MÍDIA & CASA BRANCA
Desde que a CBS News revelou que o presidente Bush recebera um aviso dos serviços de inteligência sobre a possível ação de terroristas da al-Qaida nos Estados Unidos, a imprensa conseguiu o elemento que faltava para provar a ligação entre os documentos do FBI sobre suspeitos em escolas de aviação e a Casa Branca. O furo estimulou a mídia a abandonar o tom deferente com que tratava o governo depois do 11 de setembro e a ser mais incisiva: tais avisos deveriam ter sido divulgados?
O porta-voz Ari Fleischer e a conselheira de Segurança, Condoleezza Rice, foram encurralados em coletivas recentes por repórteres que pediam explicações em tom cético ou mesmo indignado, relata Howard Kurtz [The Washington Post, 17/5/02]. Quando Fleischer explicou que o presidente recebera avisos vagos sobre a possibilidade de seqüestro de aviões, o correspondente da ABC Terry Moran perguntou: "Por que ele não dividiu o que sabia com o povo americano?"
Para Fleischer, o caso é um teste para a imprensa, "para ver se ela faz sensacionalismo ou informa". "Questionamento agressivo é profissão da imprensa. Fazer conclusões apressadas é que esperamos que não seja." O porta-voz recentemente ligou para o editor do New York Post, Col Allen, para reclamar da manchete "Bomba do 11/9: Bush sabia". Além de "irresponsável", a manchete é "um exemplo de mau jornalismo", acusou.
"Os jornalistas estavam esperando uma chance para voltarem a ser agressivos e teimosos", acredita Robert Lichter, do Center for Media and Public Affairs. Mas "só porque não se divulga informação sigilosa não significa que você a está acobertando", pondera.
11 DE SETEMBRO
A HBO concluiu seu documentário sobre os atentados terroristas contra o World Trade Center. In Memorian: New York City, 9/11/2002 foi produzido por sugestão do ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani, que queria gravar suas lembranças daquele dia. Contudo, o que chama atenção no filme, que vai ao ar em 26/5, não é a longa entrevista de Giuliani ou de outros personagens conhecidos ? mas o material bruto colhido de 118 pessoas que gravaram a tragédia por conta própria, que resultou em densa edição de mais de 1.000 horas.
Era tanto material que a equipe da HBO não conseguiu analisar tudo. Complementados com material da grande imprensa, três quartos do documentário são imagens gravadas por gente como Jim Huibregste, fotógrafo que levava o filho ao primeiro dia de aula. Ao filmar uma pessoa que se atirava da janela, um dos cinegrafistas amadores é criticado por alguém ao lado: "Que isso, não filme essa cena…"
Segundo Adam Nagourney, do New York Times [12/5/02], discutiu-se até o último momento o que era forte demais para entrar no documentário. A imagem de uma mão caída no asfalto, por exemplo, ficou de fora do filme [mas não da matéria do NYT…]. Giuliani aparece com expressão de horror ao ver uma pessoa pulando de uma torre. Em outra parte pesada, Beth Petrone, assistente do ex-prefeito, conta que viu uma das torres desmoronar, sabendo que seu marido bombeiro estava lá dentro.