"Itamar diz que está ‘impressionado’ com ‘execração’ de senador baiano", copyright Folha de S. Paulo, 26/02/01
"O governador de Minas Gerais, Itamar Franco (sem partido), disse ontem, por meio de nota da sua assessoria, que está ‘‘impressionado’ com a ‘execração’ do senador baiano Antonio Carlos Magalhães (PFL) por parte de políticos, governistas ou da oposição, e por parte da mídia brasileira.
Sem nominar os órgãos de imprensa ou pessoas, o governador de Minas Gerais disse: ‘Estou impressionado, embora não devesse mais estar, face a tantos anos de vida pública. O que se viu, há cerca de dez dias atrás, foi a adjetivação elogiosa, inclusive de certos cronistas e repórteres especializados na área política e da oposição brasileira que estavam a bajular o senador da Bahia e ex-presidente do Congresso, quando este deixava o cargo’.
O governador completou: ‘E agora, o que vimos? Uma análise melancólica da nossa imprensa, que, mais uma vez, serve ao poder e torna esse senador uma figura execrável’.
Relações com ACM
Itamar disse que pode fazer tais afirmações porque nunca manteve ‘boas relações com o senador Antonio Carlos Magalhães’ -quando foi presidente da República (1992 a 1994), ele viveu às turras com ACM, que era governador da Bahia.
Segundo ele, ‘é incrível perceber o servilismo de grande parte da mídia ao atual detentor do poder no país (o presidente Fernando Henrique Cardoso, de quem Itamar é adversário)’.
Sobre a oposição ao governo de Fernando Henrique Cardoso, Itamar afirmou: ‘A oposição brasileira, que ora aplaude esse ato mesquinho da imprensa, vai ver o que lhe acontecerá em 2002, quando esse poder bajulador de certa imprensa se virar contra ela. É só aguardar’."
Renata Lo Prete
"Outras palavras", copyright Folha de S. Paulo, 4/03/01
"‘Marta vai criar curso de francês na periferia’, assegurou o título de uma reportagem no caderno Cotidiano de sexta-feira.
Não surpreende que a combinação Marta-francês-periferia tenha excitado o jornalista à procura de um enunciado vistoso. Mas quem se deu ao trabalho de ler o texto descobriu, logo no primeiro parágrafo, informação diferente.
A parceria acertada na viagem da prefeita a Paris ‘poderá viabilizar a implantação de cursos de francês’ em regiões pobres de São Paulo. Marta manifestou a ‘intenção’ de implantar escolas de idiomas na periferia. ‘Não tenho a mais leve idéia de quando vou começar isso’, acrescentou. Com tantas ressalvas, em que se baseou a certeza do título?
Dois dias antes, outro contraste, na capa do jornal: ‘Agências vetam investimento na Argentina’. Em seguida: ‘JP Morgan, Merrill Lynch e Bear Sterns aconselharam seus clientes a evitar a Argentina’. Não é difícil perceber a distância entre as duas afirmações.
Os casos se assemelham a um terceiro, também ocorrido na capa e mencionado aqui há duas semanas. ‘Cai na segunda-feira’ o veto do Canadá à carne brasileira, previa o título. Abaixo, no texto, o veto não ‘cai’ mais. ‘Pode cair’, de acordo com funcionário do Ministério da Agricultura.
No dia seguinte, em vez de reconhecer que se afobara, a Folha resolveu o problema com uma nova reportagem. Segundo ela, o entrevistado ‘recuara’ de suas declarações (em essência, as mesmas que ele havia dado na véspera).
São exemplos em série a mostrar falta de critério na escolha das palavras, como se a limitação de espaço e o desejo de atrair leitura desculpassem toda sorte de distorções.
O descompasso entre título e texto é uma das manifestações do problema. Outra é o hábito de reescrever a história com pequenas mudanças de uma edição para outra, em uma espécie de telefone sem fio do jornal consigo mesmo. A cada dia a informação se distancia um pouco da original, até transformar-se por completo.
Quando voltou para o Corinthians, há pouco menos de um mês, Wanderley Luxemburgo disse que ‘a seleção é a consagração de qualquer treinador’. Completou: ‘O Corinthians foi o clube que me projetou para a seleção. É sempre uma força muito grande’.
