Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Matéria premonitória

THE NEW YORK TIMES

Um mês antes dos atentados, o analista de terrorismo Peter Bergen sugeriu a um repórter do New York Times que escrevesse sobre o mais recente vídeo de propaganda da organização de Osama bin Laden. "Claramente, a al-Qaeda estava e está planejando algo", contou ele ao jornalista John Burns, ganhador de dois Pulitzer, que assinou artigo ? publicado no dia 8 de setembro no sítio do NYT ? comentando as declarações ameaçadoras do terrorista. A matéria premonitória de Burns, no entanto, não apareceu na versão impressa do jornal e foi rapidamente retirada de seu arquivo eletrônico.

O repórter acredita que o artigo não saiu por mera falta de espaço: "Não havia nenhum problema real com a matéria", declara. Já Bergen, que conta o episódio no livro Holy War, Inc. (Guerra Santa Incorporated.), acha que a decisão de não publicar a história "é sintomática do fracasso de muitas instituições americanas em perceber a amplitude da ameaça representada pela al-Qaeda". Bernard Gwertzman, editor do Nytimes.com, chama o incidente de "grande confusão": segundo ele, a matéria estava agendada para publicação no dia 9, um domingo, e o sítio ? como sempre faz ? a colocou no ar na tarde de sábado. Quando os editores do NYT decidiram cancelar a história, ligaram no dia seguinte para reclamar com os produtores da página e ela foi tirada do ar. Conta Howard Kurtz [The Washington Post, 10/6/02] que Burns acabou por reaproveitar passagens do texto num artigo maior sobre a organização terrorista, publicado no dia 12 de setembro.

TV AMERICANA

O canal CBS se recusou a veicular um comercial da corretora Charles Schwab, no qual aparecem operadores desonestos que enganam clientes, em cena claramente inspirada nas revelações recentes de irregularidades da corretora Merrill Lynch em Wall Street. A propaganda, informa George Raine, do San Francisco Chronicle [7/6/02], está passando em outras emissoras.

No filme, um corretor comunica aos colegas: “OK, crianças, aqui está a ação mágica de hoje. Temos bons incentivos para vendê-la, então já para o telefone, pois temos um monte de ações para movimentar. Digam aos clientes que esta é coisa quente. Apenas não mencionem o principal: que ela fede. Vamos maquiar este porco. Já para o trabalho!”. Uma voz conclui que “nunca houve época melhor para Charles Schwab”, lembrando que a empresa não paga comissão sobre venda a seus agentes, o que teoricamente garantiria ao cliente uma recomendação vantajosa de compra.

Michael Silver, porta-voz da CBS, nega que o veto ao comercial seja motivado pela relação da emissora com a Merrill Lynch (anunciante maior que a Schwab), que acaba de perder US$ 100 milhões porque o procurador geral Eliot Spitzer comprovou que seus operadores recomendavam ações ruins de má-fé. Para Silver, a propaganda tira a legitimidade de quem trabalha por comissão e lembra que a recusa de anúncios é prática quase diária na CBS.