Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Números macabros

ALÉM DAS COTAÇÕES

A.D.

Vamos perder o medo, recuperar a esperança, sentir orgulho, acionar a solidariedade ? o consenso é nacional. Alguns detalhes atrapalham.

No sábado (4/01) os jornalões paulistas, associados e sem o perceber, ofereceram um retrato do caminho que falta percorrer.

No Caderno Cidades, o Estadão registra que nos três dias do ano, feriadão estendido, foram assassinadas 42 pessoas em São Paulo, 25 delas só na capital, o resto nos municípios vizinhos. Um dos mortos foi um policial militar, vítima de latrocínio. Além deles houve 3 chacinas em 3 dias com 3 mortos em Diadema. Total: 45.

No Caderno Cotidiano da Folha informa-se que só no feriado do Ano Novo morreram nas estradas federais 109 pessoas, vítimas de acidentes. Na mesma data, ano anterior, morreram 106. Um acidente em Santa Catarina deixou seis mortos mas não fica claro se estão incluídos naquele total. Somando-se mais dois mortos ocorridos depois do levantamento da Folha (madrugada de sexta e noticiados pelo Estadão, p. C-3) temos 111 vitimas fatais (ou 116 se incluídos os catarinenses).

Somando-se assassinatos e desastres rodoviários temos 161 mortos nas festas do Ano Novo, dia da Confraternização Universal. Os dados do Natal não foram computados.

A brutalidade dos números só encontra paralelo na insensibilidade dos editores: a matéria da Folha, saiu numa pequena nota da seção “Panorâmica” jogada nos confins do jornal (p.C-4), antes do Esporte. A matéria do Estadão foi publicada com algum destaque (manchete da página C-5). O Estadão conseguiu enfiar uma chamada no pé da primeira página (“Violência Marca o Início do Ano em SP), a Folha nem isso.

Vale a pena completar o tétrico balanço das quase duas semanas de festas e alegrias, na quadra mais festiva do ano. Também vale a pena perguntar qual é o papel da imprensa que passa ao largo das tragédias com tamanha displicência.