GOVERNO LULA
A. D.
Título da capa da independentíssima IstoÉ (08/01): "O Povo no Poder". Convém anotar: no regime democrático, com eleições livres e honestas, quem que quer seja eleito representa a vontade popular. Ganhasse Garotinho, Ciro ou Serra, e não Lula, não seria diferente ? o povo também teria manifestado a opinião majoritária.
Sob nova direção, a Editora Três, quer branquear-se (ou rosar-se) perante o governo que assume. Só pelos títulos de algumas matérias da posse, já merece o carinho de Luiz Gushiken: "Uma outra história" (foto de Lula e FHC), "Woodstock da democracia" (foto da garotada banhando-se no espelho d?água diante do Congresso), "Um jeito petista de ser".
Já O Globo, que vem mantendo um elogiável comedimento, mandou brasa na manchete do dia da posse (1/01): "Primeiro presidente de esquerda, Lula assumirá pregando conciliação". Erro histórico: o primeiro presidente de esquerda foi João Belchior Goulart.
Não importa se Jango chegou ao poder pela renúncia do presidente eleito, Jânio Quadros, ou porque não soubesse conciliar não tenha completado o mandato. Mas Jango foi eleito pelo voto direto com uma votação espetacular (o voto para vice era desvinculado), empossado legalmente depois de uma séria crise institucional e, num plebiscito posterior ? legítimo e reconhecido pela Justiça Eleitoral ? teve os poderes restituídos através do retorno ao regime presidencialista, com esmagadora maioria. Jamais escondeu suas preferências políticas, que hoje estariam à esquerda de Lula.
É natural que nos grandes momentos a mídia se deixe levar pelo entusiasmo. Um pouco mais de cuidado em matéria de história contemporânea valorizaria ainda mais a justa animação.