Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Márcia Detoni

CUBA

"Cuba ressuscita revistas para mulheres", copyright Folha de São Paulo, 2/09/01

"Duas revistas femininas cubanas desaparecidas na década passada por causa da crise econômica estão de volta às bancas. ?Mujeres? e ?Muchachas?, a primeira destinada ao público adulto e a segunda, às adolescentes, deixaram de circular nos anos 90 por causa do alto preço do papel. Agora, num sinal de que bons ventos começam a soprar sobre a ilha, elas reaparecem com tiragens trimestrais de 100 mil exemplares.

Ainda deve levar dois anos, segundo a editora Isabel Moya, 39, responsável pelas revistas, para que ?Mujeres?, com 72 páginas, e ?Muchachas?, com 16, voltem a circular em edições mensais. Até lá, as leitoras que frequentam universidades e centros comunitários equipados com computadores podem manter-se atualizadas pelo site de ?Mujeres? na internet (www.mujeres.cubaweb.cu), renovado semanalmente.

Mas quem esperava que a abertura econômica em Cuba tivesse impacto na linha editorial das duas únicas revistas femininas disponíveis ficou decepcionado.

?Gostaria que as revistas cubanas dessem mais ênfase à beleza e à moda?, disse à Folha a economista Gricelia Marrero, 47, uma das proprietárias do restaurante Isla de Cuba, em São Paulo, que divide seu tempo entre Havana e a capital paulista e lê ?Mujeres?, vez por outra, quando está na ilha.

?Mujeres?, financiada pela FMC (Federação das Mulheres Cubanas), faz 40 anos em novembro. Nasceu quando o governo revolucionário nacionalizou a revista ?Vanidades? (?ilusões?, que representava, segundo a FMC, o estilo de vida americano), e estampou pela primeira vez na capa de uma publicação feminina a foto de uma cubana humilde e negra.

?Desde o nascimento, se pretendeu fazer uma revista diferente das revistas femininas tradicionais, que divulgam uma beleza totalmente irreal, ou pelo menos irreal para as mulheres comuns?, disse Moya à Folha.

?A revista pretende sobretudo refletir sobre a vida da mulher cubana hoje, seus principais problemas, sua luta pela igualdade de direitos. Também abordamos as grandes obras da revolução e o impacto das mulheres no desenvolvimento do país e tentamos resgatar e refletir a história das mulheres, muitas vezes escondida atrás da história dos grandes homens?, diz Moya, que não oculta o compromisso da revista ?com a revolução, com a maioria de seu povo e com as mulheres?.

Assuntos como moda, beleza e culinária não têm em ?Mujeres? o destaque observado nas revistas femininas tradicionais e recebem apenas 16 das 72 páginas.

?Como vemos a moda? Fundamentalmente como cultura de vestir, e não como uma forma de seguir as últimas tendências de cores ou de comprimento das saias?, diz Moya. ?Não incluímos receitas culinárias por considerá-las assunto de mulher, mas porque pensamos que é hora de potencializarmos o chamado mundo privado [doméstico? que, dentro de uma visão masculina, é muitas vezes menosprezado.?

?Mujeres? e ?Muchachas? também falam de sexo, mas de forma educativa. A maioria das leitoras de ?Muchachas? é estudante, e a revista dá mais destaque a assuntos ligados à escola e à cultura.

Marrero gosta da seriedade com que ?Mujeres? e outras publicações cubanas tratam assuntos como saúde e direitos da mulher. Ela também aprecia as dicas sobre o aproveitamento de recursos escassos, mas as revistas femininas do país, segundo ela, ignoram uma característica importante da mulher cubana: a vaidade.

A economista observa que, com a abertura econômica e a possibilidade de os cubanos montarem microempresas, surgiram em Cuba centenas de novos salões de beleza, academias de ginástica e casas de massagem estética.

?As cubanas são vaidosas, têm vontade de se cuidar, assim como as brasileiras, italianas ou americanas. Mas, como Cuba tinha problemas básicos, esses pequenos detalhes foram deixados de lado. Agora, com os novos salões de beleza, as cubanas têm aonde ir para cuidar da aparência?, afirma.

