Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Mazelas do povo e da mídia

JORNALISMO CÍVICO

Márcio Fernandes (*)

Enquanto a mídia nacional ainda se delicia com os devaneios do governo Lula e com a guerra-que-começa-não-começa-no-Iraque, o Brasil real desanda a cada dia, mergulhando num espectro de violência que, a julgar pelos acontecimentos recentes, só tende a aumentar. E os jornalistas, estandartes das liberdades do povo e das suas próprias, não conseguem ou não querem colaborar com a sociedade na busca de soluções coletivas para questões como a criminalidade.

Em vez de, por exemplo, simplesmente aplaudir o plano ufano do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) de assentar 80 mil famílias em quatro anos, de parabenizar indiretamente Lula por ir a Davos falar o óbvio e de ficar reforçando o coro de que George W. Bush é um líder fraco e que Saddam Hussein não é tão ruim assim, a mídia brasileira deveria se voltar um pouco para os Estados Unidos da América e buscar lá, nas práticas de jornalismo cívico, alternativas para a violência que consome a regiões como Foz do Iguaçu (PR), entre outras, pelo território nacional.

A resposta está lá fora

Tudo bem que o Poder Público fique bravo com a CNN por insistir em tachar a tríplice fronteira Foz do Iguaçu-Ciudad del Este-Puerto Iguazu de área de suspeita de terrorismo internacional. Tubo bem que o Poder Público se chateie pelo fato de a TV americana exibir um episódio do desenho Os Simpsons mostrando o Rio de Janeiro como um lugar de bárbaros. Na falta de competência, resta ao Poder Público chorar mazelas, tão somente. Esse papel, contudo, não cabe à mídia.

Vejamos o caso de Foz, lugar de referência turística mundial: ultimamente, não há um fim de semana sem homicídio. Dia desses, o presidente da Câmara de Vereadores local foi baleado em pleno centro da cidade, durante o dia, numa provável atitude de vingança, motivada por razões sabe-se lá quais. Ultrapassar a Ponte da Amizade em direção ao Paraguai é uma aventura em diversos aspectos, já que a probabilidade de ser assaltado é enorme, para motoristas e pedestres. No lado paraguaio, bem próximo da fronteira, há uma cidade denominada Hernandárias, povoada de brasileiros plantadores de soja. Em Foz, não há um único taxista que se anime a levar turistas a Hernandárias, pelo incrível número de assaltos recentes na estrada que liga Ciudad a esse município brasiguaio.

Agora, pergunta-se: nos últimos meses, o que a mídia brasileira fez de concreto para tentar alterar esse cenário, além de simplesmente retratar essa violência toda e de noticiar ainda episódios isolados, como um movimento pela paz em Foz que reuniu 20 mil pessoas num único dia, organizado por segmentos da sociedade civil? Fez pouco, pouco mesmo. Portanto, talvez seja o momento adequado de buscarmos respostas fora do país. O jornalismo cívico pode ser uma excelente alternativa.

(*) Jornalista e professor universitário no Paraná