ECOS DE BLAIR
“Mídia: ética, política e poder”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 12/6/03
“A mídia está no foco das atenções mundiais. Emergem no debate questões relacionadas com ética, concentração do controle de empresas, liberdade de informação, fraude jornalística e ação afirmativa, distorção nas relações entre jornalistas e governo. Nos EUA, o caso do repórter negro Jayson Blair, do The New York Times, que dava informações falsas em suas reportagens e plagiava textos de agências de notícias, abalou a credibilidade de um dos jornais mais respeitados do mundo.
Na França, um best seller é o livro do filósofo Bernard-Henry Lévy – ?Qui a tué Daniel Pearl? – sobre o assassinato do jornalista do The Wall Street Journal, em 2002, depois de ter sido seqüestrado por terroristas paquistaneses. A hipótese levantada por Lévy é que Pearl, americano e judeu, estava perto de descobrir o conluio entre grupos extremistas islâmicos e funcionários do serviço de inteligência (ISI) do Paquistão. O ISI estaria ajudando a suprir Osama bin Laden com armas de destruição em massa e fornecendo segredos nucleares do Paquistão para a Coréia do Norte e Irã. Se isso for verdade, tem implicações sérias para o Paquistão, que é supostamente aliado do presidente George W. Bush na guerra ao terrorismo. Mas, além disso, Lévy levanta a hipótese de que a CIA teria contribuído para que o jornalista fosse vítima de seus algozes, pois teria estimulado Pearl a um trabalho investigativo perigoso.
Outro caso, nos EUA, é do jornalista do The New York Times, James Risen, que estava escrevendo um livro, em janeiro, dois meses antes da guerra do Iraque, parte dele editada pela CIA. O livro ?The Main Enemy? é sobre a guerra que a CIA travava na década de 80 contra a ex-KGB, o serviço secreto soviético. Risen obteve quatro meses de licença do Times para trabalhar em seu livro, em setembro de 2000. Ele voltou ao jornal em janeiro de 2001, continuou escrevendo o livro e teve permissão para cobrir a CIA enquanto terminava a obra. Fred Brown, colunista que escreve sobre ética na revista Quill, o periódico da Associação de Jornalistas Profissionais dos EUA, não entende por que o Times permitiu que Risen concluísse o acordo do livro. ?Isso levanta questões sobre a profundidade e a liberdade de seu trabalho de repórter?, disse Brown.
Na França, o livro ?La Face Cachée du Monde – du contre-pouvoir au abus de pouvoir?, dos jornalistas Pierre Péan e Philippe Cohen, trata de ética jornalística. Um dos mais tradicionais jornais franceses é acusado de ?traição, cinismo, abuso de poder e autocracia?. Na Itália, o editor-chefe do Corriere della Sera, Ferruccio de Bortoli, pediu demissão no final de maio, supostamente em virtude da pressão exercida pelo governo conservador do magnata da mídia, Silvio Berlusconi. O motivo seria a linha cada vez mais crítica do jornal em relação ao governo, acusado judicialmente de corromper magistrados.
Nos EUA, país onde proliferam prêmios de ética no jornalismo e livros sobre esse assunto e sobre preconceito e responsabilidade jornalística, como ?What liberal media? The truth about bias and the news?, de Eric Alterman; ?Bias: a CBS insider exposes how the media distort the news?, de Bernard Godlberg; e ?Coloring the News: How Crusading for Diversity has corrupted American Journalism?, de William McGowan, o grande debate continua sendo sobre ética e a cobertura da guerra no Iraque.
O jornalista Robert Fisk, correspondente do jornal britânico The Independent, tem sido um dos principais críticos do papel da mídia norte-americana na cobertura da política externa dos EUA, dos episódios do 11 de setembro, da guerra no Iraque e do conflito entre Israel e os palestinos. Fisk, que entrevistou Bin Laden três vezes e é o mais antigo jornalista ocidental no Oriente Médio, diz que o problema é que a mídia que cobre diariamente o terrorismo e o sentimento anti-americano dos muçulmanos não explica por que esses sentimentos estão presentes no mundo árabe. Diz também que o jornalismo americano faz uma cobertura preconceituosa dos conflitos no Oriente Médio – ?a violência palestina é muito mais reportada como um ato de terrorismo, enquanto a violência de Israel é justificada como uma ação militar do Estado de Israel?.