Para ela, que não compra revistas femininas no Brasil, mas as lê quando vai ao médico ou ao cabeleireiro, cuidados com estética são parte da vida. ?É importante que as pessoas gostem de si mesmas?.

Cubanas são privilegiadas, diz editora

Não há como negar que o maior problema da mulher cubana são as dificuldades econômicas. ?Dificuldades provocadas pelo bloqueio comercial norte-americano?, diz Isabel Moya. Em termos de igualdade de direitos, a editora da revista ?Mujeres? acha, no entanto, que as cubanas estão numa posição privilegiada em relação às demais mulheres do continente.

?Eu diria que as políticas neoliberais de hoje na América Latina levaram a uma feminização da pobreza. Em Cuba, ao contrário, há uma feminização da força de trabalho e das forças mais preparadas?, diz Moya, ressaltando que as mulheres representam 66% da força científica e técnica do país, 58% dos universitários e 44% da força de trabalho.

A economista cubana Gricelia Marrero também acha que as cubanas estão, em alguns aspectos, na frente das demais latino-americanas. ?As lutas, as dificuldades deixaram as cubanas mais fortalecidas, mais dedicadas a encontrar soluções para os problemas?, diz.

A prostituição, que surgiu no país em 1993, quando o governo permitiu a posse e circulação do dólar e os turistas estrangeiros começaram a chegar em massa, não é, na opinião de Moya, um produto da crise econômica mas de uma crise de valores.

?Se fosse assim, a maioria das cubanas estaria na prostituição. É preciso resgatar os valores dessas mulheres e levar-lhes auto-estima?, diz.

Mas Moya reconhece que, apesar das conquistas das mulheres em Cuba, elas ainda têm dois desafios pela frente em termos de igualdade de direitos. ?Somos só 7% dos parlamentares. Ainda há muito o que fazer para alcançarmos, no exercício do poder, o lugar que merecemos. Do ponto de vista subjetivo, também precisamos levar os homens a participar mais da vida doméstica.?"

 

FRANÇA

"Mídia não se interessa por Chirac nu", copyright O Estado de São Paulo, 1/09/01

"O rei está nu. Esse é o título de um artigo do jornal satírico francês Le Canard Enchaîné que revela a história mais hard deste verão europeu. Três fotógrafos profissionais se instalaram com suas câmeras numa praia a 300 metros do Fort de Bregançon (residência de verão da presidência), onde o presidente Jacques Chirac passava as férias.

Eles esperavam pacientemente uma aparição descontraída do chefe de Estado que permitisse uma dessas fotos que ilustram as edições da temporada de revistas do tipo Paris Match. Os três foram surpreendidos na manhã do dia 4 quando Chirac surgiu de cueca no terraço da residência. A surpresa foi ainda maior alguns minutos depois. O presidente voltou ao terraço completamente nu, com um binóculo na mão. E passou a observar um iate ancorado ao largo, de onde um grupo alegre de rapazes e moças se divertia mergulhando nas águas límpidas do Mediterrâneo. Mais tarde se soube que o iate pertencia aos irmãos Michael e Ralf Schumacher. As câmeras metralharam a nova cena com Chirac nu e de binóculos, absorvido pela anatomia da tripulação feminina do iate. Os fotógrafos hesitaram sobre o destino que dariam às fotos.

Inicialmente, decidiram que nada fariam por temer represálias – afinal, alguns deles dependem de coberturas envolvendo a presidência.

Mas. dias depois, numerosas cópias circularam por algumas redações de agências noticiosas e revistas. Alain Genestar, diretor de Paris Match, rejeitou as fotos, considerando-as ?humilhantes e degradantes?. Também a direção da agência Sygma teve as fotos nas mãos, mas não ofereceu a ninguém.

Aparentemente, as fotos não interessaram a nenhum jornal francês.

Quem parece mais interessado em obtê-las é o próprio palácio presidencial – antes que a imprensa inglesa se apodere delas (se é que isso já não tenha ocorrido) para alimentar a permanente campanha antifrancesa do outro lado do Canal da Mancha."

    
    
                     

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