MÍDIA DIGITAL
Afonso Caramano (*)
Redundante afirmar a importância da crítica de mídia ? e das idéias subjacentes às matérias veiculadas pelos meios de comunicação ?, sempre salutar como exercício democrático num estado de direito. Maneira de se vacinar contra a hegemonia do pensamento único e a estreiteza das análises ou panacéias dos opinionistas de plantão.
Importante também chamar a atenção para a necessidade de se estabelecer critérios para a crítica da mídia digital, especialmente a internet, segmento que cresce acentuadamente e meio eficaz para disponibilizar informações com rapidez e interatividade ? exemplar os weblogs surgidos durante o conflito no Iraque.
O que se pretende ressaltar, porém, é a necessidade crítica não com um viés de censura prévia ou de qualquer outra espécie, mas como aprimoramento das informações e opiniões que se multiplicam no mundo virtual, também como um meio de se evitarem distorções, idéias extremistas e radicais, que se reavivam neste momento de distensão internacional com o aval das arbitrariedades cometidas pela coalizão anglo-americana, encabeçadas por Bush Jr.
Realidade compreendida
Assim, no poderoso instrumento que representa a internet, torna-se cada vez mais comum o aparecimento e a disseminação de artigos de opinião em sítios variados com mensagens muitas vezes de conteúdo duvidoso ou como expressão de idéias equivocadas e preconceituosas. Que fique claro que não se contesta aqui o caráter democrático da net ? nem se tenciona policiá-la. Mas, se a "mídia oficial" pode e deve ser submetida ao crivo de especialistas e da sociedade (seus observadores), por que não esse novo território digital?
Nada melhor do que o espaço da própria web ? aliás espaço tão bem ocupado e representado por este Observatório ? no desempenho dessa tarefa de crítica, também aberta à sociedade civil. Essa questão certamente envolve diferentes ângulos de discussão e pode resultar muito produtiva, principalmente por ampliar os horizontes da informação e do conhecimento. Daí a responsabilidade pela veracidade dessas informações. Se um veículo da imprensa tem a obrigação de verificar aquilo que publicará, deveria haver um mínimo de cuidado com aquilo que se veicula na internet ? ainda que o custo e a responsabilidade sejam pessoais, quando devidamente identificados os autores.
Não se podem negar as armadilhas de artigos tacanhos, reducionistas, xenófobos, preconceituosos ou que apregoam a violência, o ódio, até mesmo certo fascismo diluído nas entrelinhas. Às vezes são matérias já publicadas na imprensa ? e redistribuídas online. (Melhor não citar certas ocorrências a fim de evitar propaganda gratuita). Ademais, sempre nos resta a alternativa de não ler tais artigos, não visitar determinadas páginas ou simplesmente deletar as mensagens inconvenientes recebidas por e-mail. Mas é dever constatar a existência de tais matérias e dos pensamentos que as produzem.
Mesmo que seja como forma de compreender nossa realidade social (aqui, uma sugestão aos estudiosos do assunto) e o que se passa nos meios alternativos de comunicação.
(*) Funcionário público e poeta, Jaú, SP