Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Nelson de Sá

CRÍTICA DIÁRIA

"No Ar", copyright Folha de S. Paulo

19/04/02 – Comemoração no palácio

Na Band News, assim que o Supremo votou:

– O Serra ganhou.

O dia, que segundo a Globo já abriu com ?comemoração no palácio? pelas vitórias no Congresso, fechou com ?a última virada no parafuso da polarização?, segundo um petista.

Serra ?ganhou?, mas Lula não ficou atrás. Para Boris Casoy, ?favoreceu Serra e Lula?.

O curioso é que, até a votação, tucanos e petistas surgiam na TV dizendo que não seriam beneficiados. Do presidente do PSDB, na Globo:

– Nossa posição é indiferente à decisão do Supremo.

E do presidente petista:

– É indiferente para o PT.

O jogo de cena ?indiferente? só durou até a decisão. No Jornal Nacional, o PT anunciou a busca de ?alianças nacionais?, enquanto Serra, sufocando o júbilo, dizia:

– Agora a gente vai procurar fazer a aliança mais ampla.

Garotinho se debateu na TV para seguir candidato, mas estava abalado pelo Supremo -que, segundo ele, ?violou a Constituição?.

Ainda assim, ninguém sofreu como Ciro Gomes. Ele se avizinhou dos pefelistas, sacrificou o presidente do PPS e mal notou o conflito regional que corroeu sua Frente Trabalhista.

No Jornal da Band, enquanto Ciro dizia apoiar a verticalização e dava como prova o acordo com PDT e PTB, Leonel Brizola só faltou ofender:

– Se o PPS quiser ir sozinho, vá sozinho! Vá com os 40 segundos dele na televisão!

A Globo já fala em ?saudades do poder? no PFL:

– O PFL dá sinais de que, com muito jeitinho e promessas para o futuro, pode voltar aos braços do governo.

Não de Serra, mas do governo -o que é sempre bom, quando não se tem mais um candidato para onde correr.

Para fechar o cerco, o tucano Geraldo Alckmin passou uma hora com Silvio Santos, segundo a Jovem Pan. Silvio saiu fugindo das perguntas sobre uma candidatura pelo PFL:

– Tenho contrato de exclusividade com o Baú da Felicidade.

O programa de Paulo Maluf, ontem, foi prova da falta que faz um bom marqueteiro.

Sem idéias, sobrou usar, uma vez mais, a participação no Show do Milhão, com os elogios gastos de Silvio Santos.

Os clipes foram apáticos, sem emoção. Os candidatos a deputado seguiram cada um a sua linha retórica -e estética. E o próprio Paulo Maluf não parou de dizer que não foi ?condenado pela Justiça?.

18/04/02 – Às escondidas

O sonho presidencial do PFL terminou de modo constrangedor.

Roseana Sarney foi ?às escondidas?, na expressão usada ontem pela Globo, depor sobre o projeto Usimar, ?que recebeu R$ 44 milhões, mas nunca saiu do papel?.

No Jornal da Globo, anteontem, foi ainda pior. O repórter no Maranhão entrou ao vivo. E a apresentadora:

– Por que Roseana resolveu se antecipar?

– Tudo leva a crer que foi para evitar o constrangimento de entrar na Polícia Federal de dia, sem ter como evitar as câmeras. Conseguiu o privilégio de ser ouvida às 22h e ainda sair pela porta dos fundos.

O sonho de poder do PFL saiu pela porta dos fundos.

Não é só Roseana que anda fugindo das câmeras e dos microfones.

Marta Suplicy ?virou as costas?, no dizer da Jovem Pan, quando perguntaram sobre a expulsão do vereador do PT -que votou contra o corte nas verbas da educação.

Se evitou comentar problemas assim e outros, como defender Paulo Maluf, Marta fez questão de ir ao lançamento do boneco de seu filho, Supla, e dar entrevista à Rede TV!:

– Há anos que ele queria ser um boneco… O que eu mais gostei foi do rosto.

Na CBN, o expulso observava que, se Marta continuar assim, ?São Paulo não será vitrine, mas uma grande vidraça, que vai liquidar a candidatura de Lula, de José Genoino?.

Os adversários da candidatura governista fizeram a festa com o aumento de impostos anunciado pelo ministro da Fazenda.

Para Garotinho, na Jovem Pan, foi o ?fim melancólico? do governo. Para o petista Aloizio Mercadante, na CBN, foi um ?péssimo remédio?.

Para o pefelista Inocêncio Oliveira, na Globo, ?o tiro pode sair pela culatra?. Ciro Gomes ecoou a imagem pefelista e disse que foi um ?tiro no pé?.

José Serra deve ter falado o dia todo de Pedro Malan.

Franklin Martins, sobre o aumento de impostos:

– O governo deu dois recados. O primeiro aos empresários: o dinheiro que economizarem com a CPMF será desembolsado de outra maneira. O segundo ao Congresso: se alguém está pensando em secar o caixa da União, pode desistir.

