Saturday, 16 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Mas que raios, pá

ÍNDICES DE AUDIÊNCIA

Claudio Weber Abramo (*)

Outro dia, precisando saber uns números para mencionar num relatório sobre a imprensa brasileira, deparei-me com uma dificuldade curiosa: quantas pessoas assistem ao Jornal Nacional, da Globo; quantas pessoas assistem ao jornal do Boris Casoy, na Record? Virei e mexi na internet e, pasmem, só consegui encontrar alguma coisa numa coluna de Alberto Dines, neste Observatório (17/7/2002). Aprendi que, durante a campanha presidencial do ano passado, o JN teve aí por volta de 35 a 40 pontos de audiência nas entrevistas com candidatos. A matéria também informava um tal de "share". Quanto ao jornal do Boris, não teve jeito ? não houve como encontrar números.

Vamos então aos números fornecidos por Dines. Mas vamos aonde? O que raios significa "audiência"? Quantas pessoas, domicílios, papagaios, cômodas, militantes de movimentos ecológicos anti-organismos geneticamente modificados e/ou praticantes de tarô correspondem a um "ponto de audiência"? Imaginando que isso seria fácil, pus-me outra vez à busca. Nada, outra vez. Na verdade, minto: encontrei um interessante glossário sobre coisas televisivas em geral no sítio da internet da Associação Portuguesa de Agências de Publicidade, mas, pá, de pouco me serviu.

Quantas, quantas?

Quanto a "share", além do primeiro passo trivial de imaginar que se trata de "participação", também não consegui avançar. Participação em relação a quê, comparada com quem, calculada com base em que metodologia?

Será que essas coisas têm a ver com o Ibope? Valia uma visita ao sítio deles. Visita outra vez frustrada. O menu de opções oferece diversas possibilidades, quase todas escritas em inglês ("MegaData", "media information" e por aí vai), mas é tudo comercial.

Não despido de alguma ingenuidade, tentei uma alternativa denominada "Ibope inteligência". Bati num lugar que oferece dois produtos (suponho que para o mercado australiano ou neozelandês, países em que se fala o idioma do bardo): o "Industry tracking" e o "Quick Info". Mas necas sobre "ponto de audiência" ou "share".

Assim, fiquei sem saber quantas pessoas, em média, assistem ao Jornal Nacional. Como em algumas horas vou me encontrar com um monte de jornalistas, perguntar-lhes-ei [!]. Não sei se será o caso de perguntar também de onde tiram a informação. Arrisco-me a ouvir de volta que "todo mundo sabe".

(*) Jornalista, secretário-geral da Transparência Brasil <http://www.transparencia.org.br>