GRAMPOS NA BAHIA
Chico Bruno (*)
A vida de Antônio Carlos Peixoto Magalhães é recheada de fortes emoções, desde os tempos de adolescência no Campo da Pólvora ? famosa e marcante praça soteropolitana que tem como monumento máximo o Fórum Rui Barbosa, sede da Justiça baiana, nunca explorada pela mídia nacional, nem mesmo no recente episódio do painel eletrônico do Senado.
Da juventude até os dias atuais, a trajetória de Antônio Carlos Peixoto Magalhães sempre foi marcada por histórias que se equilibram entre a ficção e a realidade, daí o senador ter afirmado que, na Bahia, o que acontece de ruim ou bom é creditado a ele ou ao Senhor do Bonfim.
A mídia teria farto material jornalístico se se pautasse apenas algumas passagens controvertidas da história do senador, como a que conta, por exemplo, que durante o Estado Novo, para ter a confiança do interventor Juracy Magalhães, nomeado por Getúlio Vargas para governar o estado, ACM calçava e descalçava as botas, fazia as malas e até passava as roupas do interventor. Viria daí sua sede de estar sempre próximo do poder, custe o que custar ? até se rebaixar.
Brigas na Rua Chile com desafetos, morte do genro Jucá Valente, represália à família Mariani para tentar impedir a venda do Banco da Bahia ao Bradesco, com a desapropriação da mansão onde residia Clemente Mariani, suicídio da filha e um sem-número de episódios nunca muito bem esclarecidos e sempre tratados pela imprensa nacional com certo desdém ? talvez por ver certo exagero nos episódios creditados a ACM.
A recente quebra de sigilo do painel eletrônico do Senado, que o fez renunciar ao mandato de senador, foi o primeiro caso envolvendo ACM que a mídia nacional tratou com destaque, talvez por ter acontecido em Brasília, onde tudo ganha visibilidade nacional, afinal é capital do país. Sem solução judicial, o episódio trafega entre a ficção e a realidade, pois até aqui uns acreditam na culpa e outros na inocência de ACM, principalmente os baianos. Aliás, vale lembrar que, em tal caso, o senador utiliza os serviços do escritório de advocacia do atual ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para a sua defesa.
Agora, com ampla cobertura da mídia nacional, novamente beirando os dois extremos, surgem os grampos telefônicos ? e, como tudo o que acontece na Bahia, com a digital de ACM, segundo adversários e até aliados. Quem conhece a Boa Terra em profundidade pode afirmar com certeza que num governo carlista nenhum discípulo tem coragem de dar um passo sem consultar o mestre. Portanto, por este raciocínio, o grampo foi executado, no mínimo, com a conivência de ACM.
Para infelicidade do senador, e confirmando a tese de que uma desgraça puxa a outra, o grampo baiano levou a mídia nacional a desvendar um romance proibido, que durou 10 anos, entre o político setentão e a jovem filha de um desembargador baiano ? que sempre recebeu e cumpriu ordens de ACM. Um caso de infidelidade que, também, pairou entre a ficção e a realidade, pois antes do grampo telefônico uma palpitante reportagem sobre assunto foi relegada à gaveta do editor de uma das três revistas semanais de informação do país.
Talvez agora a mídia nacional descubra que nem tudo o que narravam os adversários de ACM era folclore, exagero ou intriga da oposição.
(*) Jornalista