Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Namorada é namorada, amante é amante

GRAMPOS NA BAHIA

Chico Bruno (*)

O grampo de usuários de telefones na Bahia está sendo coberto pela mídia nacional com eficiência. As quatro revistas semanais brasileiras trazem esta semana matérias sobre o assunto, mas com enfoques distintos. Veja publica matéria sobre a relação dos subordinados carlistas com o chefe ACM. Carta Capital prevê o outono do carlismo, pegando como gancho os negócios escusos dos carlistas, tanto no governo estadual como no federal. IstoÉ traz matéria em que o repórter Luiz Cláudio Cunha conta a confissão feita a ele por ACM, de que teria grampeado 200 horas de conversas do deputado federal Geddel Vieira Lima. Época divulga o depoimento de Adriana Barreto ao Ministério Público Federal.

Os principais jornais do país dedicam diariamente matérias ao grampo na terra dos acarajés ? com uma ressalva para o noticiário dos veículos pertencentes às Organizações Marinho. Ao ser descoberto o grampo no telefone da advogada baiana Adriana Barreto, o tratamento a ela dispensado pelas emissoras de rádio e televisão e pelos jornais da família Marinho foi o de "namorada" de Antônio Carlos Magalhães. Tratamento seguido, erroneamente, pelos demais veículos de comunicação.

De repente, a mídia da família Marinho trocou a palavra "namorada" por "amiga", ou por um aposto: "… que se diz namorada de ACM…". Na verdade, ela não se diz, ela foi, com certeza, não namorada, mas amante do político baiano por nove longos anos. Quando o caso amoroso entre os dois começou ela tinha 19 anos, era uma jovem estudante de Direito, e ele um homem casado que ocupava o cargo de governador do Estado da Bahia. Portanto, o tratamento dispensado pela imprensa nacional e, particularmente, pelos veículos de comunicação das Organizações Marinho, com exceção do colunista Márcio Moreira Alves, é inadequado. O termo correto é amante.

O cotidiano da capitania

Talvez pela amizade que nutre há muitos anos com o casal Antônio Carlos e Arlete Magalhães, o presidente das Organizações Globo, Roberto Marinho, tenha solicitado a seus redatores que amenizem o tratamento, para não causar maior desconforto à mulher de ACM. Ainda por cima existe relação muito forte e antiga entre o casal ACM e os pais de Adriana Barreto, a quem Arlete e o senador conhecem desde muito pequena.

O romance entre ACM e Adriana é uma novidade para o país, mas não para os baianos, que conhecem o caso em profundidade: o senador e Adriana nunca fizeram questão de encontros reservados. Eram vistos constantemente em restaurantes, shoppings, praias (as preferidas eram Praia do Forte, Vilas do Atlântico e Arraial da Ajuda) e viagens a São Paulo. Portanto, soa muito mal aos ouvidos baianos o tratamento de "namorada" dispensado à advogada, e particularmente o exagero dos veículos da família Marinho.

A cobertura do Bahiagate está desvendando para o Brasil o cotidiano da capitania hereditária conhecida por Bahia, que tem em ACM seu donatário geral. Resta à imprensa apurar o que faziam dois governadores baianos durante o tempo em que a Polícia Civil local grampeou mais de 400 telefones, entre fixos e celulares, número que, segundo desconfia a Justiça baiana, pode ser muito superior aos 446 telefones já conhecidos.

(*) Jornalista