Braziliense…Bom, deixa isso pra lá… A esperança é a última que morre… Espero que o seu gesto incuta nos que ficaram a nobreza da resistência e da bravura… Espero que o seu barco ancore em novas terras libertas, onde você possa se sentir feliz e produtivo.Fico, do meu lado, num imenso vazio pela perda de tão importante voz no já-quase-mudo Correio Braziliense. Felicidades. São meus sinceros votos.?
Juvenal Pereira (fotógrafo, SP)
?Não se contente em trilhar um caminho estabelecido. Ao contrário, vá para onde não há caminho algum e deixe seu rastro? (Muriel Strode) Boa sorte meu companheiro.?
Cristovam Buarque
?TT, li seu último desabafo, o último desta vez, enquanto espero sua quinta volta. Você pode até deixar de escrever no Correio, mas não está indo para lugar nenhum, está dentro de nossas almas: com sua poesia-frase-diária, com sua coragem e simpatia. Mas, você vai fazer falta mesmo é durante o café da manhã. O Desabafo, com sua última frase, que sempre lemos antes do resto, era uma espécie de manteiga sem colesterol. Abraço.?
Graziella Nunes e toda a equipe da ANDI – Agência de Notícias dos Direitos da Infância
?Recebemos a notícia de seu desligamento do Correio Braziliense e lamentamos muito. Apesar da mudança, estamos certos de que continuará desempenhando papel de profunda relevância para o jornalismo brasiliense. Receba o carinho e a admiração de toda a equipe da ANDI pela trajetória de comprometimento com as questões sociais e por fazer parte do nosso time de Jornalistas Amigos da Criança. Desejamos sucesso!!?
Cláudio Calgaro
?Tenho certeza que você voltará pela quinta, sexta e quantas vezes mais forem necessárias afinal, mesmo o bom profissional não resiste a politiqueiros de ocasião. Esse pseudo governador está com os dias contados com relação ao mandato. Boa sorte !!! Abraços?
Rafael Targino (Brasília)
?Obrigado por nos ter servido tão bem com suas maravilhosas colunas no CB. Quem ainda lê o Correio (convenhamos, diminuiu bastante) sentirá saudades. Agora, pergunto-te uma coisa: será que o CB vai, um dia, voltar a ser o que era antes? De um jovem estudante de Comunicação da UnB, que decidiu tornar-se jornalista depois daquela fatídica censura e da saída de Noblat, Paulo Cabral, Valéria e Menezes (e agora com a sua)?
Luiz Fernando Feres
?É graças à contribuição de profissionais como você que um jornal se diferencia de um house organ. Ou de um balcão de negócios. Como admirador do seu estilo e da sua coragem, só posso lamentar a atual onda de macarthismo que está assolando o Correio. Espero vê-lo de volta o mais breve possível.?
João Vianney (Lisboa)
?Quando enviei aquela mensagem aos editores do Correio Braziliense, ainda não tinha lido sua última crônica, que só confirma o que eu disse. De fato, o Correio Braziliense caminha a passos largos para a mediocridade, se já não tiver chegado lá. Hoje revi minha mensagem de ontem e encontrei alguns erros de pontuação e ortografia. É que, por mais habituados à escrita, é difícil atentar para a gramática quando se estar com raiva. Se minha carta for publicada (o que eu duvido muito, pois imagino qual seja a função da editoria do atual Correio Braziliense), espero que não tenham a malícia de colocarem aquele antipático ?(sic)?, que é um modo de desqualificar o interlocutor, sugerindo semi-analfabetismo. Mas, tendo em vista o que vem acontecendo no Corrreio Braziliense, isto não seria nada. ?
Fernando Moraes
?Confesso que, como um viciado por suas colunas, Desabafo e Correio do Brasiliense, fiquei imensamente triste. Como se já não bastasse a ausência do nosso competentíssimo Noblat, agora vai mais um, você. Pois fique sabendo que Brasília está perdendo uma grande força que tinha na luta contra a desordem e na preservação dos direito dos seus cidadãos.Quero lhe fazer uma pergunta, mas assumo que estou morrendo de medo da sua resposta. O Correio Braziliense está nas mãos desse ?Desgovernador?, esse fardo que Brasilia está carregando ? Que Deus salve Brasília. Grande abraço de um cidadão brasiliense revoltado e desesperançoso.?
