Tuesday, 19 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

"Nada mal"

MONITOR DA IMPRENSA

BUSH & MÍDIA

Se a mídia pré-posse dizia que Bush estava fadado a uma administração corrompida e ilegítima, a pós-posse come no prato em que cuspiu. Agora, jornalistas declaram a estréia de Bush um sucesso. "Há um efeito de boa vontade que cai bem", afirma Dick Polman, redator de política do Philadelphia Inquirer. "Queremos dar ao homem uma chance e não parecer que estamos pisando nele antes de ver o que pode fazer pelo país."

"Democratas visitaram a Casa Branca e saíram declarando: ‘Bem, no final das contas ele não é tão estúpido’", diz David Corn, editor em Washington do Nation. "Após a amarga aspereza do período pós-eleitoral, qualquer comentário democrata sobre Bush que não use o termo ‘ladrão’ soa muito bem."

O New York Times afirma que Bush "realizou uma das transições mais ordeiras e politicamente inteligentes nos últimos 20 anos, mostrando uma destreza que surpreendeu veteranos de ambos os partidos". O Washington Post diz que "a tentativa diária de diálogo com democratas parece ter lhe dado boa impressão inicial, o que era pouco esperado". George Stephanopoulos, da ABC, afirma que "é difícil imaginar como Bush poderia ter se saído melhor nessa semana."

No entanto, ainda é muito cedo para prognósticos. Para Howard Kurtz [The Washington Post, 31/1/01], em uma cultura guiada por cabos, na qual reportagens sobre os 100 primeiros dias são apresentadas a partir de argumentos de reportagens das 100 primeiras horas de administração, artigos desse tipo são inevitáveis. "Não se pode fazer julgamentos definitivos após uma semana, mas, em comparação com o presidente anterior, Bush de fato teve um ótimo início", afirma Ken Walsh, correspondente da Casa Branca para U.S. News & World Report. "As reportagens de agora são apropriadas, desde que não sejam proféticas. É muito cedo para dizer que Bush está em lua-de-mel com a mídia."

MÍDIA NA RÚSSIA

O presidente Vladimir Putin opõe-se à demissão da equipe editorial da NTV, principal emissora de TV independente na Rússia, mas insistiu em que não tem poder para estancar a campanha legal e financeira que está sendo promovida contra a emissora por seus subordinados.

Putin concedeu audiência de mais de 3 horas no Kremlin a uma delegação de jornalistas da NTV, que imploraram por um ponto final nos oito meses de investigações, prisões e processos. Os jornalistas afirmaram que o presidente diz-se impotente. "Não posso fazer nada. Ajudo com prazer, tentarei, mas eles não me obedecem."

De acordo com Peter Baker e Susan B. Glasser [The Washington Post, 30/1/01], Putin deu a mesma resposta ambígua à tentativa de Ted Turner, fundador da CNN, de comprar 25% da NTV em ações para manter a emissora longe do controle do Estado, façanha que se desdobraria por intermédio conglomerado estatal de gás natural russo Gazprom [ver remissões abaixo].

Putin apertou as mãos de todos os apresentadores de telejornais presentes no encontro, muitos dos quais criticaram fervorosamente seu governo. À medida que os jornalistas expunham suas reclamações, o presidente ouvia atentamente e tomava notas. O presidente tentou destinguir Vladimir Gusinsky, fundador da NTV – que descreveu como criminoso –, de sua equipe editorial, que elogiou. Os empregados de Gusinsky, no entanto, não parecem ter dado atenção às alfinetadas do presidente. "Não desistiremos de Gusinsky", disse Marianna Maximovskaya, âncora da emissora. "Nossa mensagem é: não recuaremos diante da pressão."

Acusado de fraude, Gusinsky está em prisão domiciliar na Espanha e luta contra um pedido de extradição para a Rússia. A NTV foi vasculhada pelo Kremlin 28 vezes. Com programas afiados e sem pudores – já foi apelidada de CNN russa –, é símbolo da mídia livre na nova Rússia.

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