Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Márcio Moreira Alves

CIÊNCIA HOJE

“Ciência Hoje”, copyright O Globo, 25/5/02

“A vida das revistas científicas costuma ser efêmera no Brasil. Nos casos de sucesso, como a centenária revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, tendem e sofrem interrupções por falta de verba, mal que acometeu nossos centros de excelência já bem antes do neoliberalismo que nos assola. Portanto, é motivo de justas comemorações o 20? aniversário da revista ?Ciência Hoje?, da SBPC.

A idéia de uma revista que aproximasse o mundo fechado dos cientistas da sociedade em geral começou a ser gerada em 1978, quando o processo de redemocratização do país também dava seus passos iniciais. O pequeno grupo inicial, aconselhado por José Reis, o maior divulgador científico que o país já teve, começou a buscar apoios econômicos e modelos editoriais. O modelo inicial foi o do ?Scientific American?, considerado melhor do que a revista francesa ?La Recherche?. As americanas ?The Science? e ?New Scientist? também foram levadas em consideração e visitadas por Roberto Lent, que fazia seu pós-doutorado nos Estados Unidos e é até hoje um dos editores. Finalmente, com o apoio do CNPq e da Finep, o primeiro número foi lançado em 1982, na reunião da SBPC, em Campinas e escapou por pouco do fracasso. O veículo que transportava a edição chocou-se com um caminhão carregado de galinhas. Um dos editores brinca: as galinhas foram as primeiras vítimas de divulgação científica no Brasil.

O primeiro número trazia uma reportagem de capa sobre os riscos ambientais da mina de ferro de Carajás. Os números seguintes também abordavam temas polêmicos, considerados perigosos pelo regime militar. O SNI mandou uma circular às empresas estatais, proibindo a compra de espaço publicitário na revista. No entanto, um dos primeiros assinantes da ?Ciência Hoje? foi o general Golbery do Couto e Silva, criador do SNI, que mandou um cheque pessoal e uma carta de incentivo.

A regra editorial era, como ainda é, a clareza nos textos, que deveriam ser acessíveis a não especialistas. Exemplificavam: se o editor de física não entender o que um biólogo escreve, o texto do biólogo tem de ser reescrito. O sucesso de público ultrapassou as expectativas. O primeiro número, com 15 mil exemplares, se esgotou e teve de ser republicado. Em poucos meses a revista angariou quatro mil assinantes e, em 1984, chegou a 55 mil exemplares vendidos nas bancas. No entanto, não chegava a estudantes e professores das últimas séries do ensino secundário, que é quando se despertam as vocações para a pesquisa científica.

Criaram-se mais duas revistas: ?Ciência Hoje das Crianças? e ?Ciência Hoje nas Escolas?. Ambas são escritas por cientistas, que têm os seus textos revistos por jornalistas profissionais e ilustrados por especialistas em ilustrações infantis. O Ministério da Educação compra 60 mil exemplares todos os meses para distribuir nas escolas das maiores cidades. O último número, dedicado à genética, diz: ?Por que somos diferentes uns dos outros? Por que há pessoas que se parecem mais com a mãe do que com o pai? Se você já se fez perguntas como essa, tem grandes chances de ser um geneticista?. O escritor Moacyr Scliar, que também é médico, escreveu um artigo sobre as doenças que as crianças inventam para matar aulas.

A ?Ciência Hoje na Escola?, dirigida especialmente aos professores do 3? e 4?ciclos e aos adolescentes, é um complemento às matérias do currículo, aprofundando seu conteúdo. O II volume, por exemplo, é inteiramente dedicado à sexualidade. Trata de assuntos como corpo, camisinha, hetero e homossexualidade, medos, sentimentos de culpa, masturbação, orgasmo, prazer, preconceitos, respeito, liberdade sexual, tabus, amor, energia sexual, fantasias, primeira transa, reprodução, tédio, vida sexual. Transmite informações sobre a Aids e as demais doenças sexualmente transmissíveis e sobre métodos anticoncepcionais. Ou seja: quase tudo.

O último número de ?Ciência Hoje? é fundamentalmente dedicado ao problema das drogas. Tal como deve ser numa revista de debate científico, alguns artigos são contraditórios. Alexandre Moura Dumans e Vera Malaguti Batista, da Cândido Mendes, defendem a descriminação não só dos usuários como do comércio de drogas. Argumento: a maioria dos condenados por tráfico de entorpecentes não é o verdadeiro chefão da droga, mas jovens negros e pobres, recrutados pelo mercado ilegal graças à falta de oportunidades imposta pelo modelo econômico ao qual estamos submetidos. Já Ib Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas, toma a posição oposta, dizendo: ?A relação entre drogas e criminalidade é indiscutível?.

Estatísticas mostram que nos países onde foram adotadas medidas de descriminação dos entorpecentes o número de crimes aumentou. É estimulante que a revista comemore seu aniversário lançando um debate desse tipo.”

 

COLEGUINHA

“Coleguinha”, copyright O Globo, 25/5/02

“O bispo Edir Macedo aproveitou uma brecha legal — a liminar da juíza paulista Carla Rister contra o registro de jornalista– para finalmente conseguir no DRT/RJ o reconhecimento como ? jornalista precário?.

