MÍDIA ESPORTIVA
José Renato Ribeiro (*)
O vexame da Seleção Brasileira faz-me pensar num sujeito no mínimo apaixonado: o jornalista esportivo. Ele foi criado com a idéia fixa de "melhor futebol do mundo". Suas linhas ou palavras sempre foram ao estilo "a taça do mundo é nossa" e "com brasileiro não há quem possa". Agora, até o Equador pode, amigo jornalista.
E dizer isso não é fácil. A paixão que faz a mente trabalhar em busca do melhor texto está arranhada. Parece que um dos amantes traiu o outro…
Episódios são muitos para exemplificar essa relação quase íntima entre o jornalista esportivo e o elemento de suas matérias. Recentemente, o caso Ronaldinho Gaúcho se inclui nesta série. A imprensa do Sul parecia uma criança que acabara de ter seu brinquedo preferido roubado. É lógico que muito se falou sobre a injusta negociação, em que o Grêmio saiu prejudicado. Mas este argumento foi só a máscara. Por trás da fantasia existia um adolescente que vivia seu grande amor, mas a tão linda namorada foi embora. O mundo parece estar contra ele. Essa é a imagem exata que tenho quando reflito sobre o tratamento da imprensa gaúcha neste caso.
Não era simplesmente uma negociação tão comum nos dias atuais. Era o maior motivo das mais vibrantes e apaixonantes matérias nos jornais, revistas, telejornais etc. dizendo adeus. Ou no mínimo um até logo muito longo.
Os bons tempos, quando os heróis mereciam este mérito, tal como Pelé, Tostão, Zico. passaram. E para a profissão de jornalista esportivo, que tem a paixão como força motriz, isso é grave. Não é fácil motivar-se num campo em que a repetição das palavras é tão presente. Gol, craque, placar. Isso só no futebol. Imagine falar de corrida, por exemplo. E daquelas com 60 ou 70 voltas. Com as mesmas curvas e retas. Se não houver paixão, não há sedução no texto do jornalista esportivo.
Heróis não são imortais, infelizmente. O esporte que faz tais heróis florescerem também os tira de nós. É fácil lembrar de Ayrton Senna. E do pranto dos textos jornalísticos sobre sua morte. Textos que eram despidos da razão. A essência deles era a emoção. Quem fazia os textos não era o jornalista. Apenas o profissional.
Na verdade, pouco ele participava. Ali, naquele momento, estava o amante e apaixonado pelo esporte. E quando digo esporte não entenda que o jornalista esportivo pensa em algo relacionado com exercício físico. Aliás, o termo "físico" não se adapta, decididamente, ao jornalismo esportivo. O pulsar da paixão em cada linha produzida ou em cada palavra dita é que faz desta profissão única, mesmo dentro do próprio jornalismo.
Ligar a televisão e assistir a uma derrota da Seleção Brasileira, coisa hoje não tão rara, não é só ficar mal-humorado com a performance dos jogadores ou com o resultado. É chorar junto com esses apaixonados jornalistas esportivos…
(*) General Câmara, RS
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