JORNALISMO ONLINE
“Jornalismo online e ensino superior”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 6/8/02
“Começar um artigo com uma pergunta polêmica é sempre bom: em sua opinião, as faculdades de comunicação brasileiras estão preparando bem os alunos para o setor online?
Nas últimas semanas a lista de discussão Jornalistas da Web, que trata de assuntos relacionados ao campo de jornalismo online, foi palco para debates sobre a qualidade das faculdades de comunicação. Tais discussões não foram muito favoráveis ao ensino superior e um dos principais problemas apontados foi a falta de professores de comunicação preparados para passar conhecimentos e pesquisar sobre esse campo.
Entrevistei três pessoas – um estudante, um professor de jornalismo e um coordenador do curso de comunicação de uma universidade carioca -, que deram suas visões do fato respondendo a pergunta acima. Decidi colocar o depoimento dos três entrevistados na íntegra para não cometer injustiças e porque os achei inteiramente proveitosos. Acompanhe abaixo.
Nairon Xavier, aluno do curso de jornalismo da Universidade Federal de Roraima (UFRR)
?As Universidades de comunicação brasileiras ainda não se deram conta da importância que o setor online tem na vida dos acadêmicos de comunicação. Só se preocupam com as outras mídias, e estão levando o setor online com a barriga.
Acho que já está na hora dessas universidades acrescentarem em suas grades curriculares disciplinas relacionadas ao setor online, ou mesmo que se tenha uma formação acadêmica voltada exclusivamente para o jornalismo digital, onde o estudante possa ter cursos de webdesigner, aprender diferentes linguagens da Internet e estudar diferentes formas de se trabalhar os textos e as imagens da melhor forma possível para o seu público alvo.
O que se vê em muitos sites de notícias é que eles muitas vezes colocam a informação do jeito que lhe é passada, não tendo uma preocupação em trabalhar o material que será publicado na Net. Muitas vezes a mesma matéria que está no jornal impresso está na Internet. Temos que buscar um meio para que isso seja trabalhado mais profissionalmente. Com isso, acho que as universidades devem ser as grandes responsáveis por essa mudança.?
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Antonio Queiroga, coordenador do Curso de Comunicação Social da Universidade Veiga de Almeida (RJ), mestre pela ECO/UFRJ em Comunicação e Tecnologia da Imagem e pesquisador das novas tecnologias da comunicação
?Entendo que, pelo menos nos cursos de comunicação que conheço, existe uma grande preocupação não só de preparar os futuros profissionais para a Mídia Digital, mas também em se fazer um estudo crítico sobre essas novas tecnologias. Os currículos foram bem ágeis em introduzir o assunto em Novas Tecnologias em Comunicação, como também, mais recentemente, criar, em uma parcela significativa dos cursos, a cadeira de ?Jornalismo online? (ou denominação semelhante). Isso denota a importância que a tecnologia tem para a nossa área e atividade profissional, como mercado empregador inclusive.
No entanto, isso não significa que seja o suficiente. Na minha opinião, ainda existe campo para se aumentar o preparo do aluno na área, inclusive em termos da carga horária. Uma das distorções mais comuns que vejo é se enfocar essa nova tecnologia de apenas um ponto de vista. Isto é, enfatizar o uso da Mídia Digital como apenas uma nova forma de se publicar informação jornalística.
Acho que é parte da questão. Quando se denomina a disciplina como ?Jornalismo online? só está se dando ênfase ao aspecto do jornalismo que é feito para a Web. Mas, as transformações que a Internet trouxe para o jornalismo vão muito além disso. A Mídia Digital é hoje instrumento fundamental para se fazer jornalismo em todas as mídias, não importa se o resultado vai ser publicado numa página Web, na TV, no rádio ou mesmo no tradicional jornal impresso. A Mídia Digital transformou o ?saber-fazer? jornalístico como um todo.
É por essa razão que, no novo currículo da Veiga de Almeida, essa disciplina está mudando de nome para ?Jornalismo Digital?, com uma ementa que contempla uma visão ampliada do assunto, o que acho dá uma idéia mais clara dessas novas possibilidades.?
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Antonio Brasil, jornalista, professor de telejornalismo da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), onde também coordena o Laboratório de TV, e doutorando em Ciência da Informação pelo convênio IBICT/UFRJ
?As universidades devem preparar o aluno de jornalismo para que ele adquira um conteúdo que será &uuacute;til para toda a sua vida, independente da técnica ou do meio. Falar em ensino de jornalismo ?online? em universidades brasileiras é no mínimo uma brincadeira. A maioria tem um acesso indigente às novas tecnologias e os professores possuem uma vaga idéia do que seja esse tal de jornalismo online. Mal se consegue ensinar ?jornalismo?, quanto mais ensinar as técnicas experimentais de utilização das novas tecnologias num meio ainda tão ?instável? e desconhecido como a Internet.
