Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Meus queridos políticos

CARTA AOS CANDIDATOS

César Medeiros (*)

Aqui quem fala é um fã de vocês. Resolvi escrever essa cartinha para tranqüilizá-los. Tenho acompanhado o calvário de todos pela mídia. Quero deixar registrado meu mais veemente protesto, externando de público minha total indignação com a imprensa e a televisão brasileiras que agora passam o tempo todo abrindo espaço para denunciá-los por desonestidade, como se vocês fossem os únicos ladrões do nosso país.

Gostaria de ajudá-los. Sei que estão super-estressados e desgastados pelas acusações mútuas na guerra de dossiês que provam que cada um roubou mais que o outro. Mas vejam bem, estamos no Brasil. Aqui político que se preze nunca vai preso. Nem por roubo nem por nada. Querem um exemplo? O ex-senador Jader Barbalho, de honestidade comprovada, aquele que construiu o ranário mais caro do mundo com dinheiro que sobrava na conta de um "laranja", acaba de ter sua prisão preventiva revogada pela Justiça. Outro exemplo? O ex-senador Luis Estevão, de reputação ilibadíssima, continua soltinho da silva, ajudando as comunidades pobres de Brasília, depois que nossa Justiça cega, surda, muda e portadora do Mal de Alzheimer o inocentou da acusação de ficar com uns trocados que não eram seus. Perceberam?

Conhecendo esses felizes exemplos, por que vocês estão gastando tanto dinheiro acusando seus colegas de profissão daquilo que vocês também são? Chamar um político de ladrão em nosso país há muito tempo deixou de ser ofensa, vocês sabem. Ninguém mais está interessado em provar a própria honestidade. A palavra simplesmente está fora de moda. Ladrões já tomaram conta do nosso país faz tempo e todo mundo aceita isso com muita naturalidade. Então?

Ser ladrão por aqui é regra, pessoal. Vocês não precisam fazer tanto esforço assim para provar que são pessoas honradas. Primeiro porque ninguém vai acreditar mesmo. E segundo porque o povo, idiota como sempre foi, adora eleger ladrões. E faz isso sem o menor constrangimento. Nossos eleitores pouco estão ligando para o significado da palavra decência desde quando, bombardeados e adestrados pela TV Globo, engoliram que o voto obrigatório é democrático e com ele podem interferir positivamente nos destinos da nação, elegendo canalhas para ocuparem cargos públicos.

Eu sei que esse dinheiro que vocês gastam colhendo provas contra seus adversários nunca sai dos seus bolsos, mas mesmo assim é um desperdício, porque são valores consideráveis que poderiam muito bem estar engordando suas continhas pessoais nos paraísos fiscais pelo mundo afora. Vocês têm contas no exterior, não têm?

Então por favor orientem seus marqueteiros para não perderem mais tempo com acusações que felizmente nunca são comprovadas pela Justiça. Digam a eles que, assim como vocês, também estão soltos centenas de outros ladrões: prefeitos, vereadores, deputados, senadores da República, que jamais serão encarcerados por roubarem a população. Lembrem também que nunca amargaram um só dia na cadeia políticos de "fibra" como Paulo Maluf, Celso Pitta, os "Anões do Orçamento" e o honestíssimo Fernando Collor de Melo, para citar apenas alguns exemplos recentes.

E não esqueçam de citar também o nosso grande presidente FHC, político modelo que tirou dinheiro do povo aumentando tarifas e impondo multas em benefício das empresas distribuidoras de energia elétrica, encobrindo a própria incompetência e punindo aqueles que atenderam ao seu apelo pessoal para economizar eletricidade.

Bom, em resumo é esse o meu recadinho. Fiquem tranqüilos. Lutem para se elegeram a qualquer preço e depois podem roubar à vontade. No Brasil, mais do que em qualquer outra nação do globo, os fins justificam os meios, o crime compensa e a impunidade reina soberana.

Desejo muita sorte a todos. Um forte abraço (de longe!) de um profundo admirador dessa classe tão respeitada que consegue reunir em seu bojo o que existe de melhor no caráter nacional.

(*) Jornalista