Tuesday, 24 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Mídia tem obrigação de cobrir

FÓRUM SOCIAL MUNDIAL

Rafael Limberger Hochegger (*)

Nestes dias que antecedem o 2? Fórum Social Mundial (FSM), a ser realizado em Porto Alegre de 31 de janeiro a 5 de fevereiro, presenciamos, aqui no Sul, um fenômeno de inversão de valores que pode assustar os mais incautos.

Na Fórum do ano passado, fomos imensamente ignorados pela grande imprensa oficial. Por grande imprensa oficial digamos todos os veículos do Grupo Globo, RBS, Folha e afins. Foram milhares de pessoas, centenas de oficinas, dezenas de palestras e várias conferências, que discutiram a ordem mundial e os novos paradigmas que compõem o mundo neocapitalista. A atuação dos jornais: criticar as manifestações e a queima de uma plantação transgênica da Monsanto na cidade gaúcha de Não-Me-Toque e a presença de ativistas respeitados mundialmente que só aqui, nesta terra inculta, não são conhecidos.

Naquele Fórum, que contou até com a presença das Mães da Praça de Maio, foi dado o pontapé inicial para um novo pensamento de inclusão e o fim das mazelas sociais, sem precedentes num contexto mundial. Pela primeira vez, um evento de tal magnitude era realizado numa cidade de um país subdesenvolvido. Ainda por cima, este "crime" foi um sucesso de público.

Claro que houve problemas e falhas mas, como evento idealizado por seres humanos, era passível de erros e acertos. O presidente da República preferiu criticar o evento, em vez de elogiar uma iniciativa de nível social mundial (lembramos aos desligados que Fernando Henrique Cardoso é sociólogo de carteirinha). O presidente nem se dignou a aparecer por aqui, preferindo o caviar e o champanhe de Davos ao calor humano do FSM, onde milhares de pessoas discutiram Um outro Mundo Possível. Atitude até compreensível por sua baixa popularidade entre os que acreditam que este sistema está errado.

Como reflexos diretos do 1? Fórum Social Mundial, diversas outras manifestações foram realizadas mundo afora, como em Nova York, Genebra e Gênova. Na cidade italiana, um jovem foi assassinado pela polícia.

O 2? Fórum está para começar e, como não há jeito de a imprensa novamente ignorar o evento, busca estratégia mais subliminar: puxar a sardinha para sua brasa, tentando orientar (como se fosse capaz) o formato do encontro. Refiro-me aos jornais gaúchos, pois, creio, novamente o centro do país simplesmente ignorará o fato de que em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, está para acontecer um evento de nível mundial que discutirá, e, nesta edição com muito mais direção e profundidade, a política mundial. Não será apenas mais um encontro de jovens e baderneiros que se reúnem para beber, fazer sexo e algumas manifestações contra instituições mundiais. Será uma oportunidade para que jovens, intelectuais, políticos, sociólogos, economistas, pedagogos, enfim, toda uma gama de profissionais e estudantes mostrem a todos como podemos ir contra a hegemonia atual sem guerras nem violência.

Dose repetida

O tema de fundo deste Fórum é o mundo depois dos atentados e a paz. Provaremos, com isso, que as pessoas que realmente se interessam por um mundo melhor não buscam esse objetivo com bombas, rifles e granadas. Queremos mostrar que o futuro da humanidade está nas mãos de homens e mulheres pacíficos, mas taxados de reacionários porque ousam dizer não ao capital especulativo. Homens e mulheres amantes da vida, mas que aparecem como radicais por não concordarem com a fome no mundo nem com as desigualdades sociais. Enfim, pessoas que pensam um mundo mais igualitário, mas que os donos do poder preferem ver como revolucionários simplesmente porque dizem não.

Hoje, estamos polarizados em dois planos: a imprensa gaúcha que procura aproximar o Fórum de seus próprios ideais e a imprensa nacional que "ignora" o fato de que em seu país estão sendo discutidas alternativas para a corrupção, a miséria, a fome e a exclusão social. Com isso, temos que procurar alternativas.

Os jornais do Sul não conseguirão pautar o evento. O Fórum terá caminhadas, queima de bandeiras em frente a multinacionais e um acampamento da juventude, onde mais de 10 mil jovens se hospedarão durante o evento. Teremos oficinas, palestras e relatos de vivências. Veículos de comunicação do restante do país têm que informar sobre este evento que marcará novamente o mundo. Jornal, tanto eletrônico como impresso, é serviço de utilidade pública (pelo menos em teoria). Portanto, têm de servir à população, não a seus editores.

A largada foi dada. Da primeira vez, os participantes do Fórum foram vistos como idealistas e "baderneiros". Só que cometemos um "erro" terrível: vamos repetir o evento e, ainda por cima, fixaremos no calendário esta data com uma participação mundial cada vez maior. A hora é esta e o mundo está chamando por você.

(*) Estudante de Jornalismo