Tuesday, 19 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Nelson de Sá

NO AR

"Para o próximo", copyright Folha de S. Paulo, 9/8/01

"Diálogo na Globo:
? Para cumprir o acordo com o FMI, o governo terá de economizar muito dinheiro. São US$ 45,7 bilhões.

Corta para outro âncora:

? O Brasil nunca passou por aperto tão grande. Não vai ser fácil, apesar dessa tranquilidade do Ministério da Fazenda. Mas a Míriam Leitão conversou com integrantes da equipe econômica e tem o veredito.

Corta para a comentarista, que fala aos trancos:

? A conclusão a que se chega é que se… O melhor a que se chega é que a tranquilidade no… O melhor a que se chega desse anúncio é que o…

Até que fala, de uma vez:

? Parte desse empréstimo vai ter que ser pago no próximo governo. Grande parte dessa dívida será paga pelo próximo governo.

Eis aí a tranquilidade da equipe econômica.

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"O novo acordo com o FMI vem sendo divulgado aos trancos, pelo que tem de amargo. Da Globo News:

? A equipe econômica teve que dar explicações a investidores estrangeiros e acabou revelando novos detalhes.

Um dos detalhes:

? O secretário-executivo do Ministério da Fazenda confirmou que a dívida vai representar 53,9% de tudo o que o país produzir, mas fez uma previsão otimista: o número pode cair, se o país voltar a crescer 4% ao ano e a taxa de juros baixar.

Pelo tom, não foi piada.

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Dos ministros ao diretor de Política Econômica do Banco Central e até o secretário da Receita, a equipe econômica desfilou inteira na Globo nesta semana -em divulgação, aos trancos, do acordo com o FMI.

Não foi o bastante. Ontem, lá estava o próprio presidente FHC, falando a Míriam Leitão, no Jornal Nacional.

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Dias atrás, Jader Barbalho, em esforço de entrevistas, saiu com esta observação na Jovem Pan, ao comentar a longevidade do caso Banpará:

? O show não pode parar.

Ele mesmo se deu conta de que estava alimentando o show e viajou ontem ao Pará, de onde não sai tão cedo. No registro da Globo News:

? Jader afirmou que só vai voltar a frequentar o Senado quando tiver algum fato relevante que justifique.

A exemplo de Paulo Maluf, de quem não se vê uma imagem na televisão há semanas, o senador foi para uma espécie de exílio -do espetáculo."

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"Revolução petista", copyright Folha de S. Paulo, 10/8/01

Era um seminário petista de ?comunicação?, no caso, eufemismo para propaganda político-eleitoral.

Lula surgiu ao lado do antigo marqueteiro de Paulo Maluf, Duda Mendonça, que vinha sendo questionado no PT, e procurou deixar claro de que lado está. Pediu, segundo a Globo News, nada menos que uma ?revolução? na atitude do PT diante da comunicação -ou melhor, da propaganda.

Lula já realizou tal revolução ao escolher um marqueteiro que era em tudo identificado com o antigo adversário.

Durante quase uma década, as campanhas de Duda Mendonça espelharam, na prioridade que davam à emoção em vez da razão, todo o populismo malufista -a começar do terror da violência urbana.

A revolução agora é encontrar o populismo petista, ou melhor, o populismo lulista.

Um bom começo, na ?revolução? publicitária, é definir o inimigo e acusá-lo de tudo, reforçando o maniqueísmo -que garante lugar no segundo turno, como ensinou Mendonça em suas campanhas.

Era o que fazia ontem, por coincidência, a prefeita de São Paulo, na Jovem Pan. Diante de novo protesto dos perueiros, no Palácio das Indústrias, tratou de responsabilizar o governo federal, por causa do desemprego paulistano.

Não é só estritamente na ?comunicação? que o PT vem aprendendo com os adversários. Ontem foi instalada a CPI do Lixo. Decidiu-se por uma comissão para apurar não apenas os contratos petistas, mas também os anteriores.

É um modo de diluir os estragos na cobertura dos telejornais -e da paulistana TV Câmara, que está de volta.

Os ex-prefeitos poderão ser chamados para depor, avisou o presidente petista da CPI, que acrescentou:

? Com exceção, é claro, de Jânio Quadros, que já morreu.

Itamar Franco e FHC disputaram a boca de cena dos telejornais ontem, o dia todo, com notas e discursos. A disputa deve prosseguir hoje, com Itamar em São Paulo e duas entrevistas coletivas já marcadas.

Ao menos ele, como Lula, é um presidenciável. Cabelo ao vento, Roseana Sarney ocupou ontem o horário nobre, em comerciais do PFL, com ambição menor -é candidata a candidata a vice-presidente."

 

    
    
                     

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