Há três critérios que deveriam ser usados para julgar o trabalho dos jornalistas – ?accuracy? (precisão, exatidão), ?fairness? (equilíbrio, imparcialidade) e ?objectivity? (objetividade), diz Fred Brown. De todos esses critérios, observa o especialista em ética, o mais difícil de ser definido é objetividade. ?Ninguém é totalmente objetivo. Toda pessoa tem uma vida. Um parente tem uma reação diferente de um não-parente. Um africano-americano vê coisas diferentemente de um latino?, diz Brown. Mas sobre ?precisão?, ele é incisivo: um jornalista que regularmente comete erros não deve se manter na profissão. Jayson Blair, do Times, aparentemente teve seus erros acobertados porque é negro e o jornal não queria que o caso fosse visto como perseguição racial. Só que minorias não têm nada a ver com jornalismo, diz Gay Talese, um dos papas do jornalismo americano. (A autora é editora de Assuntos Internacionais do Jornal Gazeta Mercantil)”
“?Times? aponta novos erros de Jayson Blair”, copyright Folha de S. Paulo, 13/6/03
“O diário ?The New York Times? divulgou ontem que encontrou vários problemas em mais dez reportagens produzidas pelo jornalista Jayson Blair.
Um mês atrás, o ?Times? anunciou que descobrira erros em pelo menos 36 textos produzidos por ele -o diário disse que seu ex-repórter inventou informações e plagiou o trabalho de outros jornalistas em diversas ocasiões.
O dossiê divulgado ontem mostra problemas em textos escritos de 2000 até este ano. Segundo o diário, Blair chegou a copiar um trecho de uma reportagem do jornal ?The Wall Street Journal? escrita cinco anos antes.”
ECOS DA GUERRA
“Para entrevistar ex-prisioneira de guerra, CBS oferece estrelato”, copyright The New York Times / Último Segundo (http://ultimosegundo.ig.com.br), 16/06/03
“A corrida para conseguir a entrevista mais procurada da guerra no Iraque se intensificou depois que a soldado Jessica Lynch chegou ao Centro Médico Walter Reed, do exército, em abril, seguindo seu resgate de um hospital iraquiano.
A CBS News exibiu uma aparente nova vantagem na busca por uma entrevista exclusiva com a personagem do momento. Em sua carta à família de Lynch e oficiais do centro médico, adquirida no começo deste mês pelo New York Times, a CBS News combinou sua aposta de um documentário de duas horas com muitos outros projetos previstos pelas outras divisões de sua companhia-controladora, a Viacom.
?Anexo vocês encontrarão os esboços de uma proposta que inclui idéias da CBS News, CBS Entertainment, MTV networks e Simon & Schuster publishers?, escreveu Betsy West, vice-presidente sênior da CBS News, aos representantes militares de Lynch. ?Da distinta reportagem da CBS News ao alcance jovem da MTV, nós acreditamos que está é uma combinação única de projetos que farão justiça à inspiradora história de Jessica?.
Executivos da CBS Entertainment, dizia a proposta, ?nos dizem que esta seria a maior prioridade da divisão de cinema da CBS, que é especialista em histórias de coragem?. A Simon & Schuster, prosseguia, ?está extremamente interessada em discutir as possibilidades de um livro baseado na jornada de Jessica de Palestine, West Virginia, para o Iraque?.
A MTV Networks, continuava a carta, oferece um noticiário especial, uma chance de Lynch e seus amigos serem co-apresentadores de um programa de clipes na MTV2, e até uma edição especial do programa ?Total Request Live?, em sua homenagem.
A ação combinada da CBS para um possível entrevistado preocupou alguns críticos de mídia que temem que, na era dos conglomerados de mídia, onde as operações de mídia coexistem com seus equivalentes de entretenimento, a independência jornalística sofra na corrida por sinergia.
A CBS News disse que não há nada inconveniente na maneira como se aproximou de Lynch. A proposta, por exemplo, deixa claro que a CBS News é independente de suas parceiras corporativas, disseram executivos. E não há a promessa de um acordo de livro ou filme em troca de uma entrevista, apenas a expressão de interesse por sua história. ?Nós mantemos as declarações feitas na carta – não há condição afirmada ou implícita?, afirmou West.”
NBC REESTRUTURA
“NBC passa por grande reestruturação”, copyright Último Segundo / The New York Times (www.ultimosegundo.com.br), 11/6/03
“A NBC, que tem visto sua liderança no horário nobre da televisão encolher nas duas últimas temporadas, iniciou uma mudança drástica, há muito tempo esperada, em sua divisão de entretenimento na terça-feira, trazendo o provável sucessor de seu chefe de entretenimento, Jeff Zucker, enquanto remove dois dos principais executivos responsáveis por selecionar os programas do horário nobre da rede.
Kevin Reilly, executivo de programação do canal a cabo FX, onde era mais conhecido por ter introduzido o drama policial ?The Shield?, junta-se à NBC como presidente de desenvolvimento de horário nobre, uma nova posição. Reilly torna-se o segundo executivo de Zucker nos quartéis-generais da NBC entertainment em Burbank, Califórnia.
Mais importante, a mudança o coloca na fila para suceder Zucker quando ele voltar a Nova York para assumir uma posição corporativa mais elevada na NBC, que pertence à General Eletric Co. Zucker, que liderou a NBC entertainment por dois anos, deve permanecer em Burbank por mais um ano.