Conclusão: ‘Luxemburgo vê time como trampolim para seleção’. Forçada, sem dúvida, mas ainda é possível alegar que se tratou de interpretação.
Não no dia seguinte: ‘A declaração de que (o técnico) pretende usar o Corinthians como trampolim para voltar à seleção serviu para persuadir o grupo a se esforçar’. Tal ‘declaração’ jamais existiu.
A questão não é Luxemburgo, cujos negócios a Folha pode e deve investigar. Nem estabelecer se ele pretende ou não usar o clube. Importa é observar que o jornal, como quem não quer nada, coloca suas idéias na boca dos outros.
Há ainda a prática de repetir imprecisões até que se cristalizem. Não há texto que mencione o ‘dossiê Caribe’ sem explicar que são ‘papéis sem autenticidade comprovada sobre suposta conta de tucanos’.
Errado. São papéis que se mostraram falsos. Nada impede que existam outros, verdadeiros. O jornal que trate de procurá-los. Não vale é maquiar a definição para elevar o ‘valor de face’ do material conhecido. Preciosismo? Só para quem desconsidera que do bom uso das palavras depende a credibilidade do jornal.
Desenrolando fitas
Conforme prometera, o procurador Luiz Francisco de Souza veio a público esclarecer como gravou e divulgou para a imprensa a reunião que ele e dois colegas tiveram com o senador Antonio Carlos Magalhães. Dúvidas sobreviveram a essas explicações. Infelizmente, nenhuma exposta com clareza na reportagem que a Folha publicou na quinta-feira.
Como observei na crítica interna, não se trata de mover campanha contra o procurador nem de deixar sem exame as acusações registradas na conversa.
É apenas cumprir a obrigação de apontar as incongruências da história contada por ele, visíveis para qualquer um que tenha acompanhado sua entrevista pela TV. Luiz Francisco estava (e continua) ‘enrolado em fitas’, como bem resumiu o título do ‘Globo’.
Inteiramente apoiada nas declarações dele, a reportagem não mencionou o relatório do procurador-chefe do Distrito Federal, que contestou parte dos diálogos apresentados pela ‘IstoÉ’ e, por tabela, a versão de Luiz Francisco.
Crédulo, o texto trouxe no penúltimo parágrafo o único registro sobre a rocambolesca passagem da destruição das fitas ‘com o pé, trincando o invólucro plástico, deixando os restos no chão para serem jogados no lixo’.
A omissão continuou no dia seguinte. Além de deixar o caso em pé de página, a Folha foi o único dos principais diários a não dizer com todas as letras que o procurador recuara de suas alegações sobre o destino da(s) fita(s).
Boa notícia: a cobertura melhorou sensivelmente na edição de ontem. O jornal não pode transmitir ao leitor a impressão de que deixa Luiz Francisco passar sem questionamento na esperança de se beneficiar de seus vazamentos.
Fontes murmurantes
No sábado de Carnaval, a Folha informou que será ‘ampla’ a reforma ministerial deflagrada pela queda dos dois afilhados de Antonio Carlos Magalhães.
Os termos cautelosos da reportagem (‘Fernando Henrique Cardoso sinalizou que estuda fazer uma ampla reforma’) não impediram o jornal de dedicar à previsão de suas fontes título no alto da página e dezenas de centímetros de texto. Também não chamou atenção que o ‘Painel’ do mesmo dia descrevesse como ‘minirreforma’ o que vem por aí.
Pois bem. Na sexta-feira, com menos de uma semana de intervalo, um novo título avisou que a ‘mudança mais ampla perde força no Planalto’. ‘A Folha apurou que cresce a tese defendida por parte dos auxiliares do presidente de restringir as trocas aos dois ministérios.’ Para que dar espaço e visibilidade de notícia a um bastidor volátil que cabe perfeitamente em uma nota?
‘O jornal não deve se preocupar com a micropolítica’, responde o Valdo Cruz, diretor-executivo da Sucursal de Brasília. ‘Mas creio que não é o caso atual, que envolve uma reforma ministerial planejada em meio a uma crise em toda a base parlamentar do governo. Não bastasse isso, está em jogo a sucessão presidencial.’
