Friday, 29 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Marqueteiro e pesquisa, o ovo e a galinha

2? TURNO, AGENDA-3

Alberto Dines

Onde começa e quem começa o processo de simplificação política, não se sabe. Sabe-se que é exacerbado pela mídia porque ajuda a vender e a criar expectativas. Sabe-se, também, que há um encadeamento direto e lógico entre a devoção às amostragens e a mitificação dos profissionais de marketing político. Um precisa do outro, a mídia precisa de ambos, sobretudo para enriquecer o seu “hall da fama”.

O “novo” Lula nada tem a ver com o gênio criativo de Duda Mendonça. Foi fruto de um processo de aprimoramento pessoal e existencial aliado a uma opção estratégica do seu partido. O marqueteiro apenas deu toques de caráter cosmético, visuais ou auditivos.

Nos anos 60 e 70, o político que desejasse uma carreira fulminante procurava a professora Esther Leão, no Rio, para fazer um treinamento de empostação de voz e prosódia. O vozeirão de Carlos Lacerda era natural, mas se não fosse “retocado” pela prodigiosa professora teria efeito contrário, assustador. Depois veio a fase de Glorinha Beutenmüller, a miraculosa fonoaudióloga da TV Globo, que consertou vozes e limpou sotaques de tantos políticos. Nenhuma delas foi incensada, mitificada e adorada como o são hoje os marqueteiros em seguida aos “disparos” das pesquisas.

Leonel Brizola, na sua fase áurea, não precisou contratar marqueteiros e mesmo assim veio dos pampas para dominar o Rio. Garotinho não teve marqueteiro; sua mulher, Rosinha, teve o feeling de que a imagem da mulher bem-sucedida era representada pela jornalista Fátima Bernardes e não vacilou: copiou o alisamento japonês adotado nos cabelos pela jornalista e apresentadora da Rede Globo.

Onde começa o processo? Na exagerada importância atribuída aos vendedores de projetos políticos ou nas intensas medições para avaliar seus resultados? Irrelevante: o problema é o mesmo. [continua]