FOFOCAS DE CAMPANHA
Chico Bruno (*)
O lobista APS dorme tranqüilo. Roseana e Murad namoram, como se nada tivesse acontecido na Praia do Calhau. ACM, Jader e Collor se preparam para voltar ao Senado. Chico Lopes passeia pelo calçadão da Avenida Atlântica. Cacciola curte as delícias de Roma. Ângelo Calmon de Sá pesca marlins azuis em Abrolhos. José Roberto Arruda se prepara para voltar à política. Luiz Estêvão se diverte com o seu brilhante Brasiliense. Os irmãos Alencar tocam suas vidas. João Claudino curte sua Parnaíba sem medo de ser feliz. Garotinho toca sua campanha. José Priante continua deputado federal. Teotônio Vilela e Geraldo Lessa se lixam para o FAT e bebericam pelos bares de Maceió. João Alves flerta pelos bares da Savassi, em BH. Genebaldo Corrêa é prefeito da terra de Dona Canô. Ricardo Fiúza passeia lépido e fagueiro pelos corredores da Câmara Federal.
Esses aí do andar de cima tiveram seus nomes envolvidos em algum escândalo, segundo a grande imprensa brasileira. Hoje, banidos do noticiário, descansam em paz.
Há novos atores em novos filmes de corrupção, propinagem e gatunagem. É sempre assim, o novo escândalo varre para debaixo do tapete os escândalos anteriores. Tem gente que credita isso à competição na imprensa. Tem gente que credita isso ao uso da imprensa no serviço escuso de terceiros.
O certo é que a imprensa começa, mas não consegue chegar ao fim. Fica sempre a sensação de meio caminho andado, e a cada dia aumenta no leitor ou no espectador a certeza da impunidade. O tiro da imprensa nunca é mortal, sempre passa de raspão. O que cria um sentimento de incredibilidade. Essa falta de consistência para os mais atentos corrobora a tese de que a imprensa, em alguns casos, está a serviço de terceiros com interesses escusos.
Duda e Biondi
Agora mesmo tem-se essa sensação quanto às denúncias envolvendo Ricardo Sérgio e sua turma, que aliás é a mesma de Murad, de Daniel Dantas, da CNO e do ACM. As três revistas semanais mais importantes da imprensa brasileira continuam omitindo nomes. Publicam declarações gravíssimas sem identificação dos autores. É um mero disse-me-disse.
Isso é muito comum em Brasília. A Folha de S.Paulo de domingo, dia 12, por exemplo, afirma que Fernando Henrique está “soturno, preocupado e abatido”, segundo declarações de pessoas que estiveram com o presidente no decorrer da semana. A imprensa infelizmente vive, hoje em dia, de suposições. Isso é grave.
Outra tática é distorcer um fato ao noticiá-lo. O Globo de domingo noticia que Tasso Jereissati recusou a proposta de fazer parte do comando da campanha de Serra, e afirma que a recusa gera um novo problema para o candidato tucano. Se ninguém disse isso ao repórter, depreende-se que é uma especulação sua. E aí alguém pode perguntar: com que finalidade? Esse é o retrato da imprensa.
E tem mais. O JB publica numa coluna o seguinte: “O dossiê ligando interesses de José Serra a Ricardo Sérgio Oliveira, publicado na Folha de S.Paulo, foi produzido pelo Banco Opportunity. E entregue ao procurador Luís Francisco por um senador do PT. Mais precisamente, Tião Viana, do Acre.” Essa notinha demonstra que estão usando e abusando da imprensa para atingir interesses escusos. Afinal, o banco não está fazendo isso de graça, tem angu debaixo dessa carne, como diz o ditado popular. O banco e seu controlador Daniel Dantas, afilhado de ACM, com certeza não fazem parte da cruzada para banir o propinoduto da vida brasileira.
Outro fator que talvez passe despercebido: numa mesma semana foram ao ar dois programas eleitorais, um de Serra e outro de Lula. O primeiro não foi sequer citado pela imprensa: foi literalmente desprezado. Já o segundo ocupou fartamente o noticiário. Ambos traziam em suas primeiras partes um “essa é minha vida”. O de Serra, pragmático, sem procurar comprar o eleitor pela emoção. O de Lula, ao contrário, com alta dose de emoção. Os dois sem nenhum conteúdo prático para que o eleitor enxergue diferenças. Como bem disse um leitor de Fritz Utzeri, do JB: “Algum estrangeiro pode até achar que todos são do mesmo partido”, referindo-se aos discursos dos candidatos com mais de 5% nas pesquisas ? que pode ser usado, também, para os programas eleitorais de TV.
À espera do release
Fritz Utzeri escreve em sua coluna dominical: “…O eleitor acaba convencido a tomar uma decisão vital para o futuro movido não por idéias, propostas, anseios ou interesses, mas simplesmente porque gostou do filme.” Essa é uma questão que precisa ser tratada pela imprensa. A comparação entre um e outro é importante. A imprensa não pode se furtar a isso, principalmente depois de 1989, quando Collor, carregado de emoção e sem propostas, elegeu-se presidente e acabou dando no que deu.
É vero que o publicitário Duda Mendonça, da campanha de Lula, joga mais para a platéia do que Nelson Biondi, da campanha de Serra. Duda tem por trás de si uma bem azeitada máquina de promoção pessoal, basta ver que o programa teve sessão privada para convidados selecionados antes de ir ao ar, e toda a gravação foi acompanhada pela imprensa. Biondi é mais low profile, como, aliás, o é a maioria dos marqueteiros que trabalham para centenas de candidatos majoritários por todo o país. Não é a toa que estão chamando Lula de Dula, pois ele é mestre na arte de mudar o perfil dos candidatos, vide Paulo Maluf.
A imprensa precisa encontrar o caminho correto da cobertura das eleições de outubro, pois está deitada em berço esplêndido, esperando que algum político lhe leve um dossiê ou um “release”.
(*) Jornalista
Leia também