Ele defende as duas reportagens sob o argumento de que, ‘em momentos de crise, o jornal precisa apresentar ao leitor relatos que o aproximem dos bastidores’.
Sem dúvida, mas cabe discutir a relevância do que é apresentado. Sempre se pode alegar que antes a tendência era uma, agora é outra, amanhã talvez volte a ser a anterior. Isso não apaga a constatação de que o leitor é enrolado com especulações desimportantes, não raro próximas da cascata."
Veja
MEMÓRIAS DAS TREVAS, VERSÃO ÁUDIO
"Itamar diz que está ?impressionado? com ?execração? de senador baiano", copyright Folha de S. Paulo, 26/02/01
"O governador de Minas Gerais, Itamar Franco (sem partido), disse ontem, por meio de nota da sua assessoria, que está ??impressionado? com a ?execração? do senador baiano Antonio Carlos Magalhães (PFL) por parte de políticos, governistas ou da oposição, e por parte da mídia brasileira.
Sem nominar os órgãos de imprensa ou pessoas, o governador de Minas Gerais disse: ?Estou impressionado, embora não devesse mais estar, face a tantos anos de vida pública. O que se viu, há cerca de dez dias atrás, foi a adjetivação elogiosa, inclusive de certos cronistas e repórteres especializados na área política e da oposição brasileira que estavam a bajular o senador da Bahia e ex-presidente do Congresso, quando este deixava o cargo?.
O governador completou: ?E agora, o que vimos? Uma análise melancólica da nossa imprensa, que, mais uma vez, serve ao poder e torna esse senador uma figura execrável?.
Relações com ACM
Itamar disse que pode fazer tais afirmações porque nunca manteve ?boas relações com o senador Antonio Carlos Magalhães? -quando foi presidente da República (1992 a 1994), ele viveu às turras com ACM, que era governador da Bahia.
Segundo ele, ?é incrível perceber o servilismo de grande parte da mídia ao atual detentor do poder no país (o presidente Fernando Henrique Cardoso, de quem Itamar é adversário)?.
Sobre a oposição ao governo de Fernando Henrique Cardoso, Itamar afirmou: ?A oposição brasileira, que ora aplaude esse ato mesquinho da imprensa, vai ver o que lhe acontecerá em 2002, quando esse poder bajulador de certa imprensa se virar contra ela. É só aguardar?."
"Outras palavras", copyright Folha de S. Paulo, 4/03/01
"?Marta vai criar curso de francês na periferia?, assegurou o título de uma reportagem no caderno Cotidiano de sexta-feira.
Não surpreende que a combinação Marta-francês-periferia tenha excitado o jornalista à procura de um enunciado vistoso. Mas quem se deu ao trabalho de ler o texto descobriu, logo no primeiro parágrafo, informação diferente.
A parceria acertada na viagem da prefeita a Paris ?poderá viabilizar a implantação de cursos de francês? em regiões pobres de São Paulo. Marta manifestou a ?intenção? de implantar escolas de idiomas na periferia. ?Não tenho a mais leve idéia de quando vou começar isso?, acrescentou. Com tantas ressalvas, em que se baseou a certeza do título?
Dois dias antes, outro contraste, na capa do jornal: ?Agências vetam investimento na Argentina?. Em seguida: ?JP Morgan, Merrill Lynch e Bear Sterns aconselharam seus clientes a evitar a Argentina?. Não é difícil perceber a distância entre as duas afirmações.
Os casos se assemelham a um terceiro, também ocorrido na capa e mencionado aqui há duas semanas. ?Cai na segunda-feira? o veto do Canadá à carne brasileira, previa o título. Abaixo, no texto, o veto não ?cai? mais. ?Pode cair?, de acordo com funcionário do Ministério da Agricultura.
No dia seguinte, em vez de reconhecer que se afobara, a Folha resolveu o problema com uma nova reportagem. Segundo ela, o entrevistado ?recuara? de suas declarações (em essência, as mesmas que ele havia dado na véspera).
São exemplos em série a mostrar falta de critério na escolha das palavras, como se a limitação de espaço e o desejo de atrair leitura desculpassem toda sorte de distorções.