Não creio que se ensine de verdade jornalismo online no Brasil porque ainda não existe um consenso sobre como ele deve ser. Existe uma enorme variedade de técnicas sendo testadas todos os dias em diversas publicações. Quase todas estão em crise e tentando desesperadamente inventar uma linguagem apropriada ao meio e não uma linguagem adaptada. Creio que jornalismo online não se ensina, se experimenta, se cria todos os dias. O problema é que as nossas universidades não criam nada, elas simplesmente copiam o que o mercado está produzindo.
As faculdades de jornalismo se tornaram cursos técnicos para jovens que buscam desesperadamente não uma profissão ou vocação, mas, simplesmente, buscam, querem e exigem um emprego. Os professores são reféns do tal mercado de trabalho. Não podemos testar novas fórmulas e novas técnicas como seria fundamental para colaborarmos no desenvolvimento de um novo jornalismo na Internet. Por isso é que se vê uma simples adaptação dos meios tradicionais com texto de jornal, fotografia de revista e vídeo de TV mal adaptados para a Rede.
A universidade não tem os recursos necessários para ser ponta de lança nesse processo, vai à reboque, aos trancos e barrancos. Jornalismo online ainda é uma grande salada de tentativas com muitos erros e poucos acertos. Em verdade, muito mais erros do que acertos. Talvez estejamos ensinando o que não fazer. Mas não sabemos muito bem o que ensinar porque a maioria dos professores também desconhece o meio.
Insisto. Universidade não deveria ser cursinho técnico, nem agência de empregos. Universidade deveria preparar o aluno de jornalismo para que ele adquira um conteúdo humanístico que será útil para toda a sua vida, independente da técnica ou do meio. Universidade deveria gerar conhecimento, ensinar os alunos a pensar, ler e escrever. Se não consegue isso, em verdade está provavelmente enganando os alunos dizendo que vai ensinar jornalismo online e arrancar ainda mais dinheiro de gente que mal conhece a Internet. O problema é que o futuro está no jornalismo online. Por enquanto, jornalismo online nas universidades não passa de um ótimo ?marketing? para atrair os ?desavisados?.?
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Eu vi de perto a realidade que Antonio Brasil descreve. Além de Nairon, conversei ainda com outros estudantes de jornalismo. Falei com alguns pessoalmente e pude perceber o desespero em seus rostos. São pessoas querendo conhecer o meio online, porém sem oportunidade ou sem saber para onde correr. Esperemos que nos próximos semestres isso possa melhorar.
Utilize a área abaixo para debater sobre o assunto. Até a próxima!”
“80% dos leitores preferem versão impressa da Folha à eletrônica”, copyright Folha de S. Paulo, 11/8/02
“Passados três anos da proliferação no país de serviços noticiosos pela internet, o leitor da Folha prefere o jornal impresso à sua versão eletrônica.
Pesquisa da Datafolha com leitores da região metropolitana de São Paulo mostra que, dos entrevistados habituados a consultar o jornal tanto no papel quanto na tela, 80% preferem a primeira opção. A leitura no computador é considerada melhor por 17%, e 3% afirmam não ter preferência entre as duas modalidades.
Foram ouvidos 354 leitores entre os dias 15 e 25 de julho. Nenhum dos entrevistados manifestou interesse em deixar de assinar a Folha para acompanhá-la apenas pela internet.
Entre os que lêem as duas versões, 31% consideram que a maior qualidade da impressa é poder ser lida em qualquer lugar. Outras vantagens: possibilidade de visualizar o jornal todo (17%), notícias mais aprofundadas (17%), não perder tempo acessando a internet (10%) e leitura menos cansativa (7%).
Foram citadas como vantagens da consulta on-line: notícias mais atualizadas (42%), rapidez (10%), possibilidade de pesquisar o conteúdo de edições anteriores (5%) e de ler o jornal no trabalho (3%).
Metade (49%) dos entrevistados têm o hábito de acessar a internet. Desse grupo, 17% costumam ler a edição eletrônica da Folha pelo Universo Online -fatia equivalente a 8% do total.
Ainda que esteja arraigado o hábito da leitura do jornal em papel, 48% costumam consultar sites noticiosos ao longo do dia a fim de se manterem atualizados.
Instados a citar espontaneamente quais endereços costumam visitar, os mais mencionados foram UOL (25%), Folha Online (8%), Terra (8%), ?Estado? (5%), iG (4%) e Globo.com (3%). Questionados se costumam acessar a FolhaOnline, 30% disseram que sim.
Informações de mercado
Um exemplo da preferência pela mídia tradicional são as tabelas com informações sobre o mercado financeiro publicadas diariamente no caderno Dinheiro.
Outra pesquisa do Datafolha, feita com leitores de São Paulo em 3 e 4 de julho, mostra que 44% costumam procurar esses dados no jornal impresso. Só 3% declaram buscá-los no site da Folha.”
