L?EXPRESS, 50 ANOS
Leneide Duarte-Plon (*), de Paris
Em 16 de maio de 1953 surgia L?Express, primeiramente como um suplemento semanal do jornal Echos, da família Servan-Schreiber, um ano depois como uma revista independente. A primeira newsmagazine francesa fez escola e alguns anos depois já tinha várias concorrentes.
Responsáveis pela aventura, dois nomes que se tornariam mitos no jornalismo francês : Jean-Jacques Servan-Schreiber e Françoise Giroud, jovens e ambiciosos, animados pelo sonho de construir uma revista moderna tendo por modelo a Time americana. O atual diretor de redação, Denis Jeambar, ao comentar a história da revista, escreveu que L?Express era singular porque “geneticamente programada para questionar, incomodar, esclarecer, propor”. Segundo ele, “a modernidade estava em seu DNA porque seus fundadores queriam uma França criativa, em movimento”.
Em maio, L?Express comemorou a data com um número especial de 228 páginas, vendido com a segunda edição do mês. A história da revista se confunde com a história do mundo nos últimos 50 anos. O número especial, um deleite para interessados em história, em jornalismo e na história do jornalismo, foi elaborado durante vários meses por uma equipe de 60 pessoas, principalmente jornalistas, que leram e releram milhares de páginas escritas desde maio de 1953.
O resultado é uma viagem de meio século através de textos que marcaram época e de fotos extraordinárias de personalidades do mundo político, intelectual e artístico. A reprodução de textos de diferentes décadas nos dão um panorama dos últimos 50 anos da vida intelectual e política na França e no mundo. Num trecho do editorial do primeiro aniversário, Françoise Giroud escreve orgulhosa :
“Lá fora, havia a facilidade para cada um de nós que criamos o L?Express. Não se arriscar, não criar uma empresa, ficar lá onde a vida e o jornalismo nos tinham colocado”.
Mas eles, que preferiram o desafio de criar um jornalismo novo na França, mostraram que tinham razão. Tanto que anos depois o modelo foi imitado por Le Nouvel Observateur e Le Point, entre outros. Na época do pioneirismo, o casal JJSS-Françoise Giroud ? ligados pelo trabalho e por uma paixão que terminou em um rompimento drástico quando Jean-Jacques anunciou seu casamento com outra mulher ? estava à frente de todos os acontecimentos políticos e sociais e era freqüentado pelas principais personalidades do tout Paris.
“Uma ambição francesa”
Nos primeiros anos da revista ? época marcada pela guerras da Indochina e da Argélia ?, nomes como François Mauriac, que escrevia semanalmente a coluna “Bloc-Notes”, e Albert Camus atraíam leitores que se transformavam em fiéis aliados do projeto de fazer uma revista influente e durável.
Uma foto 1955, de Albert Camus corrigindo as provas de seu artigo, em pé, ao lado de jornalistas da revista, ou de 16 de fevereiro de 1962 ? na qual François Mitterrand, Françoise Giroud, JJSS e Mendès France, de braços dados, abrem uma passeata contra a guerra da Argélia ? relembram alguns grandes momentos da história do L?Express, que se confunde com a própria história do país.
O jornalista Jean Daniel, que depois deixou a revista para fundar Le Nouvel Observateur, fez uma das grandes entrevistas da história do L?Express em Havana, em 22 de novembro de 1963. Ele estava conversando com Fidel Castro exatamente no dia e na hora em que o presidente John Kennedy era assassinado, em Dallas. Jean Daniel, conta a reação de Fidel ao acompanhar, pelo rádio, com assessores e com o jornalista, o desenrolar dos acontecimentos, até o anúncio da morte do presidente americano. Disse Fidel:
“Agora, é preciso que eles encontrem rapidamente o assassino senão, vocês vão ver, eu conheço os americanos, eles vão querer nos culpar pelo assassinato. Mas, me digam uma coisa, ele é o quarto presidente dos Estados Unidos assassinado num total de 36, não? Acho isso inquietante”.
Na contracapa do número especial de capa toda branca ? com um engenhoso logotipo formando 50, destacado da superposição do ano da fundação, 1953, e de 2003 ? uma seleção das capas de 21 de setembro de 1964 até a de 23 de janeiro de 2003, dedicada a Françoise Giroud, por ocasião de sua morte, aos 86 anos.
Apesar de sua história de glórias do passado, L?Express é hoje uma revista menos importante no cenário da imprensa francesa. Ela foi superada pelo Nouvel Observateur, mais influente no meio intelectual que sua concorrente, transformada numa newsmagazine excessivamente americanizada em sua preocupação de valorizar a imagem em detrimento do texto, cada vez mais reduzido. Isso, contudo, não impede que a revista surpreenda de vez em quando ? como na semana do cinqüentenário, ao publicar uma investigação inédita sobre o “processo Picasso”, no qual o governo francês negou a cidadania francesa ao então “jovem pintor anarquista”, que morreu espanhol, apesar de ter vivido a maior parte de sua vida na França.
No ano passado, a revista pioneira foi comprada pela Socpresse, acionária principal do jornal Le Figaro” e controlada pelo grupo Dassault.
Na mesma semana do aniversário do L?Express, uma biografia da fundadora da revista foi lançada na França. Escrito pela jornalista Christine Okrent, Françoise Giroud, une ambition française (Ed. Fayard, 366 pp.) traça o perfil da mais influente e poderosa mulher de toda a história do jornalismo francês.
(*) Jornalista