JORNAL DA IMPRENÇA
"Trama bem urdida", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 31/7/03
"Diretor de nossa sucursal em Brasília, Roldão Simas Filho lia a Tribuna da Imprensa, hábito de mais de 40 anos, quando deparou com o seguinte texto que nos enviou em seguida: ?Jidá (Arábia Saudita) – Um extremista islâmico que era procurado por suposta participação nos atentados suicidas contra Riad em maio se explodiu em pedaços ontem, informou uma fonte do Ministério do Interior saudita. Turki Nasser al-Dandani se explodiu em circunstâncias confusas ontem na província de al-Jawf, 900 quilômetros ao Norte da capital saudita, disse a fonte, que pediu para não ser identificada?.
A matéria seguia por aí afora, em bem urdida trama à moda dos contos policiais de Rubem Fonseca, e, quando chegou ao final da leitura, Janistraquis desabafou, perplexo: ?Considerado, não sei como o nosso Roldão conseguiu entender alguma coisa; eu não entendi absolutamente nada!!!?. Também, pudera; afinal, é de todo impossível confiar num texto que fala em ?circunstâncias confusas? e, ainda por cima, com este título: Militante saudita da al-Qaeda se suicida antes de se entregar.
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A bandidagem dançou!!!
Deu n?O Globo On Line: ?A governadora Rosinha Matheus anunciou nesta quarta-feira que pretende aumentar a taxação do ICMS sobre a venda de munição e armamentos no Estado do Rio em 150% (…) O objetivo é inibir a comercialização dos equipamentos no estado?.
Janistraquis considerou esta a medida mais inteligente já tomada até hoje contra a bandidagem que domina o Rio: ?Agora, considerado, quando o bandidão entrar na loja e pedir ?embrulha um AR-15 aí, mermão?, o balconista vai responder: ?agora, mermão, além do preço antigo, cinco mil dólares, tu vai morrê em mais 150% de ICMS?. Aí, considerado, com os preços pela hora da morte, não há quadrilha de traficante que prospere!!!?.
É mesmo; espero que se tome a mesma providência no resto do país.
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Travesseiro de hospício
O jornalista e poeta Nei Duclós enviou procedente bronca a esta coluna, sob o título Ilusão absoluta:
?Eu acreditava que fazia parte de uma profissão morta, mas o buraco é mais embaixo: o jornalismo nunca existiu, já que seus mais óbvios princípios não deixaram marcas. Veja o caso do Ombudsman da Folha, comentando a entregada do Juca de Oliveira na sua peça A Flor do Meu Querer, sobre o suposto filho extra do FHC: ?Não sei se o Juca de Oliveira bolou tudo de propósito…?
Mas, considerado, se a coluna é semanal, acho que sobrou tempo para o referido colunista ligar para o próprio Juca e confirmar, ou não? O mais trágico é que esse tipo de desconhecimento, em que o jornalista se abraça à sua dúvida e reporta o que não fez, está virando moda.
Se houve um dia algo chamado jornalismo, deveria pelo menos deixar como rastro o bom e velho hábito de tirar as dúvidas diretamente nas fontes. Ou será que se comportar como repórter pega mal para os colunistas? Ou será que sempre sofremos de uma ilusão absoluta e a profissão que um dia abraçamos era apenas o travesseiro de um hospício?
Abraços temerosos.?
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Acorrei, paraibanos!
Migrantes e exilados em geral já podem acompanhar as atividades culturais do nosso Estado por meio do site Moinho de Eventos (www.moinho-de-eventos.kit.net). Ali, entre outras atrações essenciais, o leitor encontrará a bem-informadíssima coluna de Astier Basílio, também conhecido, por sinal mui justamente, como O Arquipoeta das Borboremas.
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Histórico vexame
Por constituirem fundamental lição de jornalismo, há certos vexames da imprensa que não devem jamais prescrever. Em sua coluna do JB, o considerado José Inácio Werneck recorda o papel dos jornais, que ajudaram a transformar em carnaval da vitória o fracassado movimento para fazer do Rio a sede das Olimpíadas de 2004: ?(…) Uma visita à coleção de jornais mostra que nossos órgãos de imprensa tinham embarcado na canoa furada do patriotismo delirante.
Vejam umas poucas manchetes, algumas delas em primeira página: COI aplaude de pé discurso de Pelé a favor da Rio-2004; Apresentação da delegação brasileira termina sem pergunta e sob aplausos; Rio é aplaudido em teste para 2004; O Rio é a segunda melhor, na avaliação do COI.
