Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Não gostou? Está demitido

HONG KONG

O principal diário em língua inglesa de Hong Kong, South China Morning Post, despediu o jornalista Jasper Becker, 45 anos, semanas após ter reclamado aos editores que a cobertura era restrita e não ousava abordar temas delicados, como Aids, Tibete e protestos trabalhistas. Swee Lynn Chong, porta-voz do Post, alega que Becker ? chefe da redação de Pequim ? foi demitido por "insubordinação, recusando-se a trabalhar sob ordens do editor".

Segundo Philip P. Pan [The Washington Post, 1/5/02], o jornal não faz segredo da ambição de crescer publicando em chinês e lançando um veículo na China continental, empreendimento que requer aprovação de Pequim. Embora Hong Kong tenha uma dúzia de jornais e seis emissoras de rádio e TV, todos independentes do governo (promessa de autonomia feita na época da reintegração), cresce o medo da autocensura.

"É muito preocupante", concorda Cliff Bale, do comitê da Associação de Jornalistas de Hong Kong. "Vemos jornalistas críticos se demitindo, sendo expulsos ou despedidos. Em muitas questões, a mídia de Hong Kong permanece livre. Mas em tópicos mais sensíveis para a China ? Taiwan, Tibet, dissidentes, funcionamento interno do Partido Comunista ? acho que há uma tendência de agir com cautela."

Jornalistas detidos

O grupo Repórteres sem Fronteiras enviou carta ao governo de Hong Kong reclamando da detenção de quatro jornalistas que cobriam um protesto em praça pública. Segundo relatos, dois fotógrafos (um do South China Morning Post), um câmera e um jornalista foram tirados do lugar à força por policiais e algemados.

O evento ocorreu uma semana depois que o ativista de direitos humanos Harry Wu, hoje vivendo nos EUA, foi deportado. "Métodos como este, que tinham desaparecido no começo dos anos 80, nos fazem acreditar que a cobertura jornalística de certos assuntos delicados em Hong Kong está comprometida", disse o secretário-geral da RSF, Robert Menard. Informações da Agence France-Presse (27/4/02).

IRÃ

Acusado de fazer propaganda contra o Estado e insultar funcionários do governo, o jornalista Ahmad Zeid-Abadi foi condenado a 23 meses de prisão pela Justiça do Irã. Ele já havia ficado sete meses na cadeia, dois anos atrás, sendo liberado mediante fiança.

A decisão é surpresa devido à abertura que ocorre no país há alguns meses. Foram libertados mais de 60 dissidentes acusados de "subversão". O líder de oposição Ebrahim Yazdi voltou ao Irã e não foi preso. Chegou-se a pensar que a linha-dura religiosa tinha mudado de postura com relação aos militantes liberais. Com a condenação da Zeid-Abadi, o ânimo dos reformistas voltou a diminuir.

Contudo, este pode ser um caso particular. As autoridades iranianas ficaram especialmente insatisfeitas com a iniciativa do jornalista de criticar os homens-bomba palestinos. Segundo Sadeq Saba [BBC, 29/4/02], é possível que a corte de apelação seja mais condescendente.

A política do Irã com seus dissidentes ficará mais clara quando os outros liberais que aguardam julgamento tiverem suas sentenças. Observadores apontam que o caso de Zeid-Abadi pode demonstrar que há um racha entre os conservadores, e que a linha-dura extremista tenta levar adiante sua ofensiva contra o reformismo.