ALBERTO DINES RESPONDE
Um caso de estudo sobre as modalidades cromáticas do nosso jornalismo. Pode enquadrar-se como Imprensa Marrom, Reportagem Laranja, Picaretagem Roxa ou Chantagem Verde-Vômito. Está na última edição da revista que elegeu o cifrão como logomarca [veja Aspas, abaixo].
Ignorando desdobramentos fartamente noticiados nos dias seguintes, os responsáveis pelo negócio usaram aquela pérfida matéria publicada no Globo tentando atribuir a este Observador uma suposta censura ao livro Memórias das Trevas. Não leram a correção publicada pelo próprio jornal na edição seguinte e omitiram o desmentido categórico do autor, João Carlos Teixeira Gomes, em depoimento aqui publicado, logo em seguida. Pegar uma notícia isolada e passá-la adiante sem a menor apuração é a técnica da bola de neve. Com dois meses de atraso é uma dupla vergonha.
Como a intenção dos responsáveis era a chantagem. Distorceram, manipularam e ignoraram ? porque basicamente ignorantes ? tudo o que poderia contrariar o propósito de infamar para, em seguida, faturar uma grana junto aos mandantes.
Veja o relato pormenorizado do caso e compare com o que a revista publicou numa exibição escancarada dos padrões morais e profissionais dos seus responsáveis [abaixo, remissões para matérias aqui publicadas sobre o caso].
Antes de apresentar aos leitores o histórico da Impren$a e dos autores da malandragem, alguns dados suscitados pela patranha:
** Um ouvidor, ombudsman ou crítico da imprensa deve viver desta sua atividade. Aberta e assumidamente. É a sua atividade, imperioso que o seu comprometimento com a função seja público. Perniciosos são aqueles relacionamentos clandestinos, os dinheirinhos que entram por vias oblíquas para pagar uma capa, para extorquir um prêmio ou agradar um político no ostracismo. O Observatório tem anunciantes ostensivos, é hospedado num dos maiores provedores de conteúdo do país. Nada é subterrâneo ou clandestino.
** A correção do Globo no dia seguinte à aleivosia foi espontânea. A direção do jornal reconheceu imediatamente o erro. Nenhum advogado ou nenhuma corte deste país conseguiriam obrigar um conglomerado do porte das Organizações Globo a publicar uma correção sob a forma de entrevista, com enorme destaque, já no dia seguinte. A primeira matéria foi pérfida, a segunda foi digna e elegante. Esta gente que faz Impren$a vive na marginalidade há muitos anos, não percebe que um poderoso jornalão como O Globo não precisa ser acionado juridicamente para reconhecer que cometeu uma tremenda injustiça.
** O jornalista Hélio Fernandes recebeu neste Observatório o troco pelas mentiras que publicou. Mandou uma carta pessoal e coloquial a este Observador onde fica evidente que não assumia as loucuras que lhe sopraram nos ouvidos. Mas a revista Impren$a não tem dignidade para reconhecer erros ? se tentar um mínimo de probidade a grana não entra e o pedido de falência pode ser definitivo.
** Ao contrário do que diz a matéria da Impren$a, este Observador não receia os maus bofes do senador Requião. Nesses últimos seis anos foi o único jornalista que o enfrentou tanto neste Observatório como numa demorada polêmica por intermédio do Jornal do Brasil. O senador-bufo, em vez de revidar abertamente como compete a um representante do povo, acionou o DOPS escoimado nas prerrogativas de senador. Imaginem: um dos paladinos da esquerda brasileira, desnudado diante da opinião pública, em vez de recorrer à Justiça utiliza-se do famigerado DOPS, de triste memória. Pior: quando os microfones da TV Senado registraram que, numa sessão pública da CPI dos Precatórios, chamara este Observador de filho da puta (sic), nosso impoluto esquerdista recorreu ao caudilho direitista, ACM, então presidente do Senado, para apagar ? isto é, mutilar ? um documento pertencente ao Estado brasileiro. O caso foi publicado e comentado pela Folha de S.Paulo. É no mínimo curioso este reaparecimento do balofo Requião numa matéria que tanto deve ter agradado a ACM e logo numa revista tão protegida por Quércia, o probo.