Carlos René de Oliveira (Brasília)
?Extremamente triste, onde após relembranças do extraordinário escritor, confirmei o assunto. Fique absolutamente certo de que os leitores co Correio Braziliense firmaram a convicção de ser o amigo um veterano jornalista honesto, competente, justo, que buscou, sempre, o aperfeiçoamento e que dignificou diariamente o Correio Braziliense. Hoje eu estou aqui pedindo a Deus uma luz e uma alegria para este momento. Deus nunca nos faltou.?
Izaias Alves (Brasília)
?Amigo essa foi a sua pior notícia, pois temporariamente perdemos a nossa própria voz ai nesse extinto correio, pois o Roriz tratou de fazer um feudalismo total em Brasília, isso é horrível…não suportamos mais esse desgoverno…é uma vergonha…Não é possível nosso Presidente da República ficar tão perto de tanta sujeira.. enviarei a minha indignação ao correio, e jamais acessaria tal página de vergonha…?
Magno Norman (Brasília)
?Quando um dia ?desabafei?, e não foi dirigido a você, já estava senhor da situação do CB, tomado por uma corja de puxa-sacos comandada pelo medíocre Ari Cunha. É lógico que a independência, ainda mesmo débil, iria acabar de vez. Desejo boa sorte a você nesse mundo onde a verdade sempre falece ante a mentira. Escreverei ainda. Acabei de escrever um livro sobre o governo Lula onde falo sobre o assunto. Será publicado em breve, assim que outro vier da Editora.?
Maria Inês Mello (Brasília)
?Que péssima notícia recebemos agora! Encontrar TT era uma das últimas alegrias que a insistência na leitura diária do Correio Braziliense ainda nos dava. ?Nós no espeto? e sem TT: mando Correio para o espaço! Volte logo, TT.?
Carlos René de Oliveira (Brasília)
?A manutenção do espaço, (coluna Desabafo em Opinião) com o esmero de conteúdo,atualidade, representatividade, ótimo instrumento para reflexões da sociedade e correção de equívocos editoriais representará, mais do que uma homenagem ao profissional TT Catalão, que engrandeceu este veículo, o respeito aos leitores que cresceram lendo esta página.?
Célia Ladeira (UnB, professora)
?Como ler o Correio e não te encontrar em muitas páginas, com sua doce ironia, seu amor à vida, seu carinho por Brasília? Sou da comissão de ética do Sindicato e desde já considero sua demissão um ato antiético e de desrespeito enorme à cidade. Como professora de Jornalismo da UnB, quero te convidar para palestras aos nossos alunos. As aulas começam no dia 24 e vou agendar a palestra e volto a entrar em contato. Um abraço de solidariedade.?
Gustavo Smiderle (jornalista de Campos, RJ)
Sou irmão de uma leitora e admiradora sua aí em Brasília. Aprendi um bocado de jornalismo lendo sua despedida dirigida ?aos fraternos companheiros da redação do Correio…?, que me chegou por e-mail. Desejando que novos caminhos se abram, retenho esta sua frase: ?É simples ser um jornalista, mesmo no meio da traição e da covardia; basta não permitir que a verdade seja violentada a um nível que lhe impute, mais tarde, vergonha.?
Marcelo Soares (Brasília)
?Triste esse desmanche do Correio Braziliense. Acompanhei, ainda que a distância (primeiro em Porto Alegre, depois em São Paulo, depois Porto Alegre de novo), a fase gloriosa de vocês no Correião. Não concordei com tudo, por certo, mas admirei a ousadia de tentar. Boa sorte na próxima empreitada. Já pensaste em algo??
Em tempo: TT já recebeu até o momento 28 e-mails da redação do Correio (que não podem ser divulgados para não expor o grupo). Comunique-se continua tentando falar com o diretor de redação do diário, Josemar Gimenez.”
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“?Colocaram alfazema na guilhotina?”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 13/03/03
“Foi essa a frase que o jornalista TT Catalão usou para definir a sua saída do Correio Braziliense. O jornalista foi despedido do jornal, pela quarta vez, na manhã desta quarta-feira (12/03). TT chegou na redação e foi comunicado que o diretor de redação, Josemar Gimenez, queria falar com ele. O jornalista chegou a comentar com uma colega da mesa ao lado: ?chegou a minha vez?. ?Ela pediu que eu não me assustasse porque eles não costumam ter tanta formalidade na hora de despedir alguém. Talvez pela identificação que eu tenha com o jornal eles queiram colocar alfazema na guilhotina?.