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“Audiência da Folha Online cresceu 97%”, copyright Folha de S. Paulo, 11/8/02
“A audiência da Folha Online, jornal em tempo real do Grupo Folha, cresceu 97% em um ano. Em julho de 2001, foram 2,36 milhões de páginas vistas diariamente, totalizando 73,16 milhões de page views no mês.
Em julho deste ano, foram 4,65 milhões de page views ao dia, em um total de 144 milhões no mês.
O total de visitantes únicos (número absoluto de internautas que acessam o site ao menos uma vez por dia) também aumentou. Passou de uma média diária de 91.461 pessoas, em julho de 2001, para 165.373 no mês passado, um aumento de 81%.
Audiência
A audiência da Folha Online foi auditada pelo IVC (Instituto Verificador de Circulação) de março de 2001 a abril deste ano.
Desde então, a Folha Online vem fazendo testes com a nova metodologia e o novo software do instituto.
No último mês auditado, a Folha Online aparece como o site noticioso de maior audiência na internet brasileira, seguida pelo Estadão.com e pelo Lancenet, em todos os critérios verificados.
No ranking geral, a Folha Online fica em terceiro lugar, atrás do portal Terra e da Abril.com (que reúne as audiências das revistas do grupo, como ?Veja?, ?Exame? e ?Playboy?).
O IVC não audita outros grandes portais como UOL, BOL, IG e Globo.com.”
MEDICINA & JORNALISMO
“O médico e a mídia”, copyright Jornal do Brasil, 12/8/02
“Vivemos a era da informação. A velocidade dos acontecimentos e os resultados de novas pesquisas nos deixam atordoados e, paradoxalmente, recorremos a mais informações para minimizar nossa ansiedade. Em nosso país, onde a educação e a cultura são insuficientes, a mídia tende a suprir grande parte dessa deficiência. A medicina precisa muito da mídia, particularmente a medicina preventiva, já que o conceito moderno da medicina aponta a própria pessoa como responsável pela sua saúde e, portanto, exige que saiba administrá-la – e quanto mais bem informada estiver, melhor.
Doutores ávidos por espaço nas folhas e na telinha podem causar danos terríveis à sociedade, assim como editores sensacionalistas em busca de maior tiragem ou de ibope são capazes de alimentar falsas esperanças ou até levar o público ao pânico. O poder da mídia é tamanho que o menor deslize que ela cometa exerce um efeito arrasador, afetando o sucesso em qualquer tipo de tratamento. Muitas vezes compromete, do ponto de vista psicológico, a confiança no profissional da saúde e interfere de maneira decisiva na relação entre o médico e o paciente.
Um dos pecados recentes da mídia é garimpar publicações científicas de ponta, resumindo em poucas linhas pesquisas científicas complexas que encerram resultados ainda parciais. Outro perigo – médico e mídia são cúmplices, no caso – é o fascínio da hi-tech, a crença de que máquinas milagrosas resolverão de vez o problema da saúde. Nada mais falso. O império cibernético demanda uma quantidade de exames caros e muitas vezes desnecessários, causando um ônus social imenso e virtualmente implodindo o sistema de saúde. A base de todo tratamento ainda deve ser o exame clínico acurado e a atenção ao paciente. A busca incessante e desmesurada das novidades por parte de alguns profissionais da mídia leva a população a acreditar mais no resultado dos aparelhos do que na pessoa do médico, que a bem da verdade, também tem colaborado, e muito, para essa situação.
Médicos sem experiência em comunicação muitas vezes dão informações apressadas ou arriscam previsões, quando deveriam levar em conta que sempre existem muitas variáveis em jogo, porque a medicina não é uma ciência exata. Em alguns casos, as declarações tomam um caráter alarmista e levam muitas pessoas, por medo exagerado, a deixarem de se submeter a procedimentos e cirurgias necessárias e, em muitos casos, inadiáveis.
Em contrapartida, doenças e acidentes atingindo artistas ou celebridades ajudam, involuntariamente, a divulgar de um modo inusitado, junto ao grande público, detalhes científicos anteriormente restritos à área médica. Isto tem uma participação positiva na prevenção e na proteção da população. O que não deve acontecer é o jornalista se deixar levar pela curiosidade mórbida da população e transformar o artigo em sensacionalismo. De certa forma – descontando o sensacionalismo de algumas publicações -, essas notícias e os artigos dos jornais e das revistas ajudam na maior divulgação de fatos científicos junto ao público e se revelam de utilidade prática para futuros pacientes ou acidentados.
Nos casos de erros médicos, nas falhas do atendimento médico e na omissão de socorro, a população tem na mídia sua grande aliada e ela cumpre bem o seu papel. Mas, num comportamento típico, depois de uma cobertura maciça, abandona o caso quando outros, mais sensacionais, aflorarem nas manchetes.
Por mais complexa que seja a relação entre o médico e a mídia – com o público formando o terceiro vértice do triângulo – devemos todos lutar por um ponto de equilíbrio. No fundo, ninguém é dono da verdade. (O professor Haroldo Jacques é membro da Academia de Medicina do Rio de Janeiro.)”