(…) Nossa campanha virara um oba-oba, mais uma escola de samba, numa cidade que delas já tem um número suficiente(…) Todos torcemos para que o Rio tenha aprendido a lição e acho que o primeiro passo para uma derrota provável mas ao menos digna na votação do COI deve vir dos jornais: façam jornalismo, não propaganda.?
Janistraquis, que tem horror a ufanismos, enviou cópia da coluna do Zé Inácio para todos os focas que conhecemos – e não são poucos!
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Muamba da gota!
Despacho de Celso Neto, diretor de nossa sucursal no Ceará, dá conta de que o inigualável Diário do Nordeste perpetrou a seguinte notícia: ?Icó – Uma apreensão de mercadorias contrabandeadas do Paraguai foi efetuada pela equipe do posto da Polícia Rodoviária Federal deste Município(…)José de Assis Lima, 40 anos, foi flagrado com 1,5 mil maços de cigarros da marca US contrabandeados e 510 maços de Derby falsificados; 1048 brincos, 331 pulseiras, 553 anéis, 395 cordões, tudo foleado a ouro, além de três mil peças de confecções variadas?.
Janistraquis adorou, considerado Celso, principalmente o ?foleado a ouro?. Aliás, está na moda a, digamos, degustação de enes e agás de algumas palavras, né mesmo? Os narradores esportivos se referem sempre aos ?artileiros do campeonato?; para muitos comentaristas econômicos, não existe ?companhia? (no sentido empresarial), porém ?compania?; sem contar os programas dito populares, onde abundam muitas e gostosas ?muleres?…
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Física equivocada
Nosso diretor em São Paulo, Daniel Sottomaior, resolveu diversificar, deu férias coletivas de uma semana aos tradutores e reclamou espaço para o seguinte comentário:
?O Estadão deu uma pequena nota cujo título informava que no aeroporto de Cumbica aves ?bateram? em avião da Varig. O texto confirma, dizendo que a aeronave ?foi atingida? quando se preparava para pousar. Isso faz tanto sentido quanto dizer que um pedestre bateu em um carro, ou que uma bala foi atingida por um ser humano. Não é só um problema de física equivocada; é uma inversão de valores.?
Janistraquis concorda inteiramente: ?Considerado Sottomaior, pode-se dizer, então, como teria dito o poeta maior Augusto dos Anjos, que um urubu pousou na cabeça do redator do Estadão.
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Nota Dez
A melhor notinha da semana é da lavra do considerado Ricardo Boechat, na coluna do Jornal do Brasil: ?Mário Lago Filho está como seu pai (Mário Lago), apaixonado pela Lapa. Solteiro, ele mudou para uma pensão no bairro, onde ocupa um minúsculo quarto. A diária de R$9,00 lhe dá direito a um lençol, uma toalha, um ventilador e…nada além. Mas já fez amizade na área: o camundongo que dorme a seu lado foi batizado de Jerry.?
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Errei, sim!
?LOBATO BAIANO – Saiu no Correio Braziliense, de Brasília, onde não nasceu JK: ?(…) João Ubaldo passou a infância entre livros e deles recebeu influências para realizar seus primeiros escritos – poesias, quadrinhos e contos de Natal. Entre essas influências havia um outro escritor baiano, Monteiro Lobato(…)?. Só de perversidade, Janistraquis xerocou a matéria e a distribuiu pessoalmente nas ruas de Taubaté, Vale do Paraíba, onde, segundo consta, teria nascido o festejado criador de Gabriela, digo, Narizinho.? (janeiro/1995)"
JORNALISMO & PRESUNÇÃO
"Não seja, pareça jornalista", copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 30/07/03
"É o que me ensinava o meu velho: ?Se alguém lhe perguntar alguma coisa e você não souber a resposta, diga que não sabe?. Devo-lhe essa e muitas outras. Graças à uma orientação que, em princípio, parece ser a face esmaecida da obviedade, permite-se evitar um sem-número de vexames vida afora. Eu era desses moleques que gostam de dar palpite e que, cedo ou tarde, acabam por falar bobagem. Meu pai notou-me a inclinação, essa que poderia derivar, anos depois, para uma auto-suficiência presunçosa. Veio o reforço: ?Se não tiver certeza, não afirme?. Entendi desta forma: ?Não faça papel de ridículo?.
Ao fim e ao cabo, é lícito concluir: até da ignorância assumida se pode extrair, quando não uma satisfação genuína, uma percepção do dever cumprido – ainda que às avessas. Há de haver sabedoria em um ?não sei?, em um ?não tenho a mínima idéia?, em um ?desconheço?, em um ?sei lá?, em um – essa é para nós, jornalistas – ?não tenho essa informação?.