O jornalista afirma que Gimenez (diretor de Redação do Estado de Minas e interino no Correio) explicou que, pelo novo projeto editorial do veículo, não haveria mais espaço para ele (TT editava a editoria de Pesquisa e Informação e a de Interação com o Leitor). Nem mesmo em Cultura (já editada por TT nos anos 70), área historicamente identificada com o trabalho de TT – o Espaço Cultural da 508 Sul, hoje chamado de Espaço cultural Renato Russo, foi criação do jornalista, que também é poeta.
Pelo novo projeto, segundo o jornalista, serão extintos espaços criados por ele no Correio, que promovem uma maior interação do leitor com o jornal. Espaços como o Correio do Brasiliense, no qual são publicados pequenos artigos de leitores. ?Um espaço para a transgressão. Eu consegui inclusive que o Chiquinho Amaral (quem me trouxe para o jornal), designer do Correio, hoje morando na Espanha, mudasse a logo do jornal e ainda acrescentasse um ?do? para poder mostrar a liberdade de opinião dessa retranca?, explica.
?Minha grande paixão é outro espaço chamado Desabafo. Quando vi o novo projeto, após 45 dias de férias de licença, exterminando essa coluna, considerei isso uma pré-demissão. Reclamei e me garantiram que pelo menos o Desabafo seria mantido?, defende TT.
TT conta que, pelo novo planejamento do Correio, a entrar em vigor em abril, o jornal perderá as características do projeto revolucionário implementado por Ricardo Noblat, Chiquinho Amaral e um grupo onde TT foi de grande partição. Ou seja, a idéia de suavizar por um lado a publicação, deixando-a mais convidativa aos olhos, através de um visual moderno (que rendeu vários prêmios nacionais e internacionais ao Correio) e, ao mesmo tempo, inserir um lado mais crítico e opinativo às matérias, acrescendo personagem da notícia, infogravias, análise das matérias, um artigo de um especialista, tudo em forma de pequenos boxes. ?Fui chamado pelo Chiquinho para voltar ao Correio em 1996, justamente para dar esse caráter do contexto da notícia. Agora, tudo indica que o jornal será, digamos assim, mais clean, em opinião do leitor e análise, perdendo as características de revista e apresentando as matérias sem esses ?calços?, lamenta.
Comunique-se passou esta quarta-feira (12/03) tentando falar com o diretor de redação do Correio tanto sobre a saída do jornalista como sobre as mudanças na publicação, mas até o momento não conseguiu. Segundo a secretária, Gimenez está envolvido com várias reuniões e não possui tempo disponível para falar conosco. Quando for possível ele entrará em contato. Continuamos aguardando.
Última publicação
A ironia é que TT escreveu na edição desta quarta-feira do Correio: ?Roriz no SPA; Brasília no espaço; Justiça na espera e o resto no espeto?. O texto já foi retirado da página do Correio na Internet e consta apenas na versão impressa.
Também nesta quarta, na Crônica da Cidade, espaço antes ocupado pelo também demitido Rogério Menezes (hoje a redação reveza-se na publicação das crônicas), Têtê publicou um texto intitulado ?Você sabe com quem está falindo??. Leia abaixo:
?Hóteis baianos alertam: ?Proibida a entrada de animais e jovens brasilienses?. Sem ofender aos ditos irracionais. A cidade teme a safra de imbecilidade dos últimos anos na melhor prova de que ou a elite cria valores ou vai ser asfixiada pelo vácuo da sua pobreza solidária. Baianos em pânico com garçons esbarrando em punhos sarados de brasilienses e portas que detonam ao simples hálito de um menino-academia neste pesadelo shopping-sul e hipermercado-norte. Pais de playboy perguntam, na hipocrisia de se sentirem vítima, quando a verdadeira jaz ensangüentada: ?Onde foi que erramos?. Para que culpados? Muito menos achar na cidade (traçado urbano e monumentos) erros capazes de abduzir ?jovens virtuosos? e vomitá-los egoístas, violentos e intragáveis. Amebas com PHD, tal o grau de escolaridade dos facínoras no tédio tenho-tudo, logo, posso-mais.
