Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Nirlando Beirão

REALITY SHOWS

"Bambam é básico", copyright Carta Capital, 10/04/02

"Eis que o Oscar foi para o bambam, a besta quadrada. Por favor, não entenda mal: o cara é o animal humano em estado puro, caubói dançarino, energia à flor da pele, gotejando lágrimas pueris e estupidez auto-indulgente. Faz parte, diria ele. Faz parte, sim.

Lá está, instalado no pedestal da fama efêmera, o glorioso paradoxo: o imbecil rotundo tem uma paisagem interior tão rica como a vegetação do Saara, mas olhe quanta riqueza emblemática há naquele Ferdinando Buscapé dos erres arrastados da Alta Mogiana ou, quem sabe, do Midwest americano.

Afinal, era show ou era realidade o reality show dele? Inútil perguntar. Mas salta aos olhos: ingênuo, talvez ele seja; de bobo, não tem nada. Como diria o mundo fashion – básico. É esta a palavra: Bambam é básico.

É por isso que, com cinza na testa, ajoelhado no milho em sinal de arrependimento, flagelado pelos fatos, este colunista humildemente se penitencia. Perdão, Globo. Perdão, Boninho. Perdão, Bial. Vocês venceram. Emissora por assim dizer não auditável, na Globo nunca dá para distinguir o que é do que não é. Mas, nesse caso, quem manipulou as regras do jogo e quebrou a cara foi a concorrência. Silvio Santos morreu na praia dos artistas.

Se, ao final da disputa, 68% do eleitorado do BBB se encantou com o jeca-tatu marombado (índice para fazer a felicidade de qualquer candidato já no primeiro turno), convém escutar o claro recado do voto. Existe mais sutileza e perspicácia entre a tela e o telespectador do que pode imaginar a nossa vã filosofia.

O BBB é o á-bê-cê de nosso universo mitológico. É o patrimônio simbólico da nação canarinho, assim como eram, para os gregos da Antiguidade, as narrativas de Homero e as tragédias de Sófocles. Mero entretenimento de tevê, boboca e sonolento, o BBB é, no entanto, paradoxo e paradigma, metáfora e metonímia. De um elenco subestimado, imerso num cativeiro de blablablás, assoma, de repente, a perfeita antologia dos estereótipos nacionais. É só escolher o seu.

Chega de falar em voyeurismo. Não é nada disso – ou quase nada. Voyeurismo é Playboy na mão ou a vizinha na janela. Voyeurismo você tem na rua. O reality show não é a inutilidade que parecia ser. É na sua vulgaridade que a gente se espelha. Na hora de eleger seu tipo inesquecível, o espectador tem sua sutileza. É tanta gente cantando em inglês e fazendo pose de grã-fino que ressalta, vitorioso, o produto autóctone, o nativo genuíno, o capiau assumido, cujo máximo de sofisticação se exprime por uma certa dança da ondinha, a boneca de estimação e o irreprimível orgulho de ser Bambam.

Não podia ser outro o script. Do funil eliminatório sobrou quem? Há o emissário da neoglobalização que vem desfrutar, com sotaque, mas com gentileza, das riquezas naturais da terra, inclusive do signo da beleza nativa, a mulata sestrosa, porém sem os clássicos pendores anatômicos, criatura quase casta, top model numa passarela destituída de emoção. Ela permanece até o fim, distante, etérea. E, por último, o representante surtado de uma minoria, artista sem papas na língua, condenado, já que minoria, ao espaço periférico do folclore.

Abraços e aplausos engolfam hoje o flintstone do BBB, mas, apagados os spots, é legítimo se interrogar sobre o futuro que o espera. Quatro vezes na linha de tiro – pelotão de fuzilamento, dizia, sem eufemismo, o Pedro Bial -, o bichão foi salvo pela piedade alheia, mas, a bem da verdade, piedade não é o cimento que gruda as duradouras relações humanas. Assim como a Cinderela da fábula, testada pela inveja das filhas da madrasta, o campeão da autenticidade submeteu-se ao rito iniciático da humilhação e foi recompensado. Convém que ele mantenha a cabeça fria e saiba separar, em prol de sua saúde mental, a persona e a pessoa, o palco e a vida.

A graça que as pessoas acham nele é a mesma que se tem pelos calouros de auditório, vitoriosos depois de tripudiados, tripudiados para se tornar vitoriosos. No fundo, no fundo, o tal Kleber é só uma piada popular. De novo: faz parte.

O BBB consagrou o brasileiro-síntese, legítimo produto do nosso sistema educacional, aventureiro sem história, sem emprego, sem teto, sem terra, sem futuro. Em ano de Copa, o carinha até que lembra aquele jeito Felipão de ser. Mas, ano igualmente de eleição, é ao Lula que o aborígene semimilionário – com certeza eleitor do Serra, do Ciro ou da Roseana, nunca do próprio Lula – remete, cativos tanto um quanto o outro entre as paredes emblemáticas da exclusão e da segregação.

Eles lá, nós aqui. Minha filha vai se casar com um doutor. E, diante da urna solene, o eleitor decreta: chega, brincadeira tem hora, imagine só ter um presidente igual a gente."


 

"Globo reduz preço de patrocínios de ?BBB?", copyright Folha de S. Paulo, 8/04/02

"A Globo reduziu em 5% o valor das cotas nacionais de patrocínio de ?Big Brother Brasil?. Pela primeira edição do ?reality show?, cada um dos quatro patrocinadores pagou R$ 4,8 milhões. A segunda versão, que será exibida de maio a julho, custará R$ 4,55 milhões por cota. Com anúncios avulsos, ocorreu o contrário: a tabela teve aumento de 5% a 7%.

