Patricia Moura
Wilson Simonal, um dos maiores showmen da história do Brasil, se foi e o grande mistério que pairava em torno de sua carreira não foi totalmente desvendado. Julgado e condenado sem provas conclusivas, teve a carreira podada no auge do sucesso por conta de boatos sobre suposta colaboração com o regime militar, nos anos 60 e 70. A patrulha ideológica e o maniqueísmo daquele momento histórico fizeram com que muitos lhe dessem as costas, sem que ao menos ele tivesse a possibilidade de se explicar. Programas de TV se recusavam a apresentá-lo, rádios o baniram da programação, revistas não publicavam uma linha sobre ele – ou seja, foi um dos maiores “gelos” já sofridos por um artista no país.
Cabe comparar este caso com o da Escola Base, com a diferença de que, como a censura ainda imperava no país, não havia como linchá-lo publicamente sem atingir o governo militar, o que seria solenemente proibido pelos agentes federais. O clima de terror instalado deve ter influído muito nessa sentença perpetrada contra o cantor, principalmente após o terrível caso de espancamento dos atores da peça Roda Viva, de Chico Buarque de Hollanda.
A oportunidade de ouvi-lo e debater o caso foi perdida. Simonal tinha em mãos, inclusive, um certificado de que não havia, na Polícia Federal nem no Dops, qualquer documento que comprovasse sua colaboração. Nem mesmo assim foi ouvido pela mídia, que atualmente prefere dar mais atenção a namoradas de pagodeiros e de jogadores de futebol, mesmo que sejam meras alpinistas sociais.
Não interessava a ninguém redimi-lo. Alguns defensores chegaram a dizer que foi racismo, que o Brasil não estava preparado na época para ter um negro como principal ídolo popular, com lindas mulheres e carrões.
Este artigo não foi feito com o intuito de defender o cantor, mas de discutir um assunto que, com o fim do regime militar há quase 15 anos, foi empurrado para debaixo do tapete como se a mídia não quisesse discutir o fato, temerosa de admitir que errou. Todos têm o direito de se defender. Mesmo que ele tenha colaborado, de fato. Este direito lhe foi negado em vida, mas pode ser recuperado com uma olhada nos arquivos abertos do regime militar e o debate público do caso.
(*) Aluna do último ano de Jornalismo na UFBA
Simonal e os urubus – Dinah Sales de Oliveira