** As impressões digitais do Requião como mandante/financiador do festival de calúnias aparecem em cada parágrafo. Sobretudo no trecho em que se refere à participação deste Observador no projeto de um workshop de jornalismo via internet e que faria parte de uma universidade virtual, a Uniamérica, planejada pela Secretaria de Ciência e Tecnologia do Paraná. Foi uma participação ostensiva, noticiada amplamente na imprensa local pelo seu caráter pioneiro e ocorrida num período anterior à criação do Observatório, justamente quando começou a pilantragem na Impren$a e os seus donos recusavam-se a pagar os colaboradores. Portanto não houve conflito de interesses. Um profissional que desde 1963 está ligado ao ensino do jornalismo no país e no exterior tem, não apenas o direito, mas a obrigação de continuar engajado na formação profissional das novas gerações. Especialmente quando sua única atividade remunerada estava bloqueada pela gatunagem do patronato-lumpen [veja abaixo].
Agora vamos ao que efetivamente interessa:
A revista Imprensa foi fundada por quatro jornalistas. Dois deles respeitáveis e altamente credenciados na profissão e fora dela: Paulo Markun e Manoel Canabarro. Os dois outros eram (e são) o que o vulgo designa como picaretas: Dante Mattiussi e Sinval de Itacarambi Leão. O primeiro foi demitido da TV Globo por apropriação pecuniária. O segundo vivia de pequenos golpes e expedientes. A porção séria do grupo fundador percebeu a companhia em que estava metida e saiu. Ficou a banda podre, que logo armou um golpe contra o Banespa. Isto é, contra o erário estadual. Com o apoio do ex-governador Orestes Quércia tomaram o equivalente a 1 milhão de reais para financiar uma aventura imobiliária que evidentemente ficou na planta. Com a intervenção do Banco Central no Banespa, a dupla comprometeu-se com os interventores a devolver o que havia surrupiado do povo.
Este Observador era um dos colaboradores da revista e, como qualquer profissional, recebia um pro labore pelas cinco ou seis páginas que produzia em cada edição. Como a dupla de trambiqueiros ficou seis meses sem pagar os honorários, foi devidamente acionada e o nome da editora saiu no Diário Oficial com o inevitável pedido de falência. Logo levantado por que a dívida foi quitada. Um dos sócios remanescentes deixou o negócio e foi operar no eixo Las Vegas?São Paulo, sua grande paixão. O remanescente, Sinval de Itacarambi Leão, jurou vingar-se daquele que ousou reclamar os seus direitos na Justiça. O resultado está na matéria ora em discussão.
A revista passou a viver de expedientes como o seu acionista. Eventos, é o nome técnico da sua principal atividade. Inventou um prêmio usando indevidamente um nome prestigioso, arma convescotes pseudo-acadêmicos com a ajuda de professores-doutores de duvidosa procedência, negocia premiações e fatura despudoramente matérias a respeito de empresas jornalísticas. Razão pela qual, no meio profissional, deixou de chamar-se Imprensa e converteu-se em Impren$a. Há uma corrente que prefere a abreviação Pren$a.
Sobre o jornalista Tão Gomes Pinto, atual editor da publicação, não há muito o que dizer: consegue o milagre de estar sempre à frente de projetos decadentes. Em abril passado deixou a obscuridade ao ser denunciado pela revista Caros Amigos (edição 37): tentara subornar a direção para não publicar uma matéria envolvendo a vida privada do presidente. De quem era o dinheiro não se sabe. Justiça lhe seja feita: a grana não era dele.
O autor-laranja, Pedro Paulo Venceslau, dispensa apresentações simplesmente por que não existe. Ou melhor, quer existir a custa de achincalhes. Jovem, portanto recuperável, oxalá consiga encontrar modelos morais mais edificantes do que aqueles que tem ao lado.
Esta é a troika que conseguiu transformar uma bola neve, supostamente branca, no mais expressivo paradigma do jornalismo marrom. A.D.
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ASPAS
IMPRENSA
"As garras de ACM arranharam o Sr. Dines", copyright Imprensa (n? 158, março/2001)
"O programa Observatório da Imprensa, apresentado pela TVE (TV Educativa do Rio) e retransmitido pelas TVs educativas em vários estados do Brasil, funciona para debater o comportamento da mídia e criticá-la. Mais do que o debate, no entanto, prevalece a crítica. Afinal Alberto Dines vive disso, de criticar os colegas, há muito tempo. Adora posar de vestal. Mas na primeira edição do programa no milênio, o Observatório praticou uma censura que, vazando para a imprensa em geral, deixou constrangido o próprio Dines.
