VASCO COM SBT
Marinilda Carvalho
Esta fanática tricolor nunca imaginou que um dia pudesse reconhecer algum valor no cartola-mastodonte Eurico Miranda – tirando aquela invejazinha natural dos times rivais pelo empenho do dirigente vascaíno em prol das causas de seu clube. Mas agora não dá para não comentar: foi uma hilária vingança do cartola-energúmeno a idéia de pespegar a logomarca do SBT nas camisas do Bacalhau em plena final da Copa João Havelange, no dia 18 – transmitida, como todos sabem, em cadeia nacional APENAS pela Globo e seu canal-filhote, o pago Sportv.
Uma vingança muitíssimo bem-humorada, considerando-se o tratamento irado que a Globo deu ao drama do dia 30 em São Januário, com 40 mil pessoas presentes. Absurdamente desproporcional à cobertura suave do incêndio que envolveu 200 pessoas nos estúdios da emissora. Desproporção constatada ao se comparar a gravidade dos ferimentos nos dois casos.
Mas que baita surpresa a nova camisa do Bacalhau! O arrogantíssimo Vasco entrou em campo atrasadíssimo, como sempre. E quando apareceu com aquela logomarca na camisa, NINGUÉM teve coragem de comentar! Como pode? Era a principal notícia do evento! Nem Globo nem Sportv falaram a respeito. Comeram um moscão! Não é inacreditável?
Mas teve coisa pior – que beneficiou as Organizações Globo e seu silêncio: é que TODA a mídia impressa comeu mosca no episódio.
E isso não surpreende: a mídia esportiva brasileira, incompetente que só ela, come mosca SEMPRE nos grandes lances da notícia esportiva. Basta lembrar o caso Ronaldinho na Copa da França. Até a CPI deu vexame perguntando, no depoimento do atleta-estrela, o que aconteceu em 1998. "Levamos três gols", resumiu o danadinho a incompetência do nosso escrete. Certo, deviam perguntar essas coisas aos nossos repórteres, não acham? Que jamais apuraram essa questão simplezinha.
Pois bem: NENHUM jornal conseguiu antecipar a espantosa notícia sobre o acordo entre o cartola-capadócio e o SBT.
Gente, era tão difícil assim investigar qual seria o novo patrocinador do Vasco, que acabara de encerrar seu contrato com o sabão em pó Ace? Nas últimas semanas, procurei todos os dias nos jornais notícias sobre o novo patrocinador do clube. Nada. Só a velha chuva de ódio ao cartola-mentecapto, antigo desafeto da mídia. Nenhum repórter-flamenguista se preocupou em procurar os negociadores do clube. Só interessava escândalo.
Ôpa!
Repórter-flamenguista?
Que que é isso, minha gente?
Hehe, é o novo fenômeno da mídia do Rio, você não sabia, leitor? Só dá repórter flamenguista nas editorias de Esporte dos jornais. Se o fato esportivo não se relacionar ao Flamengo, pior para o fato. Não é notícia. (Leitores não-flamenguistas, me ESFOLEM se eu estiver mentindo!) Nos tempos em que a maioria dos repórteres esportivos do Rio era Botafogo (João Saldanha, Armando Nogueira, Sandro Moreyra, Oldemário Touguinhó, só para citar os mais importantes, todos do JB dos bons tempos) liam-se notícias variadas e isentas sobre os outros times da cidade. Isso porque o botafoguense, precisamos reconhecer, é antes de tudo um cavalheiro.
Mas flamenguista de hoje, torcedor ou repórter, quem não sabe?, é apenas fanático. Capaz de torcer contra a pentacampeã seleção brasileira de futebol de salão, vice-campeã mundial este ano na Guatemala, porque sua base era o espetacular time do Vasco. Infelizmente, fui testemunha disso na transmissão ao vivo do jogo. Ou seja, o que nós, cariocas, sempre criticamos na extremamente bairrista imprensa paulista, que torcia contra a Seleção Brasileira de Futebol por ter treinador ou jogadores cariocas, virou uma triste realidade do Rio. Quem trabalha em redação carioca flagra facilmente as explosões de fanatismo dos repórteres flamenguistas. Uma pobreza profissional total.
A mídia carioca perdeu a credibilidade. É flamenguista fanática e ponto final. (Tá bom, com raríssimas exceções).
Então, não dá para evitar esta pequena alegria de uma torcedora do Fluminense, que vê seu time relegado a pequenos espaços nas páginas internas mesmo com vitórias espetaculares, porque a capa é sempre do Flamengo – ainda que derrotado. Fluminense na capa do caderno de esportes, só depois que o Flamengo for eliminado. Perdão pelo depoimento pessoal, mas meu filho vascaíno (fazer o quê?) ligou do Maracanã na quinta-feira perguntando se as TVs estavam comentando a nova camisa, que por acaso ele reprova. Nem uma palavra, meu filho. A mídia global se calou, apenas se resignou a mostrar as imagens.
Também, pudera: se a mídia escrita comeu mosca no episódio, o que restava à TV ao vivo, a não ser silenciar e levar o jogo?
A Globo ainda reagiu. Pôs tardiamente em seu site a pergunta "Quem foi o maior prejudicado com o adiamento da decisão do campeonato?", uma pergunta, fala sério, no mínimo velha. Deve ter sido mudada de última hora, em represália – para dar voz aos torcedores dos times rivais do Vasco, que a direção do São Caetano fez tudo para levar ao Maracanã.
Aposto que ninguém terá coragem de dizer que o maior prejudicado foi o Vasco, um timão (fazer o quê?) que teve de abandonar as férias após três anos de atividade ininterrupta, presente em todas as finais, para jogar com o timeco do São Caetano. Tá certo, timeco que tirou Palmeiras, Grêmio e Fluminense (buáá, fazer o quê?) do campeonato. Timeco sem chance sequer em campeonato estadual, diga o que disser a imprensa paulista. Só consegue derrubar equipe desestruturada. Ou alguém topa analisar comigo os times que o timeco derrubou, incluindo o meu Fluminense? Como diria o Saldanha: meus amigos, o Vasco do cartola-pancrácio é um timaço – por mais que doa ao meu coração tricolor reconhecer e por mais que se recusem a cobrir os repórteres-flamenguistas.
Bem, futebol de lado, para a minoria que detesta a Globo foi uma rara festa ver na tela da emissora aqueles logotipos do SBT. OK, que a minoria também detesta. Mas é a única porcaria que ainda afronta a Globo. Reconheço, mais proveitosa seria tal reação, por exemplo, após o debate Lula-Collor de 1989.
Mas fazer o quê? Meus amigos, futebol é mesmo o nosso ópio.
PS: Na noite de quinta-feira, o site do Lancenet publicava o óbvio: Antonio Soares Calçada, (ainda) presidente do Vasco, explicou que o SBT não pagou um tostão pelo enfeitinho na camisa dos jogadores vascaínos – que não mais será usada. "Foi apenas uma homenagem a um velho amigo, o Silvio Santos." O cartola-dinossauro gastou seu dinheirinho num jogo completo de camisas a ser usado uma única vez. Para uma vingança, saiu até baratinho…
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