LIBERDADE DE IMPRENSA
Claudio Julio Tognolli (*)
O número de prisões, ataques físicos e ameaças a jornalistas aumentou no ano passado e apesar do número menor de mortes, cresceu o de casos de censura. As detenções de jornalistas (692) cresceram em mais de 40%, e duas vezes mais jornalistas foram atacados ou ameaçados (1.420). Mais e mais jornalistas estão sendo postos atrás das grades ? agora são 118. Se assistentes de produção (3) e dissidentes cibernéticos (pelo menos 42) forem somados, os dados pulam para 163 pessoas encarceradas sob a acusação de tentarem informar o público. As conclusões são do relatório anual da organização internacional Repórteres sem Fronteiras, com sede em Paris.
A cada dia do ano passado, assim como em 2001, sustenta o dossiê, uma redação foi censurada em algum lugar do mundo, e quase um terço dessas pessoas vive em países em que não há liberdade de imprensa. Em Bangladesh, Eritréia, Haiti, Nepal ou Zimbábue, a situação continua a piorar. Como notou Repórteres sem Fronteiras em 2001, “aqueles que matam ou fisicamente atacam jornalistas continuam a escapar da punição de seus crimes, e isso aumenta a violência contra a mídia”. Em 2002, 25 jornalistas foram assassinados, pelo menos 692 presos, outros 1.420 estiveram sob ameaças ou sofreram algum tipo de agressão e pelo menos 389 redações ficaram sob censura. Em 1? janeiro de 2003, 118 profissionais estavam em prisões ao redor do mundo.
Em 2001, 31 jornalistas foram mortos, 489 presos, 716 estiveram sob ameaças ou sofreram algum tipo de agressão, e 378 redações foram censuradas. Em 1? de janeiro de 2002, 110 jornalistas estavam em prisões.
Acordos de paz e reformas políticas feitas ano passado em Angola, no Afeganistão e no Sri Lanka notavelmente aumentaram a liberdade de imprensa no mundo, diz o relatório. Mas os Repórteres Sem Fronteiras registraram “um declínio na liberdade de imprensa em democracias como a Itália e os Estados Unidos, onde alguns jornalistas foram para a cadeia”.
A investigação de Repórteres sem Fronteiras mostra que pelo menos 25 jornalistas foram mortos ano passado “por causa de suas opiniões ou porque simplesmente faziam seu trabalho”. Suas mortes não foram acidentais, e a maioria foi assassinada por grupos armados. Prossegue o relatório: “O repórter Daniel Pearl, do Wall Street Journal, foi seqüestrado e assassinado por fundamentalistas islâmicos no Paquistão. Três repórteres foram mortos na Colômbia ou por causa da guerra civil ou devido a sua exposição a um clima de corrupção política. Em pelo menos 10 casos o Estado, especialmente o Exército, esteve diretamente envolvido. No Nepal, um editor pró-maoísmo morreu enquanto era torturado numa central de polícia de Katmandu, e nos territórios palestinos o uso excessivo de força pelo Exército de Israel levou três jornalistas à morte”.
Segundo o dossiê, a Ásia foi novamente o continente mais perigoso para jornalistas, com 11 assassinatos. Em Bangladesh, dois foram feridos de morte por grupos armados no sul do país. Nas Filipinas, dois repórteres, Benjaline Hernández e Edgar Damalerio, foram executados por policiais corruptos ou por soldados na ilha de Mindanao. A América Latina, diz o relatório, “é o segundo continente mais perigoso para repórteres, como nove jornalistas assassinados, incluindo o Brasil, onde o repórter investigativo Tim Lopes foi assassinado por traficantes. A Rússia, com quatro mortes, foi o país mais perigoso para jornalistas, e por trás dessas mortes estavam coronéis do submundo ou oficiais locais”.
Não é a primeira vez que o Brasil chama a atenção da RSF. Ver abaixo, em Leia também, remissões para relatórios da organização distribuídos ao mundo no ano passado, que montam um retrato do tratamento dado à mídia quando se exige que magistrados, promotores e delegados investiguem ameaças, ataques e mortes de jornalistas.
(*) Repórter especial da Rádio Jovem Pan, professor de Jornalismo do Unifiam (SP) e da ECA-USP e consultor de jornalismo investigativo da Unesco no Brasil
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