O entrevistado do dia seria seu colega, o também jornalista João Carlos Teixeira Gomes ? autor do livro ?Memórias das Trevas?, uma biografia não autorizada de Antonio Carlos Magalhães. O tema: o boicote da dita ?grande imprensa? ao livro de João Carlos, na Bahia, o popular ?Joca? Teixeira.
No livro, o jornalista faz uma devassa na vida de ACM, conta como se deu sua ascensão durante o regime militar e narra a perseguição que o senador comandou ao Jornal da Bahia, na década de 60. Enfim, um prato cheio para os desafetos do senador, embora boa parte do livro seja dedicada a amenidades, como um relato da viagem de Joca à Itália. Para encher linguiça, como se diz.
A data, porém ajudava: fevereiro, período de guerra aberta em Brasília pelo comando do Senado e Câmara dos Deputados com Antonio Carlos dando as cartas ainda como presidente do Congresso.
Algumas horas antes de seguir para os estúdios da TVE, Joca Teixeira Gomes deu uma entrevista por telefone para a revista Imprensa e comentou: ?Assista ao Observatório hoje, daqui a pouco vou para lá gravar com o Dines?. Pouco depois, o jornalista foi informado que não precisava mais ir até o estúdio da TVE. O programa havia sido cancelado.
Joca procurou Dines para saber o porquê do cancelamento. ?Ele me disse que estava com um problema ético com o Fernando Barbosa Lima, que esta em começo de gestão e ficaria em uma situação difícil?, conta Joca Teixeira.
Procurada por Imprensa, uma das assessoras da TVE perguntou : ?Qual versão você quer? A do Dines ou a do presidente??.
Escolhemos começar com a do presidente: ?O Dines me procurou dizendo que queria gravar com o João Carlos Teixeira, que o livro dele sobre o ACM estava sendo boicotado pela grande imprensa e que valeria a pena. Mais tarde ele voltou atrás. Apenas um dos onze convidados topou participar. Ele quis cancelar por conta própria?.
Barbosa Lima afirmou ainda, que em nenhum momento pediu para Dines cancelar o programa. ?Eu só disse que seria um programa fraco?.
A cada entrevista que dava, Dines deixava mais constrangido o presidente da TVE. Em entrevista para O Globo, ele afirmou: ?Não foi autocensura, mas sim uma denúncia?. E completou: ?Tenho de levar em conta as injunções de uma TV estatal e de um governo em crise?.
No dia seguinte, o assunto ganhou as páginas dos jornais. Para desespero de Alberto Dines, Joca tratou de espalhar que estava sendo vítima de censura. ?Ele teve uma atitude de preservação de um colega querido, mas que na prática redundou numa censura?, disse para a Folha de S.Paulo.
A Tribuna da Imprensa publicou um artigo de meia página assinado por Hélio Fernandes, pondo mais lenha na fogueira. Segundo ele, o veto a João Carlos teria partido de uma intensa movimentação política diretamente de Brasília. E mais. Dines só ficou sabendo da articulação no último momento ?como uma rastaquera?. O governador do Paraná, Jaime Lerner, telefonou assustadíssimo: ?Se a entrevista for exibida o Requião vai aparecer direto na TV Senado fazendo revelações sobre a Feira de Hanover e o caso EJ?. Alberto Dines treme nas bases ao ouvir a palavra Requião. Foi o senador que denunciou uma maracutaia pela qual Dines seria contratado como reitor de uma universidade virtual do Paraná. O salário, claro, não seria virtual.
Dines partiu para a ofensiva. Ameaçou processar a Globo e se disse perseguido pela Folha, sua ?inimiga? contumaz. As ameaças não surtiram efeito nem para o presidente da TVE. ?O Dines gosta de fazer confusão. Ele briga com todo mundo?, comentou Fernando Barbosa Lima.
Afinal, como dissemos, o Sr. Alberto Dines vive disso.
Resultado? Muita publicidade para o já badalado livro ?Memórias das Trevas? e uma nova data para a entrevista com o autor. Mesmo porque as garras de ACM ao que parece não estão mais tão afiadas."
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