Do segundo recado, fica a certeza de que a disputa em torno da CPMF tem como motivação maior o ?caixa? de um governo em ano de eleição.

17/04/02 – Amor e afeto

Na noite seguinte ao golpe na Venezuela, Ana Paula Padrão registrou que nenhum país havia reconhecido o novo governo, mas que o FMI tinha não só reconhecido como oferecido dinheiro.

Foi risível, o que também se pode dizer da gagueira em que está perdida a Casa Branca. O porta-voz de George W. Bush insistia ontem na CNN, depois que o ?NYT? mostrou que membros do governo tinham se encontrado com os golpistas em preparação:

– Os funcionários se encontraram com um amplo espectro de venezuelanos, durante meses. Entre eles se incluem representantes de associações empresariais, o presidente interino Pedro Carmona…

A esta altura, é curioso chamar Carmona, que usurpou o executivo e dissolveu o legislativo e o judiciário, de ?presidente interino?.

Na mesma CNN, que diante do oligopólio golpista da TV venezuelana virou fonte confiável no país, o presidente eleito Hugo Chávez dizia ontem que era verdade, que a ?raiz? do golpe era local, não americana.

E até saudava Bush professando, com ironia:

– Amor e afeto.

Por falar em FMI, o ministro Pedro Malan conseguiu anunciar, na mesma entrevista coletiva, que o governo vai pagar US$ 4,2 bilhões ao Fundo e elevar os impostos dos brasileiros. E ameaçou mais:

– Não assistiremos paralisados à perda da CPMF, porque temos compromissos…

O PFL aprovou a CPMF no primeiro turno, depois rompeu com FHC e retaliou obstruindo o segundo turno.

Não, não é nada disso. O novo comercial do PFL insinua que obstrui a CPMF ?na defesa do contribuinte?. Da locução:

– O PFL, na defesa do contribuinte, fechou questão a favor da correção da tabela do Imposto de Renda. E fechou questão contra o aumento na contribuição social sobre o lucro líquido das prestadoras de serviços, o que iria atingir milhões de cidadãos, em mais uma punição para a classe média.

Para além do texto intricado, de quem não sabe o que dizer, o problema é o final:

– Quando se afastou do governo, o PFL afirmou que continuaria atuando com independência.

Portanto, é o que insinua, ?continuaria atuando? contra a CPMF -que antes apoiava em uníssono.

É incoerente, mas por aqui os marqueteiros acreditam que o telespectador, como o papel, aceita tudo.

16/04/02 – É governo!

Pode não passar de vontade incontida dos intermediários, mas quem viu TV nos últimos dias ficou com a sensação de que PSDB e PFL estão muito perto de ?reatar o casamento?.

A expressão foi usada pela Rede Globo, por exemplo. Mas também a Bandeirantes, para mencionar uma concorrente, viu uma aproximação entre os dois partidos.

Apresentou o pefelista Jaime Lerner, assim, declarando que o PFL ?é governo!? mais de uma vez.

E até um pefelista mais envolvido na campanha sufocada de Roseana, como Moroni Torgan, surgiu dizendo que ?a tendência? na legenda, mantida a verticalização, é liberar os acordos estaduais -o que favorece o tucano José Serra.

Tucanos e peemedebistas, nem seria preciso relatar, lançaram em série, desde a manhã na Globo, suas mensagens de devoção aos pefelistas.

E Roberto Freire, presidente do PPS, que não quer o apoio do PFL a Ciro Gomes, prosseguiu no esforço de afastar os pefelistas no grito:

– O PFL sustentou todos os regimes autoritários.

Por falar em sustentar regimes autoritários, FHC não pediu a volta de Hugo Chávez, na Venezuela. Como bem mostrou a Globo, desde sexta, o que o presidente brasileiro defendeu foram eleições para legitimar a ?nova ordem?.

Agora, o que mais se ouve e vê é FHC em telefonemas a Chávez – detalhadamente relatados aos telejornais, como o Jornal da Record. Acentua-se assim o contraste com o petista Lula, que também não defendeu Chávez, como FHC, mas fez coisa ainda pior.

Gravando externas em Paris, com Duda Mendonça a tiracolo, o petista se escondeu dos jornalistas para não ter que apoiar -e se identificar com- o presidente venezuelano, então ainda preso.

Lula quer distância de Chávez como quer de João Pedro Stedile. Stedile que prometeu mais invasões apontando para -e fixando os olhos na- câmera da Band, ontem:

– Há dois anos a reforma agrária só acontece na TV.

Osama bin Laden voltou à emissora Al Jazeera e jogou um pouco mais de areia nos esforços de paz.

E talvez ele nem esteja vivo. Talvez a gravação apresentada até no Jornal Nacional não passe de uma edição das piores.

Um produtor da própria Al Jazeera admitiu que não dá para dizer quando foi feita a gravação. Algumas das imagens seriam anteriores a 11 de setembro. A locução seria da semana passada.