COBERTURA ELEITORAL
Cláudio Weber Abramo (*)
É impossível abrir um jornal ou zipar para um noticioso televisivo sem que sejamos exaustivamente informados sobre os menores detalhes das candidaturas (ou pré-candidaturas) de José Serra, Tasso Jereissati, Ciro Gomes, Lula, Roseana Sarney e Itamar Franco. Contam-nos uma miscelânea de coisas, como as manobras do alto e do baixo clero da Câmara, os seminários do Lula, as alfinetadas da família Covas, o que fará o ministro Paulo Renato, a plataforma progressista do PFL, o que Ciro deve ter conversado com Tasso, o que Tasso possivelmente disse ao presidente, o que Serra teria comentado sobre isso num possível telefonema a um senador entreouvido por outro senador, o que um deputado disse ter escutado de um ministro que teria estado algum dia com o presidente sobre uma conversa com Tasso (ou teria sido com Serra a tal conversa?) e por aí vai.
Uma coisa, porém, tem passado inteiramente em branco, ou quase: o fato de que o PT pretende fazer aliança com o PL para a eleição presidencial. O eventual e sobressaltado leitor não se enganou: é isso mesmo, o PL, Partido Liberal, que não bastasse sê-lo abriga, em lugar proeminente de suas fileiras, o sr. Edyr Macedo, capo da Igreja Universal do Reino de Deus.
Como é possível a um partido que se chama "dos Trabalhadores", e que manteve tradicionalmente uma posição mais ou menos socialista (o fato de o socialismo de muitíssimos integrantes do PT ser eivado de equívocos os mais elementares não deve afetar tal apreciação ideológica, se é que ainda se pode usar esse palavrão), mais ou menos socialista, dizia, como é possível a tal partido sequer contemplar uma aliança eleitoral com um partido que tem no nome a palavra "Liberal"?
Não seria esperado dos jornais que procurassem transmitir ao leitor algum esclarecimento que o fizesse compreender o que se está passando? Por exemplo, entrevistar o sujeito da Igreja Universal e lhe perguntar que raio é isso? Procurar saber do candidato (oops, pré) Lula onde foi que ele esqueceu as barbas? Indagar o mesmo do Aloízio Mercadante, do José Genoíno? Comparar linha a linha os programas dos dois partidos?
Mas, não: a imprensa não parece minimamente preocupada com esse tipo de problema, como também não se ocupa de instruir o leitor sobre quais, afinal, seriam as diferenças entre os prováveis ou possíveis programas de governo de todos esses pré-candidatos. Afinal, qualquer um deles, uma vez no poder, empreenderá algum tipo de política, e é isso o que interessa saber numa campanha eleitoral. Quais serão essas políticas?
O consumidor da notícia (agora é assim: leitor virou consumidor de notícia) é informado apenas de convescotes mundanos, fofocas, intrigas, raivas e desgostos. O noticiário da sucessão mais parece coluna social: sabemos que Ciro Gomes é amigo de Tasso, o qual virou chapinha da família Covas, a qual por sua vez detesta Serra, e que Roseana toda rósea na TV corre por fora para emplacar um lugarzinho de vice, quiçá até a cabeça de chapa. Na verdade, no fundo, Roseana quer mesmo é ser vice de Lula ? o que a esta altura do campeonato não seria nada impossível, dados os antecedentes.
(*) Secretário-geral da Transparência Brasil <http://www.transparencia.org.br>. E-mail: <cwabramo@uol.com.br>