Entre 1957 e 61, na construção da cidade, não se têm notícias de lambretas, camisas Banlon ou playboy em canteiros de obras. A galera pegava no pesado, diferente da galera que pega-pesado. Crise existencial não dura muito em quem trabalha duro. Suor cicatriza frescuras. A pleiboizada começa nos anos 70 com as brigas no Gilberto Salomão – caladas na delegacia pela propina – e os pegas na madrugada da cidade. Os atos acenderam vocações que resultaram até em políticos (depois ofuscados no pó da justiça) e velozes automobilistas mundiais.
Para tantas gangues e pouca ginga na atual Geração-McPorrada, não se sabe se o encontro asas-eixo pode influir em delitos. Sem provas que endereços hieróglifos (SMPW, SRES, SQS, QNM etc – etc, não é endereço) tenham a magia de narcotizar o caráter em formação (será?) dos garotões regados a proteína, grifes, teto sólido e teta generosa para herdar privilégios familiares. Nem se este magnífico céu pode obstruir solidariedade e criar adolescentes irresponsáveis. Brasília tem redoma, mas nunca foi bolha inviolável aos detritos federativos.
Incontroláveis jovens capazes de queimar índio, espancar até a morte, ameaçar e explodir bombas quando irritadinhos são frutos da ditadura do entretenimento. Diversão a qualquer custo. O laboratório para gerar a trama dos monstrinhos de ego e arrogância ainda não isolou o genes do extravio. Figurinhas imaturas, cheias de chiliques quando contrariadas. Violentos para tomar, déspotas para manter inconvenientes sociais pois só se relacionam com a gangue. Teriam vagas em muitos gabinetes atuais.
Talvez Brasília respire o estado de violência subliminar pela perfídia e incompetência instituídas em seus governos. Autoritarismo cria campos vibratórios poderosos da delinqüência do Estado sobre a rala felicidade do indivíduo. Filhinhos-de-papai ungidos pelo ?você sabe com quem esta falando?? se auto-legitimam debilóides da dor sobre o incauto que ouse desagradá-los. O ?com quem está falando?, vira, deplorável, ?você está falindo?. Em todos os escalões…?
Saída de Noblat
Segundo TT, depois da saída de Ricardo Noblat do Correio Braziliense, ele foi aos poucos perdendo seu espaço dentro do jornal. ?Primeiro, acabaram com a página ?Imprensa?, que era publicada aos domingos e editada por mim. Nesse espaço eu procurava publicar um material de análise da atuação da mídia, algo similar ao Observatório da Imprensa (site que colaboro), mas logicamente com um espaço bem menor. Depois, acabaram com o Conselho de Leitores, que possuía 37 membros, e eu era o coordenador. E não parou por aí. O próximo alvo foi o Conselho de Ética, que possuía dois jornalistas eleitos pela redação. Eu fui um dos escolhidos (o outro foi a Ana Dubeux). Segundo as normas desse Conselho, seus membros teriam direito a dois anos de imunidade. Eu abri mão desse privilégio. Já pensou ficar num trabalho, mantido apenas por imunidade? Eu, não aceito esse tipo de coisa?, conta.
O jornalista acredita que seu nome já estava numa lista de espera e a decisão do Correio de fazer mudanças bruscas na estrutura do jornal ( desde de outubro de 2002), só acelerou o processo. Apesar de tudo, o jornalista alega que sempre foi tratado com respeito e nunca foi censurado. Como editor do Desabafo, TT conseguia interagir com a população, chegando a receber cerca de 300 e-mails por dia. ?Acabamos criando uma espécie de núcleo de resistência dentro do jornal. Não sei até que o ponto o governo do Distrito Federal, hoje, pode influenciar a postura de opinião e crítica do jornal?. Contudo desmontar a equipe anterior, isso já conseguiram?, desabafa
Para que serve um jornal?
?Quando fui despedido pela terceira vez, levei doze anos para voltar. Dessa vez fiquei sete anos no Correio. E foi ótimo. Um jornal é maior do que as situações que o envolvem. Eu respirava Brasília através do Correio. Por exemplo, em 07/09/1996, num palanque, Roriz atacou o jornal e disse que ia fechá-lo. Eu escrevi um texto com o nome de ?Para que serve um jornal??, esse texto ficou famoso. Noblat o publicou na capa e tenho notícias de que ele tem sido usado por professores em sala de aula. Um jornal serve para servir. Essa é a premissa. Hoje, esse texto virou um painel com cerca de dois metros de altura e está na redação, para inspirar os colegas. Não sei se agora ele ainda será mantido ali (risos). Sabe, Brasília é uma utopia?, questiona TT.
