Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Não quebro mais minha TV

OI NA TV

Marcelo Ricardo Fiori (*)

Minha TV 20 polegadas, comprada ao custo de seis meses de suor de entrega de jornal na época em que a URV dava lugar ao real, não é a mesma. Nos últimos anos, à medida em que eu ia me livrando das amarras da ignorância, mais odiava o meu aparelhinho de TV, o primeiro bem que adquiri com os trocados que recebia para "espalhar jornal", como dizia o porteiro de uma empresa que aguardava ansioso eu surgir pela madrugada com minha bicicleta.

O conteúdo hoje exibido pela cinqüentenária TV brasileira é mediocrizante ? um pouco porque faltam opções no controle remoto, outro tanto porque os programas têm audiência, apesar de ruins. Não foram poucas as vezes que esbocei espatifar minha TV no chão, mas julguei prudente não fazê-lo para não acabar com o principal entretenimento de minha mãe. Além disso, também a utilizo para reproduzir meus vídeos ? o que mais gosto é Sociedade dos poetas mortos, especificamente a cena em que Mr. Keating, ao som da 9? Sinfonia de Beethoven, é lançado ao ar pelos alunos. Também tenho uns capítulos da série Os maias, os quais considero fascinantes.

Sensação singular

Há alguns meses, meu ódio em relação à televisão sofreu uma recaída. Provocaçccedil;ões, programa apresentado pelo irrequieto Antônio Abujamra, surgiu em minha vida num domingo, quando eu zapeava já com sono. Foi amor à primeira vista. O que diziam Abu e seus convidados surtiu em mim o efeito de um abalo sísmico. Não demorei muito a descobrir que havia Abu também às terças-feiras. A partir de então, meus mais importantes compromissos eram às 23h30 de domingos e terças ? sempre para telespectar Provocações. Semanas depois, o baixinho careca sumiu do domingo. Escrevi à TV Cultura, mas ninguém me retornou. Tudo bem, bastava-me a terça.

E foi ao final de uma terça, já início da madrugada de quarta, que me deparei com a figura de um simpático jornalista. Quem diria! Tratava-se da personificação do autor dos textos que tanto adoro… refiro-me ao observador-mor, Alberto Dines. Tentei enganar o sono durante semanas para assistir ao Observatório da Imprensa na tela da TV, mas meu relógio biológico sempre venceu. Desisti.

Hoje, porém, estou ? como diriam os tradicionalistas aqui dos pampas ? mais faceiro do que gordo de camisa nova. Na semana que passou, duas fantásticas notícias televisivas evitaram que minha TV fosse sepultada. A TVE aqui do Rio Grande está a passar por alterações na grade de programação. Resultado disso é a volta do Observatório da Imprensa ao vivo, às 22h30 das terças-feiras. Doravante não perco um. Com a mudança, no entanto, Abu acabou empurrado para o dia seguinte. Não interessa. Continuo sendo um dos seus 15 telespectadores.

E isso não é tudo. Na mesma semana, no mesmo dia, veio a segunda fantástica notícia: TV Unisinos entra em canal aberto no dia 31 de julho. Ah, agora sim, o tubo de imagem tem por que esquentar. A emissora promete trazer uma programação interessante, direcionada ao Vale do Sinos, região onde resido. Quando vi Alexandre Kieling ? ocupante do pomposo cargo de diretor do Complexo de Teledifusão e Tecnologia Educacional da Unisinos ? falar sobre Desatando nós brilharam meus olhos. "É um programa que vai tensionar, provocar", comentou ele, em legítima provocação. Kieling mencionou que "pitadas de erudição" caracterizarão Desatando nós. Imagino que entrevistados e entrevistadores engalfinhar-se-ão. Não à moda Ratinho, mas na defesa de pontos de vista inquietantes.

Singular a sensação que hoje sinto. Torço para que não seja efêmera.

(*) Estudante de Jornalismo da Unisinos