Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Mentira de pernas longas

CAROLINA FERRAZ

Antônio Lemos Augusto (*)

Li uma entrevista com a atriz Carolina Ferraz, aquela que é protagonista de um comercial do adoçante ZeroCal. A entrevista foi feita por um jornalista conceituado (Alessandro Porro) e veiculada na revista Uma, edição de janeiro. O jornalista, na matéria, afirma que Carolina toma café com bastante açúcar, pois "ela detesta adoçantes, refrigerantes light e comidas dietéticas".

Onde está a ética, tanto da atriz quanto da agência de publicidade? A intenção de colocar uma atriz magrinha, bonitinha, em comercial de adoçantes afirmando que toma o tal produto é, sem sombra de dúvida, para convencer o telespectador de que o produto é bom: basta comprá-lo para ganhar o corpinho que sempre se pediu a Deus. O outro protagonista do comercial é o ator José Mayer: será que ele também odeia adoçantes?

Há alguns anos a apresentadora Angélica dançava com crianças para fazer o comercial do Biotônico Fontoura. Poucos meses depois, o Ministério da Saúde mandou retirar o produto das lojas porque não surtia efeito. Ou seja, a atriz ajudou a vender gato por lebre e saiu impune.

Antes, só bonitinha

Outro produto que o Ministério da Saúde mandou retirar do mercado foi o Merthiolate. O produto voltou com tudo agora, apostando na imagem do ator José Wilker. O ator garante que o produto mudou. Garante, mesmo? Ou só o faz por causa do cheque no bolso?

Não se questiona o direito de agências de publicidade e empresas contratarem pessoas famosas para fazer anúncios de produtos. O que se questiona é o sujeito afirmar que usa tal produto e mentir, ludibriando o fã.

Vamos agora fazer um paralelo para as campanhas políticas, também dominadas pelos publicitários. Contratam-se cantores e atores para apresentar shows em comícios, emprestando fama e credibilidade ao candidato. Como pode um Nerson da Capitinga da vida, com reduto eleitoral em determinado estado ? provavelmente Minas Gerais, de onde é originário ? ir a Mato Grosso dizer que fulano é bom ou chegar a Goiás e afirmar que tal candidato é decente? Faz por confiar em ambos, como ocorreu na última campanha ao governo estadual, ou porque o marqueteiro o contratou?

Não sou publicitário e pouco entendo do setor. Falo como consumidor que cada vez mais confunde a publicidade que se tem feito com meios de ludibriar a boa fé do cidadão. Se Carolina Ferraz, para mim, antes não passava de uma bonitinha da TV, hoje ganhou o adjetivo de mentirosa, de acordo com a reportagem da revista Uma. E tal adjetivo se estende à agência que a contratou.

(*) Jornalista em Cuiabá, coordenador do boletim semanal Imprensa Ética. E- mail: <arlaarla@terra.com.br>