MÍDIA E CORRUPÇÃO
Chico Bruno (*)
Na última edição de setembro do Observatório [ver remissão abaixo] abordamos a grande chance de a imprensa brasileira desvendar, de uma vez por todas, as promiscuas relações existentes nos legislativos brasileiros entre parlamentares e lobistas.
Chances anteriores foram desperdiçadas durante as comissões parlamentares de inquérito de Collor e dos Anões, com a imprensa se contentando com as renúncias do presidente e de uma meia dúzia de anões. Alguns deles já retornaram aos gabinetes do poder, e o ex-presidente deve voltar ao convívio político em 2003. Da mesma forma se encaminha o futuro de ACM, Jader, Arruda e até, quem sabe, do cassado Luiz Estevão. Todo o esforço de milhares de repórteres, fotógrafos, cinegrafistas, diagramadores e outros profissionais envolvidos nas coberturas dos escândalos envolvendo políticos e empresários desonestos estão indo para o ralo da impunidade. É incrível, mas na CPI do Judiciário nos contentamos apenas com o Fórum paulista. Perdemos a oportunidade de informar que existem espalhados pelo país muitos fóruns paulistas, de Norte a Sul, Leste a Oeste. Basta ler o recém-divulgado, relatório do TCU sobre desvios praticados pela União e numerosos governos estaduais e municipais.
Na última semana de setembro, uma nova oportunidade de passar o Congresso a limpo definitivamente e acabar com a hipocrisia surgiu com as denúncias de extorsão contra empreiteiros a partir da CPI das Obras Inacabadas. Um prato cheio para expor aos leitores e à opinião pública brasileira as mazelas e falcatruas perpetradas a partir do Orçamento Geral da União.
Infelizmente, a imprensa brasileira relega o assunto a plano inferior. Prefere dar mais atenção à especulação da possível filiação do ministro Pedro Malan e ao imoral troca-troca de partidos, nefasta tradição da política brasileira praticada as vésperas de eleições. O caso de extorsão não merece da imprensa a importância que requer. O denunciante, travestido de jornalista, usa o artifício do sigilo da fonte e se nega a informar o nome do empreiteiro extorquido. A imprensa não raciocina. Deixa o assunto correr frouxo. Não indaga. Não pergunta.
O preço do descrédito
Companheiros, o assunto é grave. Merece ser esclarecido. Afinal, são centenas de obras inacabadas que se arrastam pelo país afora. É o nosso dinheiro desviado para o bolso alheio. Servindo para fins escusos, em vez de estar sendo aplicado de maneira correta em programas sociais. Estamos contribuindo para o enriquecimento ilícito de uma parcela podre de políticos e empresários, que desfrutam de boa vida às nossas custas. Estamos privando uma grande parcela da população de sair da linha da miséria com nosso pouco caso para assunto tão grave. Será que não dá para, pelo menos, desconfiar dessa estranha estória? Essa denúncia de extorsão pode ser uma armação, uma forma de desqualificar os integrantes da CPI e nivelar investigadores e investigados. É preciso descobrir a quem interessa o fim da CPI das Obras Inacabadas.
Nesse relacionamento entre parlamentares e empreiteiras está o fio da meada. É por esse fio que se vai chegar, por exemplo, ao caso de Sergipe, onde indícios apontam para uma relação de promiscuidade entre o governo sergipano e uma construtora. É por esse fio que se pode entender o caso do Banco do Estado do Ceará. É preciso, a partir dessa oportunidade, entender que tudo começa com as emendas ao Orçamento Geral da União. É por aí, companheiros, que iremos desfiar o novelo da corrupção do país. Ou os companheiros já esqueceram que foi assim que se desvendou o esquema de construção interminável do Fórum trabalhista paulista, que infelizmente só conseguiu, até agora, manter na cadeia um envolvido?
A imprensa precisa querer mais. Está na hora de parar de se contentar com poucos resultados para tanto esforço. Que nos desculpe o Zé Trajano, mas a imprensa brasileira está que nem o nosso Ameriquinha carioca, morre sempre na praia. A corrupção está hoje para o Brasil como o terrorismo está para os Estados Unidos, é prioridade zero. E a imprensa é quem pode e deve derrotar a corrupção. Caso contrário, pagará o alto preço do descrédito. Vamos acordar esse imenso gigante adormecido. Não dá mais para a imprensa segurar, explode corrupção.
(*) Jornalista
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