O descompasso entre título e texto é uma das manifestações do problema. Outra é o hábito de reescrever a história com pequenas mudanças de uma edição para outra, em uma espécie de telefone sem fio do jornal consigo mesmo. A cada dia a informação se distancia um pouco da original, até transformar-se por completo.
Quando voltou para o Corinthians, há pouco menos de um mês, Wanderley Luxemburgo disse que ?a seleção é a consagração de qualquer treinador?. Completou: ?O Corinthians foi o clube que me projetou para a seleção. É sempre uma força muito grande?.
Conclusão: ?Luxemburgo vê time como trampolim para seleção?. Forçada, sem dúvida, mas ainda é possível alegar que se tratou de interpretação.
Não no dia seguinte: ?A declaração de que (o técnico) pretende usar o Corinthians como trampolim para voltar à seleção serviu para persuadir o grupo a se esforçar?. Tal ?declaração? jamais existiu.
A questão não é Luxemburgo, cujos negócios a Folha pode e deve investigar. Nem estabelecer se ele pretende ou não usar o clube. Importa é observar que o jornal, como quem não quer nada, coloca suas idéias na boca dos outros.
Há ainda a prática de repetir imprecisões até que se cristalizem. Não há texto que mencione o ?dossiê Caribe? sem explicar que são ?papéis sem autenticidade comprovada sobre suposta conta de tucanos?.
Errado. São papéis que se mostraram falsos. Nada impede que existam outros, verdadeiros. O jornal que trate de procurá-los. Não vale é maquiar a definição para elevar o ?valor de face? do material conhecido. Preciosismo? Só para quem desconsidera que do bom uso das palavras depende a credibilidade do jornal.
Desenrolando fitas
Conforme prometera, o procurador Luiz Francisco de Souza veio a público esclarecer como gravou e divulgou para a imprensa a reunião que ele e dois colegas tiveram com o senador Antonio Carlos Magalhães. Dúvidas sobreviveram a essas explicações. Infelizmente, nenhuma exposta com clareza na reportagem que a Folha publicou na quinta-feira.
Como observei na crítica interna, não se trata de mover campanha contra o procurador nem de deixar sem exame as acusações registradas na conversa.
É apenas cumprir a obrigação de apontar as incongruências da história contada por ele, visíveis para qualquer um que tenha acompanhado sua entrevista pela TV. Luiz Francisco estava (e continua) ?enrolado em fitas?, como bem resumiu o título do ?Globo?.
Inteiramente apoiada nas declarações dele, a reportagem não mencionou o relatório do procurador-chefe do Distrito Federal, que contestou parte dos diálogos apresentados pela ?IstoÉ? e, por tabela, a versão de Luiz Francisco.
Crédulo, o texto trouxe no penúltimo parágrafo o único registro sobre a rocambolesca passagem da destruição das fitas ?com o pé, trincando o invólucro plástico, deixando os restos no chão para serem jogados no lixo?.
A omissão continuou no dia seguinte. Além de deixar o caso em pé de página, a Folha foi o único dos principais diários a não dizer com todas as letras que o procurador recuara de suas alegações sobre o destino da(s) fita(s).
Boa notícia: a cobertura melhorou sensivelmente na edição de ontem. O jornal não pode transmitir ao leitor a impressão de que deixa Luiz Francisco passar sem questionamento na esperança de se beneficiar de seus vazamentos.
Fontes murmurantes
No sábado de Carnaval, a Folha informou que será ?ampla? a reforma ministerial deflagrada pela queda dos dois afilhados de Antonio Carlos Magalhães.
Os termos cautelosos da reportagem (?Fernando Henrique Cardoso sinalizou que estuda fazer uma ampla reforma?) não impediram o jornal de dedicar à previsão de suas fontes título no alto da página e dezenas de centímetros de texto. Também não chamou atenção que o ?Painel? do mesmo dia descrevesse como ?minirreforma? o que vem por aí.
Pois bem. Na sexta-feira, com menos de uma semana de intervalo, um novo título avisou que a ?mudança mais ampla perde força no Planalto?. ?A Folha apurou que cresce a tese defendida por parte dos auxiliares do presidente de restringir as trocas aos dois ministérios.? Para que dar espaço e visibilidade de notícia a um bastidor volátil que cabe perfeitamente em uma nota?
