CORDA NO PESCOÇO
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Agora é oficial: a Associação Nacional de Jornais (ANJ), a Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner) e a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) anunciam que irão propor ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) uma política de financiamento para as empresas da indústria de comunicação social. Para evitar especulações, as entidades divulgaram uma nota oficial na qual destacam que a proposta será semelhante aos projetos que "já existem para os demais setores da economia, que contam com recursos do BNDES para suas operações".
O projeto está a cargo da "butique de investimentos" MS&CR2 ? Finanças Corporativas, empresa criada em setembro de 2002 pela ex-"dama de ferro" da CSN Maria Sílvia Bastos Marques, em associação com Cláudio Coutinho e Carlos Guedes, do banco de investimentos CR2, sediado no Rio. Apesar de não terem sido divulgados detalhes da encomenda feita à MS & CR2, sabe-se que uma das formas de captação de investimentos que têm sido aventadas, pelo menos entre gestores de grandes jornais, teria como garantia a preferência na negociação dos 30% do capital disponíveis para sócios estrangeiros. Como a crise se concentra nos grandes jornais das regiões Sudeste e Sul, também é provável que o grosso dos recursos a serem demandados ao BNDES seja destinado aos títulos mais visíveis.
Também é motivo de comentários o fato de que o afastamento da família Mesquita dos cargos de direção do Grupo O Estado de S.Paulo teria facilitado o início do projeto, uma vez que não havia, na situação anterior, consenso sobre os limites das concessões numa negociação desse tipo. Para alguns analistas, embora não se possa falar em um "Proer das comunicações", a exemplo do programa de reestruturação do sistema financeiro criado no governo Fernando Henrique Cardoso, é inevitável que se leve em consideração o peso dos potenciais beneficiários no momento das negociações. Não por outra razão, mas para prevenir especulações que poderiam colocar em dúvida a lisura do futuro acordo, o comunicado conjunto distribuído na segunda-feira, 29/9, pela ANJ, Aner e Abert reafirma seus "princípios de total independência em relação a governos e partidos políticos".
A nota oficial
"Com a transparência que deve orientar as ações do setor de mídia, a ANJ (Associação Nacional de Jornais), a ANER (Associação Nacional de Editores de Revistas) e a ABERT (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) comunicam que estão preparando uma proposta de política de financiamento para as empresas da indústria de comunicação social, para ser apresentada e discutida com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O objetivo é a criação de um programa de apoio às atividades das empresas do setor, a exemplo dos que já existem para os demais setores da economia, que contam com recursos do BNDES para suas operações. Para assessorá-las nesse projeto estas entidades contrataram a MS&CR2 ? Finanças Corporativas Ltda.
"As três entidades representam mais de duas mil empresas de mídia nacionais, empregadoras de dezenas de milhares de brasileiros e responsáveis pela divulgação da informação, entretenimento e cultura em todo o País.
"A ANJ, a ANER e a ABERT reafirmam seus princípios de total independência em relação a governos e partidos políticos. Brasília, 29 de setembro de 2003. ANJ, ANER e ABERT"