As informações estão em plano comercial distribuído a anunciantes na sexta. A redução do valor indica previsão de que ?BBB 2? terá menos audiência do que ?BBB 1?. Além disso, ?BBB 1? foi vendido em pacote que incluía TV Globo, Globo.com, rádios, jornais e revistas, mas só emplacou na Globo, no canal Multishow e na internet. As cotas de ?BBB 2? só incluem TV Globo e Globo.com.

?BBB? continuará tendo eliminações às terças. Só muda durante a Copa do Mundo, quando entrará no ar, de terça a sexta, depois da linha de shows (?Casseta & Planeta?, por exemplo).

A Globo também divulgou ao mercado o plano comercial de ?Operação Talento?, com quatro cotas nacionais de R$ 2,1 milhões cada. O ?reality show? que irá revelar um cantor ou cantora será exibido de 27 de abril a 22 de junho, de segunda a sexta, antes de ?Malhação?, e aos sábados à tarde. Já ?HiperTensão?, ?reality show? de resistência, terá duas cotas nacionais de R$ 750 mil. Serão quatro programas, a partir de 14 de abril, após o ?Fantástico?.

OUTRO CANAL

Voz

Silvio Santos baixou no SBT, na última quarta, soltando fumaça. Deu broncas em várias produções da emissora, que vem perdendo audiência. Depois de quase 20 anos trabalhando com Hebe Camargo, Aurora Prado, diretora-geral do ?Hebe?, foi demitida. O programa, ameaçado por Raul Gil, da Record, será reformulado.

Loira

Começou na semana passada no SBT a pré-produção de uma versão nacional do argentino ?Hola, Susana?, que Silvio Santos testou em 1997 com o ?Alô Crystynah?. Deve estrear em junho.

Marco

O programa ?Multishow em Revista? de quarta (Multishow, 21h45) será uma edição sobre os 30 anos da primeira versão de ?Selva de Pedra?, de Janete Clair, que teria atingido 100% da audiência. ?É uma novela fundamental para a industrialização do gênero?, diz o consultor Mauro Alencar, que participa do programa.

Mandioca

O canal pago TV Cultura e Arte, do Ministério da Cultura, coloca no ar hoje (às 22h) a série de dez episódios ?Mesa Brasileira?. A produção, que envolveu a TV Cultura e a portuguesa RTP, custou R$ 544,5 mil e retrata a cultura culinária brasileira.

Física

Depois de quase dois meses de ?Casa dos Artistas?, o ?filósofo? Ricardo Macchi finalmente atingiu na sexta a página 60 de ?O Universo em uma Casca de Noz?, de Stephen Hawking."

***

"Record descarta produção de ?reality show?", copyright Folha de S. Paulo, 11/04/02

"A Record adiou por tempo indeterminado a decisão de produzir um ?reality show? em parceria com a Columbia, subsidiária do grupo Sony. A direção da emissora descartou o projeto, com o nome provisório de ?Switch?, antes mesmo de fazer prospecções no mercado sobre sua viabilidade financeira, mas avalia que o gênero _explorado por Globo e SBT_ deverá ficar saturado em pouco tempo e o programa só deveria ser produzido após agosto.

A alternativa da Record será a produção de um ?game show?, em parceria com a Columbia. O contrato ainda não foi fechado, mas isso deve ocorrer até o final do mês. A emissora estuda um outro produto oferecido pela Columbia, que não é ?reality show?.

O ?game show?, com os nomes provisórios de ?Decisão Final? e ?Roleta Russa?, lembra um pouco o ?Show do Milhão?, do SBT. ?É um jogo de conhecimento e sorte?, diz Flavia da Matta, diretora da Columbia. Envolve cinco participantes, que respondem a perguntas de conhecimentos gerais e, mesmo acertando, testam a sorte puxando uma alavanca, que pode mantê-los ou eliminá-los do programa. A premiação máxima poderá ser de R$ 1 milhão.

O cenário do programa já está sendo confeccionado. Record e Columbia já procuram apresentador. A estréia poderá ser em agosto, em horário nobre, mas ainda não está definido se serão uma ou duas edições semanais.

OUTRO CANAL

Teia 1

A exibição do filme ?Matrix?, anteontem à noite pelo SBT, deu um banho na Globo no Ibope. Na média das 22h32 à 1h07, o badalado longa-metragem teve média de 29 pontos, contra 13 da Globo, e picos de 35 pontos. Superou o finalzinho do ?Casseta & Planeta? (27 a 26), a reestréia de ?Brava Gente? (31 a 18), o ?Jornal da Globo? (30 a 11) e parte do ?Programa do Jô? (27 a 7).

Teia 2

Matrix acabou alavancando o ?Jornal do SBT?, que superou a Globo por 9 pontos a 6. Antes do filme, o ?Programa do Ratinho? também teve boa audiência (19 pontos). A estréia da novela ?Marisol?, com Bárbara Paz, teve média de 16 pontos, com picos de 20. Manteve a performance das novelas antecessoras no horário.

Estresse

A partir da semana que vem, o ?Programa do Ratinho? será comandado cada dia por um diretor diferente (são três). A decisão foi tomada antes da boa audiência de terça.

Cibernética

A cantora Rita Lee irá participar de forma virtual (pela internet) do programa ?Saia Justa?, mesa-redonda com mulheres que o canal pago GNT estréia na próxima quarta. Isso ocorrerá quando ela estiver em turnês e não puder comparecer ao vivo nos estúdios, em São Paulo. Na estréia, pelo menos, ela vai estar ao vivo. E a economista Elena Landau desistiu de participar da atração, que terá Fernanda Young, Monica Waldvogel e Marisa Orth."