Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Na pauta, emoção e adrenalina

11 DE SETEMBRO

O aniversário dos atentados terroristas se aproxima. Do noticiário, espera-se a reprise das imagens das torres gêmeas caindo, pessoas cobertas de pó, bombeiros correndo, famílias chorando. Mas um aspecto será ? novamente ? negligenciado neste dia, aposta Howard Kurtz [The Washington Post, 26/8/02]: o papel dos jornalistas que ficaram para cobrir o evento.

Embora tenham sido muito elogiados pelo trabalho sério e responsável, poucos chegaram a pensar no que levou estes repórteres, fotógrafos e câmeras a arriscar suas vidas para aproximar-se do ground zero enquanto todos fugiam. Como exercer a função de coletar informações quando as pessoas ao seu lado estão morrendo, pergunta Kurtz. Como controlar as próprias emoções?

Algumas respostas foram reunidas por Cathy Trost e Alicia Shepard no livro Running Toward Danger (Correndo para o perigo), publicado pelo Newseum. A obra captura, em depoimentos emocionantes, a experiência de jornalistas que se viram transformados em correspondentes de guerra. Algumas histórias:

** Susan Watts, fotógrafa do New York Daily News: “Eu estava perto demais. Nunca pensei que pudesse estar perto demais. Momentos antes do prédio cair, policiais estavam empurrando os fotógrafos para trás. Eu briguei com eles dizendo ?Vocês não podem nos empurrar! Estão nos censurando. Esta história é importante demais.?”

** Hernando Reyes Smieker, da estação Noticias 1380, ao encontrar um colega: “Começo a chorar. Talvez seja esta a reação quando você vê um rosto familiar. Começo a chorar como um bebê e não consigo parar. Me desculpe, sou um repórter, eu não deveria chorar, mas estou tremendo, me sinto tão mal.”

** Arthur Santana, do Washington Post, no Pentágono: “Eu estava tentando ajudar. Comecei levando tanques de oxigênio para os pacientes, entregando luvas de látex e máscaras cirúrgicas… Indo para lá, eu era um repórter. Mas quando me vi no jardim do Pentágono me tornei uma pessoa ajudando, não um repórter… Parecia inadequado abrir meu caderno e entrevistar um bombeiro. Entregar-lhe uma garrafa de água em vez de enfiar um bloco de anotações na cara dele parecia a coisa certa a se fazer”.

Filme polêmico

O filme produzido pelo estúdio francês da Vivendi Universal em comemoração do 11 de setembro pode causar constrangimento, revela François Godard [Variety, 21802]. Constituído de 11 episódios com 11 minutos cada, escritos e realizados por diferentes diretores com total liberdade de criação, alguns segmentos não poupam críticas aos Estados Unidos.

Um exemplo é o episódio dirigido pelo britânico Ken Loach, que trata de outra tragédia num 11 de setembro: o golpe de estado que derrubou Salvador Allende no Chile. Ou o do egípcio Youssef Chahine, em que um personagem fala: “Os EUA e Israel são democracias, seus governos, eleitos pelo povo ? portanto, é legítimo atacar sua população.”

Algumas redes de TV americanas resolveram que voltarão a utilizar, com cautela, imagens dos aviões se chocando contra o World Trade Center no aniversário dos atentados de 11/9. A CNN, por exemplo, começou há um mês a passar propaganda que mostra uma das aeronaves voando para as torres, mas a seqüência é cortada antes do impacto. “Não acho que possamos evitar essas imagens totalmente”, opina Teya Ryan, gerente geral da rede nos EUA.

A ABC News havia proibido repetecos em movimento. Somente imagens estáticas eram permitidas. Mas agora, dependendo do caso, as mais violentas podem voltar a ser usadas. A emissora fora a única a estabelecer proibição estrita do uso do material. As outras todas deixaram de usá-lo em parte porque, com o tempo, deixaram de ter valor jornalístico, mas também porque telespectadores reclamavam do fato de que crianças de certa idade não sabem que se trata de replay e também porque era usado como espécie de “fundo de tela” para os todos programas a respeito dos atentados. “Ninguém quer ver horas de repetições de aviões entrando nos edifícios. Mas é o aniversário”, considera Marcy McGinnis, vice-presidente sênior de jornalismo da CBS. A rede, a exemplo da NBC, vai adotar o critério do bom gosto para o uso das imagens, em vez de limitar o número de repetições.

A Fox News, que tem programada reconstituição minuto a minuto dos acontecimentos de 11/9, ainda não sabe se vai mostrar o momento do impacto dos aviões. “Toda vez que vejo essa coisa ela me perturba. Sabendo como me afeta, tenho certeza de que há telespectadores que se sentem da mesma maneira”, conta Tom Bird, produtor sênior do canal. Ele ressalta, no entanto, que esses trechos são importantes para que as pessoas não se esqueçam do que aconteceu. Segundo David Bauder [AP, 22/8/02], é unânime entre as emissoras a decisão de não mostrar as pessoas se jogando do alto das torres.

Recentemente, reporta a Variety [22/8/02], mais canais divulgaram o que pretendem transmitir em 11/9. Entre as emissoras de TV a cabo, várias disseram que pretendem deixar a tela preta pela manhã. Os quatro canais que compões a rede A&E Television Networks darão pausa na programação às 8h46 e, durante 100 minutos, passarão letreiros com os nomes das vítimas. Depois, retornarão com a transmissão normal, inclusive comerciais. Discovery Networks e BBC America não exibirão propaganda. O canal aberto UPN exibirá cinco programetes de um minuto ao longo do dia, contando a vida de pessoas que atuaram de forma heróica durante os ataques. A National Cable & Telecom Association anunciou que os maiores canais de TV a cabo transmitirão simultaneamente um anúncio de utilidade pública na noite de 11/9, que deve trazer fotos originais de pessoas em atividades do dia a dia para passar mensagem de esperança.