Leia aqui o texto:
?Um jornal serve para servir. Servir principalmente a uma cidade. Um jornal, se for só papel, serve para cobrir o chão quando pintamos a casa ou embrulhar peixe no mercado. Um jornal, se for só negócio, serve apenas para crescer em lucros, máquinas e construções. Um jornal, se for mero símbolo, tradição e história, serve para discursos pomposos mas ocos de compromisso com a vida. Um jornal-grife funciona só para o marketing ou propaganda de empresa líder de mercados. Mas o que faz um jornal servir é algo além da mercadoria ou da imagem que projeta. Um jornal não tem senhores, domínios, posses ou possessões. Um jornal serve quando não é escravo até do próprio sucesso. Então pra que serve um jornal, mesmo?
Um jornal serve para publicar o que se fala, refletir o que se publica, aprofundar o que se opina sobre o publicado e ampliar todas as opiniões sobre o dito e o refletido. Um jornal serve para servir ao seu eixo principal de credibilidade: o leitor. Um jornal serve para ir além da notícia quando busca suas relações, seu contexto, bastidores, as circunstâncias que geraram o fato e até avaliar suas conseqüências. Um jornal serve para pensar. E ser pensado por gente livre. Um jornal não é administrado por máquinas servis. Um jornal serve quando desperta atitudes. Quando analisa os atos que sofre mas também é ator nada passivo. Serve quando é veículo dos muitos meios, modos, culturas e linguagens componentes de uma sociedade.
Serve e é estimulante e rico quando abriga as contradições e com elas convive. E só estará vivo em intensa atividade se servir aos que o lêem e o sustentam. Um jornal serve quando não teme. Nem o conflito natural das divergências nem o confronto acintoso de quem tenta intimidá-lo. Um jornal serve quando se expõe até a equívocos, mas extrai lições e busca avançar não permitindo que a prudência se confunda com o medo.Um jornal serve como serviço público, que é a definição mais básica de imprensa como instituição.Um jornal serve para reagir, para admitir e apontar erros, para estabelecer as linhas de diálogo com as representações organizadas de uma cidade. Serve também para o indivíduo que não adquiriu voz partidária, sindical ou até mesmo de classe tal a sua exclusão no convívio social.Um jornal serve para emocionar, dar prazer, informar por inúmeros suportes do fato além do texto, deleitar, entreter, indignar, comover e demonstrar que vive intensamente o seu tempo e a sua região.Um jornal não é só um amontoado de linhas, textos, fotos e traços.
Um jornal serve quando se torna fundamental, preciso, precioso, indispensável para o que na verdade o mantém vivo: a credibilidade. Um jornal serve para reconhecer seus talentos e sua vocação maior de compromisso com seu serviço primordial: um jornal serve para servir!?
Despedida
?Não me despedi da redação e nem deixei um bilhete. Não gosto de despedidas. Dói demais. Qualquer hora, vou lá esvaziar minha mesa, quando não tiver ninguém na redação. Ainda na quarte-feira (12/03), eu recebi dois cestos de flores, com a assinatura de metade da redação. Me senti meio defunto (risos), mas adorei todo o carinho e apoio recebidos dos amigos?, finaliza TT.
O jornalista não deixou bilhete na sua saída, mas pediu a Comunique-se, com exclusividade, que publicasse sua carta de despedida aos colegas. Leia aqui:
?Aos fraternos companheiros da redação do Correio Braziliense; aos queridos do Correio DO Brasiliense (página com textos, mini-artigos, crônicas e charges feita inteiramente pelos leitores que durou quatro anos); aos internautas que me acompanharam na coluna de cultura por dois anos no site Correioweb (extinta em fevereiro de 2003) aos cúmplices cotidiano do Desabafo (coluna de frases curtas na página de Opinião que durou magníficos, honrados e dignos 6 anos), aos jornalistas colaboradores da página dominical de Imprensa que mantém na chamada grande imprensa um pouco da auto-crítica na profissão (extinta em novembro de 2002); aos bravos membros do Conselho de Leitores (extinto em outubro de 2002) e a frágil Comissão de Ética (para a qual fui eleito representante desta belíssima redação); aos brasilienses de todas as lutas que me acompanharam na Crônica da Cidade de Quarta, artigos editoriais de Sábado e dezenas de pesquisas mensais na paixão em dar ?contexto, história e análise ao noticiário? – certamente uma utopia para o jornalismo fast-food de entretenimento e rala expressão crítica, esta é uma pequena chance para uma despedida e o natural – sangue italiano e espanhol – seria escrever um libelo gigantesco de emoção transbordante. Vou decepcioná-los e me conter.
