ROBERTO MARINHO (1904-2003)
Marcelo Salles (*)
Aos seis dias deste agosto cinzento morreu o imperador do mar.
Em seu funeral, a confraria marinha esteve reunida. Tubarões e peixes grandes de todo tipo foram render homenagem àquele que reinou sobre o mar durante a segunda metade do século 20.
Uns choraram, outros não. Mas é bom que se diga: todos os peixes grandes se alimentaram das sobras da rede imperial. Os peixes-estrela e os peixes-diretores que, juntos, foram incumbidos de encantar os peixes-povo, pareciam órfãos de pai e mãe. O imperador marinho havia faltado.
No dia seguinte, o mar amanheceu turbulento. O império agora se dividia nas mãos dos três herdeiros. Outros tubarões observavam atentos o desenrolar dos fatos e espreitavam, aguardando o melhor momento para tentar abocanhar parte do império. Por isso, durante todo o dia, os peixes-apresentadores se apressaram em ler e reler a nota da família, em que o poder do império era sublinhado por generosos adjetivos. Até na hora da morte a soberba se impunha aos corações maculados pela ganância.
Mas o complexo sistema marinho não parou. Embora as correntes possam ser fortes e divergentes nas profundezas, acabam convergindo quando na superfície. Assim, os peixes-estrela e os peixes-diretores continuam encantando os peixes-povo para dominar o mar. Dessa forma, as pérolas extraídas deste rico oceano seguem para outras paragens, sem que ninguém fique sabendo.
Onde quer que esteja, o imperador marinho deve estar orgulhoso. O canto da sereia platinada segue ecoando.
(*) Estudante de Jornalismo da Universidade Federal Fluminense