Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

News Corp compra DirecTV

TV PAGA

A News Corporation, conglomerado de mídia de Rupert Murdoch, fechou acordo de US$ 6,6 bilhões por 34% das ações da Hughes Electronics, empresa que controla a DirecTV. A compra é a realização de um antigo sonho do magnata australiano de entrar no mercado de TV via satélite dos EUA, contam Tom Johnson e Michael Smith [Reuters, 10/4/03]. A DirecTV é a maior empresa do setor nos EUA, com 11,3 milhões de assinantes.

A primeira tentativa de Murdoch de entrar no disputado mercado
americano ocorreu há quase dois anos. Em 2001, a rival EchoStar
Communications superou a News Corp numa proposta de aquisição
da Hughes (de US$ 30 bilhões), mas a transação
foi barrada por agências reguladoras antitruste, e a General
Motors colocou novamente a unidade à venda.

Após o acordo, a News Corp vai transferir o controle da Hughes para o Fox Entertainment Group. Dessa vez, a legislação antitruste não deve ser um problema, pois, ao contrário da EchoStar, a News Corp não participava do mercado de TV paga americana, então a compra não significará maior concentração.

Monopólio no Brasil

O mesmo não ocorrerá no Brasil, alerta Tony Smith [New York Times, 11/4]. Com a compra da DirecTV, Murdoch passa a ter controle das duas maiores operadoras da América Latina, que representam 95% do mercado brasileiro de TV paga. Embora a DirecTV América Latina tenha declarado que o acordo não significa uma fusão com a Sky, da News Corp, a companhia indicou que não faria oposição a tal arranjo.

O Cade e a Anatel vão analisar a possibilidade de monopolização do mercado, mas analistas acreditam que a baixa audiência da TV paga pode ajudar a companhia a escapar de problemas com a lei. Há um mês, a DirecTV América Latina pediu concordata após perder US$ 202 milhões no ano passado só no Brasil; a Sky regional perdeu US$ 386 milhões. A primeira tem 1,58 milhão de assinantes, e a segunda, 1,6 milhão.

Estima-se que o Brasil tenha 10 milhões de antenas parabólicas instaladas, mas a maioria é usada apenas para melhorar a recepção de canais públicos. "Não é preciso ser um gênio para perceber que não vai ser difícil fazer essas pessoas migrarem para a TV paga", comentou Antonio Rosa, da consultora Dainet. "Mas eles não vão fazer isso cobrando o que estão cobrando agora."

Conhecido pela disposição em influir diretamente na política editorial de seus jornais, Rupert Murdoch, presidente da News Corp, tornou-se ainda mais poderoso com o sucesso da Fox (que roubou a liderança da CNN) e da Weekly Standard, revista conservadora que virou leitura obrigatória na Casa Branca. O império televisivo de Murdoch também está em plena expansão na Índia, China e Itália: Rachel Sanderson [Reuters, 10/4/03] conta que a companhia foi autorizada pela Comissão Européia a comprar o canal de TV paga Telepiu e fundi-lo com a estação Stream. A nova rede deve se chamar Sky Itália e criará um monopólio na TV paga italiana.

Segundo David Kirkpatrick [New York Times, 7/4], Murdoch minimizou seu papel na visão unânime defendida pelos jornais da companhia a favor da guerra no Iraque, alegando não ter tempo para dispensar instruções diárias aos editores. Para os críticos, Murdoch pode ser comparado ao barão da imprensa americana William Randolph Hearst, mas ele diz não se considerar a figura mais poderosa da imprensa: "É lisonjeiro, mas não é verdade. Talvez fosse se eu tentasse impor minhas idéias, mas não faço isso", declarou. Ele alega ter menos poder que os acionistas de jornais prestigiosos como New York Times e Washington Post.

Kirkpatrick cita como exemplo da influência de Murdoch o fato de o Sun, um dos tablóides mais lidos da Inglaterra, ter abandonado a tradicional filiação conservadora para defender a candidatura do trabalhista Tony Blair nas eleições de 1997, apoiado pelo magnata. Outros jornais da News Corp, Times, Sunday Times e News of the World ? que representam 35% do mercado ? fizeram o mesmo.

Do Times e do Sunday Times, no entanto, Murdoch mantém distância maior, em parte devido a acordos com autoridades britânicas. Ele não pode nomear os editores ou ditar editoriais, por exemplo, mas pode entrevistar candidatos, fazer recomendações e aprovar a seleção final.