Como parte das mudanças abrangentes feitas na terça-feira, a rede também removeu Karey Burke, executiva-chefe de desenvolvimento, e Ted Harbert, executivo responsável pela companhia de produção interna da rede, a NBC Studios. Na semana passada, Joann Alfano, executivo responsável pelo desenvolvimento de comédia, deixou a rede. Zucker herdou todos os três executivos quando veio para a divisão de entretenimento. Sua decisão de deixar todos eles nos cargos por tanto tempo surpreendeu muitos executivos na indústria da televisão.
A NBC está fazendo estas mudanças em uma época que sua divisão de entretenimento, por muito tempo líder de audiência, perdeu o controle para seus concorrentes, particularmente a Fox. O recorde da NBC em desenvolver programas de sucesso foi ultrapassado. Isso é especialmente verdade em comédia, em que a NBC tem tentado há anos encontrar algo que possa se aproximar do status de programas que estão há muito tempo no ar como ?Friends? e ?Frasier?, ambos em suas últimas temporadas na rede.
Em uma entrevista por telefone na terça-fiera, Reilly reconheceu que a NBC estava em uma encruzilhada. ?Esta é minha análise também?, disse ele.
Zucker, em outra entrevista por telefone na terça-feira, disse: ?Karey e Ted ajudaram a nos manter no topo. Há sempre tempo para mudanças, e agora é a hora certa?.
Mais do que simplesmente substituir os executivos que irão sair, a NBC irá tornar a divisão de entretenimento mais eficiente, dando a Reilly a responsabilidade de desenvolver programas para o horário nobre, assim como administrar a NBC Studios. Anteriormente, o cabeça da NBC Studios respondia diretamente a Zucker.
Quem vai para a administração do estúdio no cotidiano, como vice-presidente executiva, será Ângela Bromstad, que era chefe da área de desenvolvimento de drama da rede de TV. Esta é a área onde a NBC teve a maior parte de seu sucesso durante o exercício de Zucker, com programas como ?Law and Order: Criminal Intent? e ?American Dreams?.
Cheryl Dolins, que trabalhou no estúdio, será promovido para chefe de desenvolvimento de comédia da rede.
Reilly, em seu trabalho atual como presidente de entretenimento do canal FX, que como sua irmã, Fox, é parte da News Corp., ganhou reputação por introduzir alguns programas ousados na televisão a cabo. Além do ganhador do Emmy-Award, ?The Shield?, a rede desenvolveu ?Lucky?, uma comédia que se passa em Las Vegas, com John Carbett, e um drama, que está por vir, sobre cirurgia plástica, ?Nip/Tuck?, que deve ser um dos programas mais comentados do verão. Estas escolhas de programação ajudara a FX a desenvolver uma identidade além de ser um depósito de programas da 20th Century Fox television studio, como ?Cops? e ?Arquivo X?.
A retomada de Reilly também inclui uma parada prévia na NBC, onde ele trabalhou na área de desenvolvimento de drama, ajudando a colocar programas como ?Law and Order? e ?E.R.? na rede. Ele também estava envolvido com ?Família Soprano? quando ele trabalhou na Brillstein-Grey Entertainment, companhia de produção que fornece este programa para a HBO.
?Kevin é um executivo muito bom?, disse Lloyd Braun, presidente da ABC Entertainment, que trabalhou com Reilly na Brillstein-Grey. ?Ele tem bom gosto. Ele é bem respeitado. E sua sensibilidade é muito certa para a NBC?.
Mas Reilly irá juntar-se à NBC com a divisão de entretenimento enfrentando um teste severo. Não apenas ?Friends? e ?Frasier? têm que ser substituídos na primeira temporada dele no desenvolvimento, mas a rede também tem preocupações sobre prospectos a longo prazo de programas como ?The West Wing? e ?Ed?. A NBC também pode concluir o que parece ser uma negociação extremamente cara com a Universal Television pelos direitos de três de seus programas de maior sucesso, os dramas ?Law and Order?.
?Isso exigirá toda uma nova série de habilidade de Reilly?, disse um executivo de um estúdio concorrente. ?Ele será testado agora mesmo?.
Reilly disse que ele olhou para o momento de sua chegada na NBC como ?mais oportuna do que arriscada?. Ele notou que a NBC teve uma história de 20 anos de rejuvenescimento de sua programação logo quando os concorrentes estavam perto de decair.
?Como eles vão substituir ?The Cosby Show??, e ?Cheers?? Lembra-se de tudo isso?, disse ele. Eles disseram a mesma coisa de ?Hill Street Blues?. Quando ?L.A. Law? estava para sair, estávamos em apuros e viemos com ?E.R.?. Todos que subestimam a NBC estão cometendo um erro?.
Nem Reilly nem Zucker comentarão sobre os prospectos de Reilly para chegar ao topo do negócio de entretenimento quando Zucker voltar para Nova York.
Disse Reilly, ?Tão bom quanto eu penso que sou, isso não será assunto de apenas um homem?.”