Com isso, passa a ter direito, por exemplo, à prisão especial.”

 

ANIVERSÁRIO

“Sexto ano da série”, copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 27/5/02

“É isso aí: a Coleguinhas completa (ou completou, se você está lendo depois de segunda) seis aninhos neste 27 de maio. Desta vez, não pretendo cansar a beleza de ninguém contando como ela surgiu por causa de minha amada Andréa, mas vou fazer um balanço do ano que passou, até porque houve uma mudança importante na própria estrutura da página que suscitou umas idéias na minha cabeça chata de nordestino.

Obviamente, você sabe que estou falando da mudança de status da Coleguinhas, que deixou de ser um site completo para se tornar uma pequena parte de um sítio maior. Este fato mudou completamente o escopo da Coleguinhas. Antes, eu era responsável por tudo, do leiáute tosco ao textos idiotas, passando pelos bancos de dados defasados. No Comunique-se, o leiáute e os bancos de dados são bem melhores por eu não ter nada com eles, pois a minha responsabilidade se restringe aos textos bestas como este que você está tendo a paciência de ler.

Tudo o que está acima é mais ou menos óbvio, mas não foi lá muito bem compreendido na época da mudança e até agora há algumas pessoas que se confundem. Ainda hoje, a maior parte dos leitores antigos reclama da ?falta de charme? da Coleguinhas atual. Atribuo isso a uma confusão de conceitos que vou procurar dirimir aqui, aproveitando o momento de apagar as seis velinhas depois do parabéns-pra-você.

Quem é da opinião que a coluna perdeu charme, eu creio, está cometendo uma injustiça, por querer que o Comunique-se seja a Coleguinhas antiga. Isso é impossível. Como disse acima, na Colguinhas-site, eu era responsável por tudo, o que era ruim porque dava uma aparência (completamente real) de confusão, mas, ao mesmo tempo, bom por dar uma unidade acolhedora e familiar. Era mais ou menos como a casa daquele amigo que você conhece há 20 anos e cuja mãe faz uma torta de limão do outro mundo. Você chega lá, pergunta se tem torta, ele diz que está na geladeira e você vai exatamente no lugar em que ele sempre bota o doce.

Você há de convir que é exigir muito do Comunique-se ser dessa maneira. Este é um sítio comercial, por isso acho injusto querer que seja mais do que um bom sítio de informação e serviços para jornalistas e empresas de comunicação. E se, em sua opinião, não está conseguindo ser isso… Bem, escreva para o pessoal da edição que eles certamente terão prazer em trocar umas idéias.

Além desses problemas, vamos dizer, estruturais, houve – e é bem possível que ainda haja – uma galera que acredita que o conteúdo da coluna Coleguinhas está diferente do que era a Página 3 dos Dias Antigos. Olha, pode até ser que haja algum tipo de mudança, mas ela certamente não é nem consciente, nem intencional. Você que é dessa opinião tem que ver que, escrevendo praticamente toda semana por seis anos apenas sobre um campo, a tendência é que os assuntos acabem se repetindo.

Afinal, os nossos queridos patrões continuam a dar mostras da falta de caráter e da incompetência gerencial de sempre; nós nos mantemos preguiçosos, repetindo fórmulas e pautas; os chefetes não deixam de ser chefetes; as nossas representações de categoria ainda vivem sem grana e usam este fato como desculpa para se omitirem… Tenho procurado falar menos desses assuntos, embora reconheça que eles, até por se manterem em voga, precisam ser lembrados de quando em vez. Vai ver que é por isso que você acha que o conteúdo mudou.

Mas temo que não seja eu o único responsável por isso. Desculpe, mas você também tem culpa neste cartório. Lembra que, desde a Primeira Era, eu sempre disse que a Coleguinhas só existia porque os seus leitores faziam com que ela existisse? Pois é. Isso não mudou com a vinda para o Comunique-se. A coluna reflete o que eu penso, sem dúvida, mas você, que é leitor antigo, sabe o quanto suas intervenções determinam o que é objeto de minhas paranóicas reflexões. O que sempre achei legal na antiga Coleguinhas é que rolavam altos bate-papos por e-mail com quem concordava e com quem discordava do que eu pensava. Achava isso enriquecedor e não mudei de opinião a respeito.

Infelizmente, tenho sentido que mesmo os leitores mais antigos, e que sei que se mantêm fiéis, não mais procuram se envolver na criação da Coleguinhas. Aí fica realmente difícil saber quais são os assuntos que mais tocam a alma dos jornalistas, tirando aqueles citados pouco acima. Daí eu estar mais ?macro?, viu Kid A?… E não é por falta de possibilidade de contato, né? Embora eu não leia as mensagens dos quadradinhos aí de baixo há uns três meses por falta de tempo, é só clicar lá na minha assinatura que você pode me mandar um emeio. E se der algo errado, basta enviá-lo para redacao@coleguinhas.jor.br, que eu sempre respondo.

Bom, agora que vamos iniciar o sexto ano da série, que tal voltarmos a nos comunicar como na Primeira Era? Acho que seria bem legal pra todo mundo.”