?O jornal não deve se preocupar com a micropolítica?, responde o Valdo Cruz, diretor-executivo da Sucursal de Brasília. ?Mas creio que não é o caso atual, que envolve uma reforma ministerial planejada em meio a uma crise em toda a base parlamentar do governo. Não bastasse isso, está em jogo a sucessão presidencial.?
Ele defende as duas reportagens sob o argumento de que, ?em momentos de crise, o jornal precisa apresentar ao leitor relatos que o aproximem dos bastidores?.
Sem dúvida, mas cabe discutir a relevância do que é apresentado. Sempre se pode alegar que antes a tendência era uma, agora é outra, amanhã talvez volte a ser a anterior. Isso não apaga a constatação de que o leitor é enrolado com especulações desimportantes, não raro próximas da cascata."
"As fitas! Mas que fitas? Ora, as fitas…", copyright Veja, 7/03/01
"Num país em que fitas são encontradas sob viadutos, não causa surpresa o rocambole da semana passada. No início, apareceu na revista IstoÉ o conteúdo da conversa que o senador Antonio Carlos Magalhães teve com três procuradores do Ministério Público, em Brasília. O conteúdo foi apresentado de forma a induzir o leitor a julgar que se tratava de uma transcrição literal, o que só é possível a partir de uma gravação. Agora, a revista traz o que diz ser uma transcrição literal de verdade, e há diferenças entre a primeira e a segunda. Numa, quem diz que ACM não deve revelar que sabe como votaram os senadores na cassação de Luiz Estevão é o próprio ACM. Na outra, a frase aparece na boca de seu assessor de imprensa, o jornalista Fernando César Mesquita, que estava presente à conversa. Numa, ACM garante que, se for quebrado o sigilo bancário de Eduardo Jorge, ex-secretário-geral do Palácio do Planalto, o presidente Fernando Henrique ficará em apuros. Na outra, o sigilo bancário vira sigilo telefônico – o que é bem diferente.
Em qual versão se deve acreditar?
A conversa foi gravada por iniciativa do procurador Luiz Francisco de Souza. Um aparelho ficou na sala ao lado, rodou apenas uma fita, mas a gravação saiu inaudível em aparelhos comuns. O outro ficou no bolso do procurador, rodou duas fitas e captou trechos do diálogo. Acabam aí as certezas. O procurador, em uma semana, despachou uma nota oficial e deu entrevistas sem fim, apresentando todas as versões possíveis. Ora dizia que o conteúdo publicado era literal, ora que era ?quase? literal. Ora dizia que as fitas foram quebradas, ora que estavam guardadas. Ora que as entregara a seus colegas, ora que as tinha em seu poder.
Em qual versão se deve acreditar?
Na semana passada, a oposição no Congresso decidiu não acreditar em nada. Desistiu de pedir a cassação de ACM. De um lado, porque não quis enfraquecer o novo adversário do governo. De outro, porque a fidelidade da primeira reprodução do diálogo foi posta em dúvida até pelos interlocutores presentes à reunião em que as fitas foram gravadas. Ficou difícil dizer se o senador, de fato, falou que sabia como todos os senadores votam, declarando que a petista Heloísa Helena votou contra a cassação de Luiz Estevão. Na segunda reprodução, essa versão é mantida, com pequenas alterações. Mas existe uma terceira versão, relatada pelo próprio Luiz Francisco, segundo a qual ACM começou falando conhecer os votos de todos os senadores e acabou fazendo uma análise do processo político, deixando transparecer que sua certeza sobre o voto da senadora Heloísa Helena advinha de uma convicção pessoal, e não de provas documentais. ?Não podemos duvidar de que ele tenha violado o painel, mas também não dá para afirmar?, diz o procurador. Se a oposição achar que agora, com a nova transcrição, a coisa é verdadeira, então pode voltar a pedir a cassação do senador. Ou talvez queira esperar que a fita chegue ao Senado, onde foi oficialmente requisitada, para que ouvidos mais apurados saibam, afinal de contas, o que se conversou naquele encontro no Ministério Público."