Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Morte sem necrológio, nascimento sem batismo

DIÁRIO POPULAR (1884? 2001)
DIÁRIO DE S.PAULO (2001 ? ?)

Acabou a solenidade, jornal virou produto. O marketing é que manda, jornalista não apita. Neste ambiente de supermercado, mata-se um jornal com a mesma frieza com que se muda a embalagem do biscoito.

O Grupo Globo afinal entrou de corpo inteiro no mercado paulista. A parceria com o Grupo Folha no Valor, iniciada há quase dois anos, converteu-se numa sucessão de amuos, arrufos e mágoas. Tudo indica um divórcio.

Apesar das diferenças, os Marinho comportaram-se na festiva incursão pela Paulicéia exatamente como os Frias quando liquidaram, em abril de 1999, dois jornais tradicionais ? Folha da Tarde e Notícias Populares ? para entrar no ramo das panelas e promoções, com o Agora.

O Diário Popular foi enterrado como indigente, não merecia: sem necrológio, coroa de flores ou lápide. O Diário de S.Paulo renasceu sem loas. O pesquisador do futuro sequer conhecerá sua história e, se tentar estabelecer a biografia, descobrirá que foi encontrado na roda dos enjeitados. Ou é um clone, experiência genética, brincadeira de laboratório.

Matam-se jornais e inventam-se outros sem a menor cerimônia. Houve tempos em que jornalismo fazia-se com emoção e pompa. Era disso que o leitor precisava para enobrecer aquele precário maço de papel e distingui-lo de outros que se vende a peso. Hoje, o Jornal do Brasil troca de diretor e o leitor nem é apresentado ao substituto.

Nesta era dos descartáveis sumiu a auto-estima. Com ela vai também a estima dos outros. Coisas da vida.

O mercado dá um jeito.

    
    
              

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