LEITURAS DE VEJA
Chico Bruno (*)
Depois da desistência da candidatura Roseana Sarney a pré-campanha presidencial andava morna. A imprensa se esforçava na tentativa de oferecer ao público um cardápio mais apimentado e explosivo. Mas o máximo que conseguia era divulgar fofocas, pesquisas, declarações estapafúrdias de pré-candidatos e rixas entre caciques de vários partidos.
No fim de semana, duas bombas explodiram. Uma no ninho tucano e outra no ninho socialista. A revista Veja, revivendo um hábito, publica matéria sem consistência em direção ao ninho tucano. A matéria, que versa sobre a suspeita de não-pagamento de uma propina de 15 milhões (de reais ou dólares) está eivada de declarações do tipo "fulano me disse que estava sendo chantageado", "não sei se pago a propina que sicrano está me cobrando", "não vou fazer comentários a respeito desse assunto" e vai por aí. Os personagens que contam a história são um ministro, um ex-ministro, o empresário corruptor e o corrompido. A matéria abre lembrando que no inicio de 2001 o ex-senador ACM denunciou caso semelhante envolvendo o mesmo personagem corrompido e uma empresa de telefonia fixa, mas ressalva que a acusação não foi comprovada até o momento, já passado mais de um ano.
A serviço de alguém
A matéria desce à minúcia de lembrar que o corrompido foi arrecadador de fundos para campanhas de candidatos tucanos e que trabalhou em seguida, durante três anos, no governo federal. A partir daí, pela evolução patrimonial do acusado, induz o leitor a deduzir que houve um crescimento de patrimônio fora dos padrões para um servidor público, numa clara intenção de botar lenha na fogueira do tucanato.
O restante da imprensa brasileira pega carona na Veja e segue pelo mesmo caminho, no limite da irresponsabilidade. Não se está aqui defendendo o suspeito de corrupção, está-se é pedindo um mínimo de seriedade no exercício do jornalismo, pois essa matéria reúne todos os ingredientes de mais uma leviandade. Não tem consistência, pois não traz provas. Deixa apenas a suspeita de que serve ao interesse de terceiros e de que, pelo sensacionalismo, quer aumentar a venda nas bancas.
Época traz matéria mostrando o passado escuro de quem serviu ao regime militar e hoje posa de socialista, sendo inclusive o provável vice na chapa do pré-candidato dos socialistas. A revista presta um inestimável serviço, principalmente aos leitores mais jovens, ao contar um pouco do passado de quem se tinha poucas informações. Infelizmente, o restante da imprensa explorou pouco o assunto. Preferiu a bomba inconsistente da Veja ao relato da história, ainda obscura, do regime militar brasileiro, o que dificulta aos mais jovens saber quem era quem nos duros anos de exceção.
Mais uma vez, ao que parece, a imprensa está a serviço de alguém ? e no limite da irresponsabilidade.
(*) Jornalista