ECOS DA GUERRA
“Uma janela para a democracia”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 8/09/03
“Em março deste ano, o repórter Chris Allbritton (ex-Associated Press e ex-Daily News, de Nova York) tornou-se ?o primeiro correspondente de guerra independente na Internet?, segundo a revista Wired.
Não confundir esse pioneiro com um free-lancer. Allbritton lançou, pela Internet, a idéia de ir para o Iraque, sustentado diretamente por leitores e – pasmem – 342 pessoas acharam muito legal essa idéia e lhe mandaram US$ 14.500 (mais ou menos 43 mil reais), que serviram para comprar uma passagem aérea para a Turquia, um laptop, um celular via satélite, uma câmera digital e alguma grana no bolso para se mexer.
Entrou no Iraque pulando a fronteira com a Turquia e sem se preocupar em obter qualquer credencial do exército americano. Se vocês quiserem conhecer o trabalho dele, dêem uma olhada em www.back-to-irak.com, seguindo o exemplo de 23 mil outros curiosos que já o acessaram.
Na mais recente edição da Columbia Journalism Review, Jay Rosen escreve um longo Artigo, em que discute a idéia de Albritton ser um trailer do jornalismo que vem por aí. Na verdade, como Rosen expõe, as newsletters especializadas e criadas por um ou alguns jornalistas já mostraram a viabilidade de um jornalismo desligado das grandes empresas e ofertando informação privilegiada. Mas o preço dessas publicações é geralmente muito alto e, muitas vezes, se baseia ou acaba se tornando um exercício de picaretagem.
Rosen lembra que essas newsletters existem desde o século XVI. Um sujeito empreendedor e morador em Paris, por exemplo, fazia um resumo de informações que poderiam interessar aos negociantes portugueses ou venezianos e o enviava, mediante um pagamento. Meio jornalista, meio espião e ligado no que podia ser notícia – o certo é que esse pessoal fazia mais ou menos o que nós fazemos hoje.
O novo é que Albritton mostrou a possibilidade de escrever única e diretamente por conta do leitor, abrindo a janela para um tipo superdemocrático de jornalismo, exatamente no rumo oposto ao da crescente concentração dos meios de divulgação e da dependência de verbas publicitárias. Para quem quiser pensar mais sobre isso, vale a pena ler o artigo de Jay Rosen em www.cjr.com
Outra para o passado sombrio
Nessa mesma edição da Columbia Journalism Review, também está a incrível história de como Agustin Edwards, dono do jornal chileno El Mercúrio em 1971, lambusou-se à vontade com dinheiro da CIA – equivalente a mais de US$ 8 milhões de hoje – para golpear a democracia e derrubar Salvador Allende. O correspondente José Meirelles Passos fez um excelente resumo na edição de sexta-feira (5/9) do GLOBO, mas vale a pena ler a íntegra da reportagem de Peter Kornbluh, que ocupa seis páginas da CJR.
Certamente nenhum dos nossos jornais teria cometido uma infâmia dessa natureza em 1964.”
“Espanha detém repórter da Al Jazira”, copyright Folha de S. Paulo, 6/09/03
“A polícia espanhola prendeu ontem, em Granada, um correspondente de guerra da TV árabe Al Jazira, do Qatar, por suspeita de estar ligado à rede terrorista Al Qaeda, de Osama bin Laden.
A mulher do sírio Tayssir Alouni, em entrevista à Al Jazira, negou as acusações. Fontes judiciais em Madri disseram à agência de notícias Reuters que Alouni é suspeito de repassar mensagens secretas a militantes da Al Qaeda na Europa, incluindo possíveis instruções do próprio Bin Laden.
Suspeita-se ainda que o jornalista tenha encaminhado a integrantes da rede terrorista recursos para despesas do dia-a-dia.
As fontes relataram que Alouni é acusado de pertencer à mesma célula de Imad Eddim Barakat Yarkas, mais conhecido como Abu Dahdah, que é mantido detido na Espanha por suspeita de ter exercido um papel importante na organização dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.
O pedido de prisão do jornalista foi do juiz espanhol Baltasar Garzón, o mesmo que tentou julgar o ex-ditador chileno Augusto Pinochet e que pediu a extradição de 45 militares e ex-militares argentinos e um civil por violações aos direitos humanos na última ditadura no país. Garzón é responsável pelo caso de Abu Dahdah.
Alouni se tornou conhecido por atuar nas coberturas da Al Jazira das intervenções militares dos EUA no Afeganistão e no Iraque.
Segundo a rede de TV, o jornalista é cidadão espanhol e foi detido na sua casa, em Granada. O jornal ?El Mundo? afirmou em seu site que Alouni ia ser o correspondente da Al Jazira na Espanha e havia trabalhado para a agência local de notícias EFE nos anos 90.
?Policiais em trajes civis vieram até nossa casa com um mandado de busca e para prender Tayssir por ser membro da Al Qaeda. Eu não sei para onde o levaram, acho que para Madri?, disse à Al Jazira a mulher do jornalista. A rede de TV não fez nenhum comentário sobre a prisão além do que foi transmitido em seus noticiários.
Alouni foi um dos poucos jornalistas autorizados a trabalhar próximo do grupo extremista islâmico Taleban, tirado do poder no Afeganistão pelos EUA. A proximidade levou o atual governo afegão a questionar sua isenção e a da cobertura da Al Jazira. Com agências internacionais”
CASO KELLY
“Kelly caiu num ?jogo de adivinhar nomes?”, copyright O Estado de S. Paulo, 5/09/03
“O cientista David Kelly, cujo suicídio fez desabar verdadeira tormenta sobre o governo britânico, surpreendeu-se com maneira de entrevistar do jornalista Andrew Gilligan, disse Olivia Bosch, ex-colega dele, em depoimento ao juiz que investiga as circunstâncias da morte do cientista. ?Kelly disse que Gilligan fez um jogo de adivinhar nomes, quando indagou dele que funcionário incluiu no relatório do governo a informação de que o Iraque podia lançar armas químicas ou biológicas 45 minutos depois de uma ordem de Saddam Hussein?, ressaltou Olivia. ?Quando o jornalista citou o nome de Alastair Campbell (ex-assessor de Comunicação do governo que se demitiu), Kelly respondeu apenas ?talvez?.?
Horas mais tarde, Gilligan aparecia diante das câmeras da BBC e acusava diretamente Campbell pela inclusão daquela informação (considerada pouco confiável pelos serviços secretos britânicos) no pronunciamento que o primeiro-ministro Tony Blair fez no Parlamento – apontado como decisivo para seu plano de invadir o Iraque numa operação militar liderada pelos Estados Unidos.
Kelly, de 58 anos, caiu em profunda depressão quando o Ministério da Defesa, do qual era um especialista em armas não convencionais, fez vazar o nome dele para a mídia como a fonte da BBC na denúncia contra o governo. Ele temia perder a confiança dos superiores e o emprego. Kelly saiu de casa para uma caminhada em 17 de julho e não voltou. No dia seguinte, a polícia encontrou o corpo dele com um corte no pulso direito, tendo ao lado uma faca de escoteiro e um vidro de analgésicos vazio. (Associated Press e Reuters)”