Dizer apenas: um jornal não se rende nem se vende; um jornal serve para servir; um jornal é resultado do caráter, talento e nível de liberdade praticados das rotativas até o gabinete circunstancial do comando; para a galera novata que me ensinou tanto (embora achassem o contrário) mantenham-se digna: é simples ser um jornalista, mesmo no meio da traição e da covardia, basta não permitir que a verdade seja violentada a um nível que lhe impute, mais tarde, vergonha; honrem esta cidade e o legado histórico do clandestino romântico Hipolito da Costa que nos deixou, não só o nome, Correio Braziliense, mas os traços da sua missão… amo vocês, muito, muito, muito, amo esta cidade, tanto, tanto que esta é minha quarta demissão do Correio (e todas foram políticas, pois todas as opções, principalmente as chamadas ?técnicas? envolvem juízo de valores e atitude comprometida com o tipo de perfil que se quer dar, principalmente no ?negócio-jornal? onde a maioria das vezes confunde-se notícia com a mercadoria. Saio imensamente feliz pelos anos de dignidade vividos e mesmo, naquela ?idade perigosa a qual ninguém oferece mais emprego? (esse povo não respeita nem a Campanha da Fraternidade, sô!), saio mais uma vez do Correio com a tranquila convicção de não ter traído a razão legítima de existir um jornal: seus leitores. Que não são calhaus, que não são jogadas marqueteiras para arrotar ?interatividade? quando desejam é censura a opinião cidadã livre e libertária.
Nisso, o nosso Conselho, o CorrDOBras e o Desabafo não traíram e só me deram imensa satisfação e orgulho de estar nesta cidade (exatamente uma cidade castrada em sua cidadania) e nela abrir espaço para milhares de leitores existirem ativos e não , apenas, consumidores passivos daquilo que o jornalista, em sua arrogância iconoclasta, admite ser ?verdade?, ?justiça? e até mesmo ?notícia?…honra imensa em compartilharmos do mesmo pão…gozo imenso em rodarmos na mesma festa…incrível como um coração consegue experimentar ao mesmo tempo dor pela perda profunda de uma tribuna, mas alívio por ter lutado cada minutinho da profissão para honrá-la.
Todo amor do TT Catalão.
Eternamente graTTo…
PS1 – por favor, caso a nova direção pretenda retirar o gigantesco poster que reproduz a capa de setembro de 1996, ?Para que serve um jornal??, de quase 3 metros, na entrada da Redação, por favor: façam uma doação para o Sindicato. Escrevi este texto-editorial (anexo) na primeira resposta do jornal ao ataque insano, desequilibrado e agressivo do des-governador Roriz, em palanque, afirmando que iria fechar o Correio. Coisa que ele não conseguiu, mas parece estar sendo feliz nas maquiagens e simulacros de manutenção do titulo ?Correio Braziliense?, mas não sei se do jornal, na plenitude da palavra. O tempo dirá.
PS2 – meu e-mail pessoal é tt@zaz.com.br, aquele catalao@correioweb.com.br – tão usado pelos leitores (300 e-mails-dia é uma honra para qualquer interatividade verdadeira, não?) está temporariamente fora do ar…eu volto, pela quinta vez…voltarei…a cidade que nasceu de um sonho, tem o compromisso de fazer da realidade um sonho ainda mais bonito…
Minha última crônica da cidade deve ainda estar sob acesso online na quarta-feira ?Você sabe com quem está falindo?? e o meu último desabafo (de quarta) foi ?Roriz no SPA, Brasília no espaço, a Justiça na espera e nós no espeto?…
Brasília não é karma (peso que se carrega) , mas, dharma (graça que se leva)
Todo amor, TT?…”