Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Monumento ao desrespeito

ANÚNCIO DA FIAT

Marinilda Carvalho

A publicidade brasileira é ô-má-xi-mo. Júris mundo afora pensam também assim, sabe-se lá quantos Leões de Ouro ela já levou em Cannes. Ocasionalmente, contudo, merece é bode de pedra ou gambá de lata (com todo o respeito a bodes e gambás), pois, pelas regras de faunas civilizadas… vá ser politicamente incorreta assim lá na Cochinchina.

É uma sucessão interminável de ofensas à inteligência, à paciência, à realidade, ao bom gosto, à sensatez, à ética.

Principalmente à ética. Onde já se viu empresa “bom caráter” veicular anúncio-baixaria? Até a famosa fabricante de material esportivo que contrata mão-de-obra quase escrava só tem propaganda genial. Então, como pode empresa dita decente aprovar anúncio-baixaria? Que tipo de gente as grandes empresas estão colocando à frente das diretorias de marketing? Como esses “profissionais” podem aprovar tais delírios das agências de publicidade? É tão grande assim seu desespero em manter status e ganhos anuais? Ou os pátios das montadoras estarão tão cheios de carros que se justifique a troca da propaganda pelo acinte? Para esvaziá-los será imprescindível exibir a mongolóide social sublimando madame pelo motorista negro, ou presumir que ex-presidiários estejam sôfregos por carrinhos chinfrins?

O que mais a publicidade pretende quebrar na cristaleira? (Só para saber, pois exaspera essa avidez pela provocação.) Tenham a santa paciência e contratem gente mais criativa.

Negação e desrespeito

Felizmente, alguns reagem. O Conar suspendeu liminarmente a campanha do ex-presidiário-sôfrego-pelo-carrinho-chinfrim após receber 17 queixas de consumidores de todo o país somente na quinta-feira (13/11), menos de 24 horas depois do início da veiculação do comercial na TV (a campanha foi ao ar na noite do dia 12), informaram os repórteres Ronaldo D’Ercole e Higino Barros no Globo (15/11), em matéria que pode ser lida em <http://oglobo.globo.com/jornal/Economia/111901942.asp>. Segundo o jornal, trata-se de um recorde de reclamações feitas espontaneamente ao Conar em tão curto espaço de tempo. “É quase um clamor público”, disse um “especialista”.

Dezessete mensagens? O brasileiro definitivamente é conformado… E, pensando bem, a empresa arrumou uma baita promoção. Louros à agência e ao anunciante. Os quais, em profunda “sinergia”, avisam na matéria que vão continuar fazendo campanhas “criativas e até ousadas, desde que possam ser notadas como positivas e respeitosas”.

(Deu para entender? Pois se a campanha é um monumento ao negativo e ao desrespeito…)