O reconhecimento da ignorância contempla, de pronto, duas das metas essencialmente jornalísticas: falamos a verdade, ou seja, respondemos com sinceridade e correção à pergunta que nos foi feita; e evitamos o disseminar das pretensas informações que, afinal, não se originaram nos fatos, mas no ego, essa entidade a um só tempo teórica e consistente como a rocha dos nossos instintos.
Leia este trecho de uma entrevista de Danielle Chaves e Roberta Saviano com o jornalista e professor Bernardo Kucinski. A conversa foi publicada no site da Faculdade Cásper Líbero, de São Paulo, em fevereiro:
Qual o principal problema da linguagem jornalística que dificulta o entendimento do público?
Kucinski – Pode-se começar pelos temas. Os temas não dizem nada às pessoas. Se for escrever sobre prestação da casa própria é muito mais fácil, porque é um tema que as pessoas entendem. Já começa pelo título ?Prestação da casa própria vai subir?. Pronto, é fácil. Agora, se o tema é o déficit público, isso é uma abstração, é uma coisa que nem existe, é uma construção teórica que podia ser daquele jeito ou podia ser outro. Aí vem: ?Déficit público é o mais elevado do ano?, e daí? Não tem nada a ver com a vida das pessoas, elas não sabem o que é aquilo, o jornalista não sabe, o repórter não sabe, o editor não sabe. Então isso tem que ser ininteligível mesmo, quer dizer, é um discurso ideológico, é uma coisa para ocupar espaço.
Outro comentário de Kucinski:
A primeira condição para conseguir escrever de forma clara é entender o tema a ser escrito, e isso não é muito fácil . Quando o jornalista sabe do que está falando o texto fica claro e inteligível.
Meses atrás, citei o caso de um repórter de TV que, na Bolsa de Mercadorias & Futuros, em São Paulo, gravou uma entrevista para uma ?nota coberta? e, ao chegar à emissora, irritou-se com a pergunta reiterada de seu editor: ?O que faz uma bolsa de futuros??. Nem resposta, nem curiosidade. Não fosse a insistência, o repórter iria para casa sem saber, porque, a seu ver, tratava-se ?apenas? de uma ?nota coberta?. Ah, bom, então se fosse um documentário valeria a pena perguntar… É a hierarquização da curiosidade.
Tratemos da ancoragem no rádio e na televis&atildatilde;o. Lembro-me da definição do jornalista Odir Cunha, um dos entrevistados do nosso ?Comunique-se?, na allTV: ?Televisão é carisma?. De fato, quanto maior o magnetismo pessoal, maior será a repercussão dos comentários, fundados, não raras vezes, na ênfase, no desabafo pop, em frases de efeito, em gracejos, em bordões, até mesmo em pancadas na mesa, como soem fazer uns e outros.
Pseudo-sábios são criados aos borbotões, são uma especialidade dos meios eletrônicos. Ganha-se muito dinheiro para salvar a pátria todos os dias, seja lá qual for a ameaça, seja lá qual for a salvação.
Quanto ao meio impresso, Kucinski acerta em cheio ao referir-se às muletas, ao significado implícito; antes, ao sentido obscuro e presumido de uma informação de relevo que muita gente, afinal, não vai mesmo entender. Nem o repórter, nem o leitor. Mata-se o contexto, em nome de uma suposta sapiência geral.
Estivéssemos a catalogar a ignorância, diria que esta é uma das mais solertes: a que se traveste de atitudes dramático-catedráticas, por assim dizer. Típico dos que pensam que, mais importante do que ser, é parecer jornalista. O tempo todo.
Não é à toa que, usualmente, um ?não sei? acaba por soar herético aos ouvidos dos que acham que nos conhecem. Experimente dizer ?não sei?, ?não acompanhei?, ?honestamente, não estou informado?. Diga-o ao seu vizinho, à manicure, ao entregador de esfihas, à professora de inglês. Não, eles não entenderão, e a culpa é sua. O público nos quer oniscientes. Tudo bem. Duro mesmo é a gente acreditar que é assim."
AGÊNCIA FAPESP
"Agência divulga cultura científica", copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 1/08/03
"A Agência Fapesp é um projeto de divulgação científica da Fapesp – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Lançada há dois meses, a agência dedica-se a um público de pesquisadores, dirigentes de órgãos de fomento, universidades e institutos de pesquisa. Atende, ainda, a jornalistas, professores e demais interessados em ciência e tecnologia.
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